segunda-feira, 30 de abril de 2007

Álbum de Fotografias





Álbum de Fotografias
Autoria Desconhecida

Álbum de Fotografias

Este álbum de fotografias está na minha posse desde que a minha tia Julieta mo ofereceu.
Não sei como foi parar à posse da minha tia, nem quero saber.
Não sei a identidade de quem o fez, nem quero saber. Chega-me o que sei.
Sei que foi uma mulher que o fez, pela fotografia mais desbotada (curiosamente) de todo o álbum.
Sei que foi uma mulher apaixonada, terna, sensível e delicada que o dedicou ao seu amado.
"Mille choses aimables, de l`expéditeur aimant, au destinataire aimé!"
Sei que foram gastas horas e horas a organizar as pequeninas fotografias de uma viagem à Suíça e a Itália, e que foram gastas horas e horas a decorar, manualmente, este álbum, testemunho de amor e de paciência.
Sei que foi uma prenda de Natal, curiosamente do Natal de 1913.
Quatro longos anos se seguiriam em que a Europa esteve mergulhada na morte e na destruição.
Mas este álbum é ainda testemunho de tempos prazenteiros, descontraídos, de esperança, felizes.
É ainda o testemunho da bonança que antecede a tormenta.

domingo, 29 de abril de 2007

Recriação da Feira Mensal de Santa Maria (1391)

Árabes - Feira Medieval - Amarante
Recriação da Feira Mensal de Santa Maria (1391)

A recriação desta feira partiu de uma proposta do grupo de História da E. B. 2/3 de Amarante ao qual me orgulho de ter pertencido.
A proposta integrou o Plano Anual de Actividades da Escola E. B. 2/3 de Amarante, para o ano lectivo de 2002/2003. A ideia alastrou ao agrupamento mas a alma deste projecto permaneceu no nosso grupo.
Aqui chegados devo dizer que perdi a conta ao número de reuniões de grupo que realizámos para pesquisarmos e coordenarmos o projecto. E o projecto foi ambicioso. Recriámos a Feira no Centro Histórico de Amarante, correndo o risco de falhar, em público, e conscientes de que se alguma coisa corresse mal não faltariam as bocas e os deita-abaixo do costume!
Devo dizer que perdi a conta ao número de horas passadas quer na escola, quer em casa, com sacrifício de horas e mais horas para além das horas do horário atribuído, com sacrifício de fins-de-semana e até das nossas próprias famílias...estou a ouvir a Joana "Não sei porque não levas um colchão para a escola?!"
Sob minha responsabilidade ficaram os árabes (sim, nem sempre andámos à porra e à massa com eles e as relações económicas sobrepuseram-se muitas vezes aos diferendos religiosos) e tudo o que lhes dizia respeito: tenda árabe, adereços para a tenda e para os alunos, vestuário, calçado, especiarias para venda...
Sob minha responsabilidade ficou a tarefa de vestir e caracterizar cerca de 25 figurantes árabes, em minha casa, depois de uma noite passada no Largo de S. Gonçalo, juntamente com alguns colegas e funcionários da Escola, para que tudo estivesse a postos e pronto pela manhã.

A feira foi realizada no dia 14 de Junho de 2003, no Largo de S. Gonçalo, Ponte Velha e 1º Claustro da Igreja de S. Gonçalo, debaixo de um calor de esborrachar. Com êxito! Com muito suor e risos...às vezes de desespero!!!
Foi uma canseira mas foi igualmente um gozo de escola!!
Relembro as vossas carinhas felizes e entusiasmadas..a escola desceu à rua!!

Aos meus queridos alunos Tiago Silva, Sara Cerqueira, Cláudia Silva, Diana Sousa, Helder Teixeira, Ricardo Rodrigues, Moisés Ribeiro, Ana Pereira, Eva Oliveira, Flávio Azevedo, Luís Pereira, Ana Moreira, Carina Medeiros, Dolores Mota, Joana Moreira, Patrícia Silva, Sérgio Costa, Bruno Cerqueira, Ana Vieira, Hugo Oliveira, Cláudia Pereira, Sara Dias, Liliana Brás, Óscar e Carla Daniela.


Obrigada por um dia inesquecível, numa Escola viva!
Tenho saudades deste esforço, desta libertação de adrenalina, numa Escola suada, suada, que foi capaz de se unir em torno de um projecto que foi de todos!

sábado, 28 de abril de 2007

Aventura na Cozinha II

Aventura na Cozinha II

Hoje fui surpreendida pela minha sogra. Pois não foi que me disse que eu faço as melhores batatas cozidas do mundo!!!?
Estou sem palavras.
A Joana ainda mandou a boca a explicar que o segredo devia estar na água da torneira que eu lhes junto!!! Tinha que me estragar este momento único de glória culinária!
De qualquer modo estou sem palavras.
Obrigada sogra minha!!

Postagem 101 - Dedicatória


A Bela - Amarante
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Postagem 101 - Dedicatória

Tenho andado a pensar a quem dedicar este blogue de trabalhos tão dispersos como "Eu e a Rapaziada", "Carteirinhas Florais", ou "Figueira 23", e tomei finalmente a decisão de o dedicar à minha filha J. Nunca farei nada, na vida que ainda me resta, que se assemelhe à J. É consequência de um projecto de vida comum, escolhido livre e responsavelmente. É um ser único e irrepetível, a quem foram concedidos todas as horas de atenção, de amor, de carinho, de compreensão, de tranquilidade, de brincadeira, de diversão, de encantamento, de descoberta de nós e dos outros, de descoberta das nossas circunstâncias e das circunstâncias dos outros e a quem também foram concedidos alguns nãos, os nãos necessários para que pudesse crescer de forma harmoniosa e saudável. E cresceu. Mas a aprendizagem, a descoberta e a humanização continuam todos os dias, até ao fim dos nossos dias.
Dedico-lhe por inteiro este blogue... o design escolhido, a selecção de fotografias, cada palavra, cada vírgula que compõem cada texto.
E quero recordar uma coisa... a minha mãe dizia-me muitas vezes "Tens uma filha excepcional"!
E quero recordar outra coisa... o sorriso deleitado da minha mãe, deitada na cama, de olhos cerrados, a gozar os melhores beijinhos do mundo, os beijinhos da J!

Este blogue é para ti, J. Chora e ri com ele. Acima de tudo ri, como fizemos as duas ao lermos juntas o post "Aventura na Cozinha"!
"Como é que consegues ser assim, mãe?"
"E tu, J., como é que consegues ser assim?"

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Praia


Praia de S. Filipe - Ilha do Fogo - Cabo Verde
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Praia

Adoro praia. Adoro caminhar lentamente pela praia molhando os pés. E se a praia estiver deserta e silenciosa tanto melhor.
O ruído é um dos males da nossa civilização e é cada vez mais insuportável. Para nós, professores, o silêncio, depois do ruído da escola, depois do ruído dos alunos, é uma necessidade, diria até uma urgência, para recuperar a energia e a paciência já gastas.
A fotografia que ilustra este "post" foi tirada num dia feliz, na capital da ilha do Fogo, S. Filipe. Estávamos cá em cima, na cidade, debruçados sobre a praia, quando nos deparámos com este barco fantástico em contraste com uma praia completamente negra. Descemos e passeámos pela praia mais incrível que vi até hoje. Uma praia silenciosa de gente, o que vai sendo cada vez mais difícil de encontrar neste nosso mundo caótico e infernal. A areia preta retinta está misturada com uns pequenos grãos que, sob acção do sol, reflectem e brilham parecendo minúsculas pepitas de ouro. Na praia só estávamos nós e os pescadores, e ouvíamos o barulho dos nossos passos sobre a água, e ouvíamos a brisa suave e leve, e ouvíamos o barulho das ondas que morriam na praia estranha e exótica. Incrível e só possível porque estávamos numa ilha que é toda ela um vulcão, e que tem um nome lindo de morrer... Fogo!

Home - Erg Chebbi - Marrocos
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Home

E agora a minha retribuição de mãe e tia atenta.
Trata-se da iniciação ao deserto da Verinha. A Joana fez a dela aí pelos 7 ou 8 anos de idade e felizarda! E sortuda! Já teve oportunidade de regressar a casa muitas vezes!
A Verinha perdeu completamente a cabeça, e era vê-la a rebolar-se pelas dunas abaixo qual croquete sobre pão ralado!!!
E ficou apetecível!!!
Comungar com o deserto é uma bênção!

Home


Home - Erg Chebbi - Marrocos
Fotografia de Joana Matias de Magalhães

Home

E depois de me evadir para o Fogo, eis que regresso a casa, desta vez através do olhar da Joana que fez este instantâneo. Os escorpiões azuis no seu habitat natural....ah, curvas do deserto, ah, ondulação... deserto escaldante aqui estou eu.

Nota - E aqui fica o registo da estreia da Joana como fotógrafa no meu blogue!!!

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Aventuras na Cozinha I


Peixinhos - Full Moon - Maldivas
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Aventuras na Cozinha I

Cá em casa, por norma, o peixe é cozinhado ao almoço. Para o jantar pode ficar um peixe estufado, já pronto, ou um peixe para cozer que é só meter em água a ferver... jamais fica peixe para fritar.

Um dia aconteceu algo de extraordinário e a minha fadinha do lar trocou-me as voltas às normas. Para o jantar deixou-me uns carapauzinhos maravilhosos que eu teria de fritar.
Apesar do excelente aspecto, devo confessar que olhei para eles de lado e desconfiada, e pressenti que a coisa não ia correr muito bem.
Aproximava-se a hora do jantar e toca a atacar os carapauzinhos e toca de os introduzir no óleo quente. Os carapauzinhos não levaram muito tempo a desintegrarem-se em mil bocados. Cada peixinho procriou ali mesmo à minha frente, dentro da sertã, em dezenas de carapauzinhos disformes!!!
Pensei o que teria feito de errado e, sem saber o quê, pensei "É o meu olhar... os peixinhos não aguentaram..."
A Joana veio ver o que se passava e saber a razão dos meus risos na cozinha. Tivemos ataques duplos de riso a olhar para os ditos.
Levava eu os peixinhos para a mesa quando chegou o Artur que ficou com um ar intrigado a olhar para a travessa. Tivemos ataques triplos de riso... acho que nunca nenhum de nós vira uns carapauzinhos com um aspecto tão nojento e esquisito, todos, todos esbodegados.
Discutimos o que teria acontecido.
"Vês que eu não posso fazer estas coisas?! Corre sempre alguma coisa mal!!"
"Por favor mãe, haverá coisa mais simples do que fritar uns carapaus?!"

No dia seguinte falei com a minha fadinha do lar...
"Lembrou-se de os passar em farinha?"
Tchiiiiiiii, pois esquecera-me completamente da farinha...

De facto, eu e a cozinha temos um problema de incompatibilidade que já se tornou crónico, mas que espero conseguir resolver um dia destes... para grande alegria da minha filha Joana.

É como eu te digo Joana, espera porque eu ainda vou ser uma mãe normal... só não sei é quando...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Francisco

Francisco

Hoje fomos brindados por mais um nascimento na família. Para grande alívio da mãe super grávida Cláudia Montenegro, o seu Francisco nasceu, por volta da 1h da manhã, de parto normal.

"Uf, que alívio!!! Uf...já não aguentava mais!!!"

Lá fizemos uma romaria para o hospital Padre Américo, em Penafiel, e deparamo-nos com um Francisco bem desperto, de olhos bem abertos, tranquilo, fofinho, comilão e muito bonito.
Aproveitei para lhe mudar a fralda e sei agora que ainda não perdi o jeito. Registei a evolução...nada de fraldas de pano, alfinetes de dama ou cueiros de plástico...agora tudo se resume a uma fraldinha minúscula que se troca em três tempos!

O filho do Miguel e da Cláudia já nasceu e por agora só falta o filho do João e da Mónica...

Arre que esta Matiagem não pára de se reproduzir!!!!
Conseguiram transformar-me em "Tia" pela milésima vez!!! (Estou a exagerar!)

P.S Aguardo uma fotografia para poder postar a beleza do Francisco no meu Blogue.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Vulcões


Pico do Fogo e Pico 2 de Abril - Ilha do Fogo - Cabo Verde
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Fogo - Ilha do Fogo - Cabo Verde
Fotografia de Artur Matias de Magalhães
Pico do Fogo e Pico 2 de Abril - Ilha do Fogo - Cabo Verde
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Vulcões

Os vulcões são outra paixão da minha vida que me acompanha desde que me lembro de ver as suas erupções nos noticiários televisivos. Desde pequena que vibro com imagens de erupções violentas, em que as entranhas da terra vomitam rios incandescentes cor de sangue, e fico como que hipnotizada a ver as correntes vermelhas que arrasam tudo à sua passagem. E também fico hipnotizada ao ver as erupções piroclásticas em que nuvens densas se deslocam a velocidades vertiginosas, e tudo abraçam, num abraço escaldante de morte. Não perco a oportunidade de ver atentamente todos os documentários que passam na televisão sobre vulcões e não perco a oportunidade de os visitar e se possível entrar dentro deles. Foi o que aconteceu nas férias em que fui a Cabo Verde. A J ficou a estudar, o Sahel em casa do Helder C, e eu e o A mandamo-nos para a ilha do Sal, de mochilinha às costas para não apanharmos secas monumentais nos aeroportos à espera das bagagens. (Infelizmente, parece que esta forma de viajar se extinguiu, com as novas formas de segurança implementadas nos aeroportos devido aos ataques terroristas.)

As praias do Sal são espectaculares, com ondas altas num mar sem correntes e seguro, e a ilha não lhe fica atrás, árida, árida, num verdadeiro prolongamento do deserto do Sahara. Quais saltitões, saltitámos para a ilha de Santiago e depois para a tão ansiada ilha do Fogo. Ficámos alojados na Pensão Las Vegas, que eu rebaptizei de Pensão Estrelinha, último grito em pensões manhosas, mas o melhor que se pode arranjar em S. Filipe, a cidade colonial mais bonita de todo o arquipélago. A ilha é quase toda preta das escorrências das lavas que formam cordões estranhos e paisagens apaixonantes, porque excessivas na forma e na cor. E lá nos dirigimos ao interior do vulcão, à caldeira de vários quilómetros de diâmetro, e entrámos nela para a gozarmos na sua plenitude.
A paisagem é de cortar a respiração. O vulcão Pico do Fogo ergue-se a 2829 metros de altitude e lá está o cone lateral chamado Pico 2 de Abril, que surgiu aquando da última erupção de 2 de Abril de 1995, que eu acompanhei fascinada pela televisão. Este novo cone surgiu da base da enorme cratera que hoje em dia constitui o Parque Natural do Fogo e convém lembrar que, quando estamos dentro da cratera, estamos dentro de um monstro vivo e em actividade.
Nada melhor que a sensação de perigo controlado para libertar doses boas boas de adrenalina.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Rafting


http://www.clubedopaiva.com/

Domingo - Parte I - Perdidos em Cucujães

Combinámos com o Helder Colmonero estar às 8 e 30 em frente a casa dele e desta vez cumprimos. Mesmo os atrasados crónicos estiveram a horas. E lá fomos seguindo o Helder por Gaia, arrabaldes de Espinho, arrabaldes de Stª Maria da Feira, e eis que nos perdemos numa terra chamada Cucujães... Uma terra chamada Cucujães não anuncia nada de bom e, de facto, está na continuidade dos arrabaldes de qualquer terra deste país, seja Amarante ou Vila Franca de Xira, ou seja, é uma espécie de espectáculo deprimente de "urbanismo português" onde o mau gosto e a pimbalhada imperam. Há de tudo, desde leões, dragões, águias, bolas de futebol...e tudo o mais que os portugueses se lembram, a ladear os portões das entradas. Depois há os jardins com cestas floridas nas rampas, casais de patos com as suas crias e até a Branca de Neve e os Sete Anões!... e depois as casas, cada uma a mostrar que é melhor do que a do vizinho! E ali estávamos nós, perdidos em Cucujães à custa do menino Helder, que, habituado a viajar na sua potente mota BMW, com GPS, sabe lá o caminho para Arouca!!! A mota só sabe o caminho para a Líbia ou para Moçambique, ou para qualquer outro destino mais complexo!!! Nós só nos ríamos. Encostámos para o Helder examinar o mapa. A Paula Coutinho deita as mãos à cabeça e ri-se. Surge o Renato às gargalhadas "É o que dá pôr o pessoal de arquitectura e de letras a organizar isto!!" A partir dali resolveram perguntar a cada pessoa que encontravam à beira da estrada... e, finalmente, lá acertámos a rota... diretinhos a caminho de Alvarenga!

Domingo - Parte II - A Máquina de Lavar

Depois de dois briefings, e já equipados com fatos, capacetes e coletes, lá entrámos no Paiva para um primeiro contacto com a água, que por sinal estava excelente devido ao sol radioso com que fomos brindados logo pela manhã. E toca de atacar o Paiva. O rio Paiva tem características únicas para a prática de rafting e de canoagem. A um rápido segue-se sempre uma piscina, nome para as águas tranquilas que se sucedem sempre às águas turbulentas do rio. E é um rio muito encaixado com encostas muito íngremes cobertas de vegetação, bem bonito de se ver.

Relembrei o cheiro do meu rio, o Tâmega, onde todos nós passámos a meninice e a adolescência, e onde todos nós aprendemos a nadar. Já não entrava nas águas de um rio há muitos, muitos anos, e deu para aplacar saudades do cheiro, dos rápidos, que também descíamos em miúdos, a nado e sem qualquer protecção, ou no barco de borracha do Zé Mário e do Castelo Branco.

Seguimos o troço do Paiva em que se disputam provas para o Campeonato da Europa e, como eles, também não fizemos um rápido de grau 6, extremamente perigoso. De resto fizemos os rápidos todos, até um rápido de grau 5 em que as embarcações desapareciam repentinamente à nossa frente! E nós atrás delas. Um espectáculo! E saltámos de uma pedra de 4 metros para as águas turbulentas do rio. Deu para matar saudades dos saltos e mergulhos do Penedo Grande, na Praia Aurora, agora em versão mais radical já que a entrada na água se fazia no meio de muita espuma branca resultante da oxigenação da água!!!
No penúltimo rápido fomos brindados com um extra. Depois de o transpormos, encostámos os barcos à margem e voltámos para trás, agora para o atacarmos dentro de água. O rápido tinha duas versões, a mais soft e a mais radical e nós podíamos optar por qualquer uma delas. Quase toda a gente (ah, destemidos!) optou pela radical e foi esta descida que me pôs com a sensação de ter saído de uma máquina de lavar roupa! Fizemos a primeira parte do rápido pela esquerda e na segunda parte atacámos as águas revoltas à direita. E fomos sugados pelo turbilhão... e desaparecemos andando às voltas debaixo de água até aparecermos bem mais abaixo, em águas rápidas, mas bem menos tumultuosas. Foi este senhor que deu cabo de mim. Fiquei exausta e com a sensação de ter estado dentro da tal máquina de lavar roupa às voltas e mais voltas!
Devo acrescentar que a descida demorou cerca de quatro horas para fazer 4 Km pois sempre que o barco encalha é preciso desencalhá-lo, é preciso caminhar nas margens enquanto as embarcações se precipitam no tal rápido de grau 6 e apanhar os barcos na piscina seguinte, e é preciso remar e remar nos rápidos, para os fazermos em segurança, sempre a evitar esta ou aquela pedra.

E devo informar os meus leitores que o pessoal do Clube do Paiva (hiperligação acima transcrita) é muito competente (obrigada Rafa, obrigada Mané!), e que fizemos tudo dentro da maior segurança... e que às 5 da tarde estávamos a atacar uns bem merecidos e maravilhosos bifes de carne Arouquesa que caíram que nem ginjas!
Foi um Domingo excelentemente passado de convívio saudável entre amigos.
Para repetir, ainda com mais água!

domingo, 22 de abril de 2007

Rafting



Rafting

Hoje só tenho forças para escrever isto:

Parece que acabei de sair de uma máquina de lavar!!!

sábado, 21 de abril de 2007

Figueira 23


Figueira 23 - Barca - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Figueira 23

Em 2006 a J. fez 23 anos. Acho que é uma idade significativa na vida de uma mulher que caminha a passos largos para a sua plenitude feminina. Por isso resolvi dar à minha filha uma prenda de anos igualmente significativa e comprei-lhe uma figueira, de figos pingo de mel, de que ela tanto gosta.
Devo confessar que a Joana apanha uns valentes sobressaltos decorrentes da minha imaginação. E também devo confessar que numa primeira fase a Joana não achou graça absolutamente nenhuma à brincadeira.
Estou a ouvir a sua voz escandalizada "Oh mãe, não acredito que foste comprar a minha prenda de anos a um horto!? Oh mãe, não acredito que me vais dar uma figueira de prenda de anos!?"
Dei, e ela ainda não sabia a história toda. Informei-a de que teria que plantar a sua prenda de anos, isto se ela estivesse interessada nos figos.
E a J. lá plantou a sua figueira, de enxada na mão, com a ajuda do seu primito mais novo, o R., seguindo as instruções do A. Eu fiquei só a observar de longe, de sorriso nos lábios. Se estivesse por perto ela era capaz de não a plantar!

Hoje estive na Barca e a figueira está já a rebentar e até já tem pequenos figos. Foi plantada com muito amor e carinho e isso nota-se no brilho da sua folhagem e no despontar dos seus frutos. Espero que esta árvore e todos os seus frutos acompanhem a minha filha ao longo da sua vida e lhe proporcionem muitos prazeres saboreados lentamente.
Devo acrescentar que a J. teve outra prenda de anos mas nem ela, nem eu, nos lembramos dela. Mas também não admira... a figueira ofuscou tudo o resto!

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Aviador


O Aviador - Céus de Portugal

O Aviador

Parece o nome de um filme...mas não é. Foi só o nome que eu escolhi para fazer o meu "post" de hoje, sobre um grande amigo chamado Renato. Apetece-me escrever sobre uma pessoa bonita por fora e, acima de tudo, bonita por dentro.
O Renato é de todos os meus amigos o mais conversador. Sempre que vem a Amarante telefona-me.
"Anabela, onde é que nos encontramos?"
E no café, ou mais frequentemente em minha casa, à volta de um chá e de umas bolachas, aproveitamos para pôr a escrita em dia. Discutimos arquitectura, viagens, política, fotografia, até futebol!, trocamos experiências de vida, novidades sobre os nossos filhos, pregamos grandes secas ao Artur e à Tuxa sobre História da Arte!
O Renato sai completamente fora do padrão amarantino. É uma pessoa apaixonada pela vida, pelo conhecimento, pelo saber, que não tem medo de arriscar e de tomar decisões. Diria que é um "Homem do Renascimento", período de que ele tanto gosta.
Depois de um percurso profissional invulgar na Força Aérea, em que pilotou os famosos A-7, mudou-se para a TAP e hoje em dia é vê-lo pelos céus a conduzir-nos na sua fortaleza voadora.
E é também um rapaz bem formado, educado e atencioso. Todos os meus alunos o conhecem de nome e das fotografias que utilizo frequentemente nas apresentações em PowerPoint com que preparo as minhas aulas.
A cada passo telefona-me, sempre bem disposto, "Anabela, estive em Foz Côa com os miúdos e a Tuxa... levo-te as fotografias este fim-de-semana". E o meu trabalho agradece.
Os alunos do meu 8º G conhecem-no mesmo fisicamente porque o entrevistaram durante o ano lectivo anterior, no âmbito da disciplina de Área de Projecto. Quis que eles contactassem com uma pessoa que fez o seu percurso de vida tomando decisões e arriscando. Em suma, crescendo interiormente. O Renato trocou até um voo para poder estar ali comigo e com eles, e eles sabem disso, e ficaram muito sensibilizados com esta atitude. Por isso a cada passo me mandam entregar "Cumprimentos ao Sr. Renato Pinto".
Para a semana parece que vai sair finalmente a entrevista no jornal da escola.
Os meus alunos agradecem. E eu também.
Ah! E levo-o comigo para descer o Paiva! As novas experiências dão sempre mais gozo quando partilhadas...
E é por ele que começo sempre que combino um programa. Todos os outros ajustam-se às suas folgas porque o Renato é o rapaz dos horários complicados.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Progressos

Progressos

Estamos a fazer progressos cá em casa.
O meu pai, que desde a morte da minha mãe se refugiou em casa do meu irmão e na minha, voltou a assumir a sua independência e voltou para sua casa, para o seu quarto.
Depois do funeral da minha mãe tocou-me a mim, e a pedido do meu pai, organizar de novo a casa, atendendo a que passaria a ser habitada por uma só pessoa. O meu pai pediu-me para tirar tudo o que foi da minha mãe, a sua roupa e calçado, para não ter que se confrontar com as suas recordações físicas sempre que abrisse um armário. Ainda por cima porque eles tinham as coisas organizadas em conjunto e as suas roupas estavam todas misturadas, a roupa da minha mãe junta com a do meu pai.
Lá lhe fiz a vontade e confesso que me custou mais do que algum dia imaginei... as roupas da minha mãe vazias para sempre, as roupas que eu associava a ela, a esta ou aquela circunstância.

Estamos agora em Abril e na Páscoa passada levei o meu pai a Marrocos, país que ele conhecia de nome e de me ouvir falar tantas e tantas vezes, mas que nunca visitara. Em três dias de viagem estávamos no deserto, a dormir no sopé das Grandes Dunas de Merzouga e no dia seguinte meti-o no jipe e atacámos as pistas do Grande Sahara. Marrocos foi para ele, aos 70 anos, uma revelação, e fez-lhe bem. Encorajou-o a voltar ao seu espaço, a voltar a ser independente, encorajou-o a largar o meu pé, sempre atrás de mim pela casa fora, fazendo-me ter que disfarçar o meu nervosismo de pessoa habituada à sua própria independência.

É por isso que cá em casa estamos a fazer grandes progressos no sentido da superação de uma dor e de uma ausência, que sabemos se esbaterá com o tempo, restando as lembranças de sorrisos e gargalhadas, e circunstâncias felizes.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Mille Feuille



Pâtisserie du Sud - Mille Feuille - Ouarzazate - Marrocos
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Mille Feuille

Estes são os bolos que me tiram do sério, e me fazem perder a cabeça, no meio das iguarias da Pâtisserie du Sud, em Ouarzazate, Marrocos. Uma pastelaria de aspecto manhoso que não deveria assustar ninguém. O que está lá dentro guardado é uma beleza para o paladar!
Comecemos pelo nome poético de Mille Feuille que, traduzido para português, significa Mil Folhas. O nome remete-nos imediatamente para a literatura e para o sentido dúbio das palavras. Tal como um livro, o Mil Folhas devora-se lentamente, saboreando cada nuance de gosto e sabor, saboreando o creme leitoso e doce a misturar-se com a massa folhada mais fina e estaladiça que já experimentei. Tal como um livro, o Mil Folhas é um doce para os sentidos e temos que saber interpretar as suas texturas subtis e os seus múltiplos significados.
Depois o aspecto visual do Mil Folhas que nos remete para mil lençóis (ou ainda mil folhas), cobertos por uma única manta (ou capa), que é a sua cobertura de açúcar muito fino, regado com uns fios finos de chocolate. "Suffisant", ou melhor ainda, "Parfait".
Os Mille Feuille da Pâtisserie du Sud, em Ouarzazate, acabam connosco, fazem-nos perder a cabeça, e acabamos descompostos, no meio da rua, a lamber os beiços e as pontas dos dedos...e a chorar por mais!

Fadinha do Lar

Fadinha do Lar

A minha fadinha do lar acompanha-me há já 20 anos.
Quando a contratei, somente para a tarde, ela já era cozinheira num restaurante da nossa cidade. Descobri, mais tarde, que já tinha trabalhado em casa dos meus sogros, no tempo em que havia criadas de servir, e que dali tinha emigrado para França onde permaneceu uns anos. Voltou, casou, teve filhos e surgiu na minha vida quando eu procurava um braço direito que me libertasse um pouco das tarefas domésticas que eu sempre adorei.
Quando mudei para a minha casa de S. Gonçalo, há já nove anos, achei que estava na hora de me libertar completamente de compras, cozinhados, limpezas, ferros, vidros e companhias limitadas. Vai daí, fiz-lhe a proposta de trabalho a tempo inteiro que ela aceitou, num ápice.
A minha fadinha do lar é uma pessoa feliz no trabalho que faz. Canta pela casa enquanto limpa o chão, canta enquanto limpa os vidros, canta enquanto passa a ferro, até canta enquanto cozinha!...e liberta-me completamente o tempo para eu fazer aquilo que quero e verdadeiramente gosto: preparar aulas, preparar férias, fazer muros, conversar com os amigos...e fazer este blogue.
A ajuda que ela me dá não tem preço. Dirige a minha casa como se fosse a dela e o balanço da nossa relação é extremamente positivo.
Sem ela, confesso, a minha vida seria um caos doméstico!

terça-feira, 17 de abril de 2007

Combinações


Braseiro - Parque Natural do Alvão - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Combinações

Telefonei ao Helder Colmonero. Disse-me que estava com saudades minhas e do meu cara metade. É natural, nós também já estamos com saudades dele. Os amigos são para se quererem bem e as amizades, tal como o amor, têm que ser constantemente alimentadas ou esmorecem... até podem morrer.

No meu grupo de amigos sempre fui eu que combinei jantares "só para conversarmos, só para estarmos juntos". Sempre fui eu que combinei programas diferentes "só para sair da rotina". Como daquela vez em que aluguei uma espécie de barco rabelo, meti lá todos os meus amigos e fomos navegar para o Douro, do Porto até ao Pinhão. Sábado bem passado, na amena cavaqueira, safari fotográfico, convívio. Ou daquela outra vez em que aluguei a casa abrigo do Parque do Alvão e os mandei levar sacos cama e aí fomos nós, de fim-de-semana, passeio pedestre para cima, passeio pedestre para baixo, chegada à Queda das Fisgas estafados, mas ainda com força para clicar na máquina fotográfica e captar o céu num braseiro!! E no dia seguinte, depois de uma noite em que tivemos mesmo que usar os sacos cama, e depois de mais um passeio pedestre pelo magnífico Alvão, almoço na Tasca da Tia Alice, na localidade de Bobal, Mondim de Basto.
O que eu deliro com programas assim!

Agora arranjei um ajudante. O Helder veio dar-me uma mãozinha. Em três tempos combinámos a descida do rio Paiva. Eu tratei dos contactos, o Helder das inscrições e é assim que estamos vinte destemidos e destemidas. Devo dizer que alguns tiraram o rabinho para fora... coitados, têm medo que os rápidos os engulam! Não perceberam ainda que é só abandonarem-se à corrente de um rio tumultuoso e deixarem-se ir... e como isso sabe bem!

E é assim que no próximo domingo vou fazer rafting pela primeira vez na minha vida.
Pois é, não resisto a um bom desafio.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Coincidências II



Muros - Barca - Serra da Aboboreira - Amarante - Portugal 
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Coincidências II

No Domingo de manhã, continuava eu em plena labuta com as minhas pedras e os meus muros quando passa um indivíduo de mota, na estrada, que me levanta o braço e me lança um berro que se deve ter ouvido por toda a Aboboreirasetooooora!"
O Filipe! O Filipe foi um dos alunos mais difíceis que já tive, da turma mais difícil que já tive, dos Cursos de Educação e Formação, da minha "famosa" turma dos electricistas!
Atrás dele apareceu-me o Ricardo que era o seu contraponto. Um miúdo 5 estrelas que nunca perdeu a compostura no meio de tamanha desgraça. E a desgraça era nada mais nada menos que dezasseis miúdos mal habituados. Um deles lançou-me um claro aviso logo na primeira aula. Deixou-se escorregar pela cadeira abaixo até quase ficar deitado, deitou-me um olhar e um riso desafiador, e disse "Ó professora, nós não gostamos de fazer nada!"
Coitados, estavam com azar! É que esta professora adora a sua profissão e quanto maior é o desafio, maior é o sofrimento, mas também maior é o gozo!
Lá vieram eles dar-me beijinhos e conhecer o meu marido.
Recordamos tempos passados, as faltas disciplinares constantes do Filipe, a sua suspensão de um dia para reflectir, depois de se ter virado para mim, na sala de aula, e de me ter dito "Um dia ainda lhe torço a língua!"
Não torceu, e eu acabei por lhe torcer a dele...língua nervosa e provocadora a dele! E por vezes mal-educada!
Contei-lhe que me lembro muitas vezes dele por causa de um electricista que tenho agora dentro da sala de aula, sentado no lugar que um dia foi seu, e que faz muito o seu estilo.
"Pois, professora, nós quando andamos na escola não pensamos! "E tens saudades?" "Ai não! Quando tenho que me levantar às seis da manhã para ir trabalhar...se fosse para a escola só entrava às oito e meia...e o trabalho era mais leve!"
É, por vezes precisamos de perder as coisas para lhes podermos dar valor!
Fiquei muito contente por me encontrar com eles e ver que eles estão bem e estão tranquilos e que estão com contratos para irem para a Suíça.
Trocámos os telemóveis e alinhavámos a possibilidade de uma entrevista para ver se os meus electricistas actuais crescem um pouco mais rapidamente.
A coincidência é que eu já me tinha lembrado da entrevista e quem eu queria era exactamente o melhor aluno da turma - o Ricardo, e o seu contraponto - o Filipe. E ali estavam eles à minha frente... o Filipe espantado por eu ter turmas de CEF. "Depois da nossa turma professora, pensei que nunca mais queria ver alunos de CEF à sua frente!"

Estes meus alunos não me chegaram a conhecer bem... ou saberiam que, perante muros, esta professora trepa, salta, contorna-os, trata-lhes da saúde!

domingo, 15 de abril de 2007

Coincidências I

No sábado à tarde, estava eu em plena labuta com as minhas pedras e os meus muros, quando vejo três rapazes a entrarem pelo meu monte dentro com umas lancheiras. Ficaram a saltar de rochedo em rochedo, não dando pela minha presença, até que resolveram descer, pelos meus caminhos, em direcção aos campos. Resolvi ver o que se passava. Aproximei-me, cumprimentei-os e um disse logo que eram escuteiros e que estavam a fazer uma prova de orientação na Serra da Aboboreira. Disse-lhes que só queria lembrar-lhes que estavam numa propriedade privada e que se precisassem de sítio para fazerem o pic-nic podiam usar as mesas de pedra espalhadas pela propriedade. E disse-lhes para estarem à vontade.

Estou eu às voltas com as pedras dos muros quando se aproximam os três. "Vamos ficar aqui até à noite. Estamos sem fazer nada, podemos ajudá-la com o muro? Dei uma gargalhada. Não estava nada à espera de semelhante sugestão. Bem sei que são escuteiros e que têm que praticar boas acções...Recusei. "Obrigada, mas não". Insistiram, quiseram saber porque é que eu estava a recusar a ajuda deles. "Porque tenho que ser eu a fazê-los. Porque só eu sei como os quero." Voltaram a insistir. Andava eu para ali com as pedras às voltas e eles, três rapazes "valentes" não podiam ficar só a observar! "Ok. Estão a ver aquelas pedras? Se mas trouxessem para aqui era espectacular."
Os rapazes revelaram-se uma ajuda inesperada.

Conversa daqui, conversa dali, o que é que eu descubro? Um deles é filho do Valente, o meu formador na área das novas tecnologias, o que me ensinou, entre outras coisas, a dar os primeiros passos para fazer o meu blogue. Este blogue. E para além de ser filho do Valente é irmão da minha ex-aluna, por sinal muito doce, Joana.

Este mundo está, definitivamente, cada vez mais pequeno!

P.S. A Aboboreira ontem esteve agitada. Era vê-los noite dentro, de lanternas nas mãos, a passearem-se pela Barca.
Dali saíram já perto da meia-noite.
Sexy, eu?

Esta semana aconteceram-me duas situações inesperadas e curiosas e que estão relacionadas entre si. O Helder Barros fez um comentário surpreendente ao "post" "As Minhas Mãos". Disse qualquer coisa como "Já que insistes em considerar-te velhota, pelo menos és uma velhota sexy." O que, devo confessar, me deixou perplexa e surpreendida. Fiquei a pensar no assunto.
Na verdade nunca achei que fizesse o protótipo da mulher sexy e sempre me achei muito longe desse estereótipo que associo a formas mais exuberantes, mais produção e sofisticação. Ora eu sou o seu oposto. Sou simples. Trabalho no campo de galochas e enxada. Carrego pedras de um lado para o outro. Tenho frequentemente bolhas e calos nas mãos. Nunca pintei os lábios e as unhas de vermelho...
Curioso foi que no sábado, depois de uma conversa, no meio da rua, com o Helder e o Cardoso, em que falámos da Escola, de Marrocos e disto e daquilo, entro no café, sento-me ao pé da Rosinha, e eis que chega a D. Salomé, sim a D. Salomé, que me diz em jeito de cumprimento enquanto eu lhe dava dois beijos "A Anabela hoje está muito sexy" E carregou a palavra muito. Dei uma gargalhada e ficámos as três a falar do que é ser sexy e acabámos por concordar que ser sexy é muitas vezes o que não é óbvio, o que depende de um estado de espírito, o que depende do que somos interiormente.
Olhei para mim própria. Sapatilhas, calças de ganga, t-shirt preta, o meu querido casaco à exploradora que transporto sempre comigo para o deserto...tão longe do estereótipo da mulher sexy.
Depois olhei para a minha carteirinha floral e...achei-a picante.
É, acho que a culpa foi dela.
E depois pensei que sou um escorpião. Algum picante terei.
É, acho que a culpa também é de eu ser um escorpião azul.
E acho que a culpa também só pode ser da areia quente, quente, em que eu ando sempre enredada.

sexta-feira, 13 de abril de 2007


Cena de Caça - Akakus - Sahara - Líbia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Ainda a Propósito de Mãos

Devo confessar que adoro mãos. Sou uma grande observadora de mãos masculinas e femininas.
As mãos foram e serão primordiais e fundamentais para o desenvolvimento do Homem. Desde que o Homem conquistou a bipedia e a verticalidade, e passou a ter as mãos livres da locomoção, passou a poder criar tudo com elas. Desde aí percorremos um longo caminho, desmultiplicámos os gestos, dos mais brutos aos mais delicados, e não mais parámos de criar.
Fascina-me o que se pode fazer com elas e fascina-me saber que as coisas feitas por elas podem perdurar muito para além da nossa existência.
Os primeiros artistas deixaram-nos magníficas mãos impressas nas paredes das grutas e cavernas onde se abrigavam. Acho que também eles, como eu, sentiam este fascínio pelas mãos. As nossas mãos são mágicas. Com elas alteramos, modificamos, criamos, acariciamos, escrevemos... e agora até teclamos!
Posto isto devo dizer que adoro as mãos do professor Marcelo Rebelo de Sousa. Sempre que o ouço, aos Domingos, é para as suas mãos que eu olho. Muitas vezes, em casa da minha sogra, e rodeada por muita gente, tenho chamado a atenção para a beleza daquelas mãos. E ouço uns "Ah! Sim! Deixa ouvir!". Acho que não me acompanham neste meu gosto por mãos!
As mãos do professor são mãos muito bem tratadas, citadinas, jovens, decididas, firmes, elegantes, nervosas, dançarinas, hiperactivas.
Conheço de cor as mãos dos meus amigos e amigas e o que elas me transmitem.
Mas as mãos nem sempre me transmitem bons sentimentos. Por vezes é exactamente o seu contrário. E quando assim é, não gosto. Ponto.

P.S. A fotografia que ilustra este "post" representa uma cena de caça, com cães, datada do período Neolítico, já que não tenho nenhuma fotografia das mãos paleolíticas no meu espólio fotográfico. Escolhi-a porque, para "caçar", ainda hoje, precisamos das nossas queridas mãos! Daí a ligação ao texto.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Carteirinhas Florais


Carteirinha Floral
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Carteirinhas Florais

Adoro as minhas carteirinhas florais. Compradas religiosamente em Marrakech, "chez" Beldi, transporto-as como quem transporta "un bijou".
São frescas, leves e coloridas! São uma graça num dia mais cinzento. E são capazes de levantar o astral de qualquer rapariga que as transporte!
Nem as bocas da Joana me fazem separar das minhas carteirinhas florais. Pois não é que a rapariga tem a lata de me dizer, sempre que me vê sair com uma delas, que a mãe do meu cunhado Agostinho, que tem agora noventa e tal anos e sempre foi muito mimosa, tinha, na sua casa de Fregim, as tampas das sanitas cobertas com umas capinhas que eram tal e qual as minhas carteirinhas florais!!???
Joana, Joana...isso não se diz à sua mãe!
A sua mãe não transporta capinhas de tampas de sanita como se fossem pequenas jóias! A sua mãe ainda não está assim tão ridícula!

Alto Atlas - Marrocos
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Sempre Marrocos

Como é possível não se gostar de um país como este? Tão diverso e tão espiritual? Como é possível ir-se a Marrocos e só se falar do lixo? E esta paz, esta harmonia, esta simplicidade de um sítio onde tudo está no seu devido lugar, onde fica?

quarta-feira, 11 de abril de 2007


Mãos - Essaouira - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães
As Minhas Mãos
As minhas mãos são a parte do meu corpo de que eu mais gosto. São esguias, firmes, longas, decididas, fortes e ao mesmo tempo delicadas. Apesar de maltratadas.
As minhas mãos tiveram um belíssimo tratamento até à idade adulta. Depois deu-me para amar carregar pedras, preparar o seu leito de enxada na mão e calcetá-las. De adorar cortar mato de serra em punho e de machado. De podar carvalhos e castanheiros e observar as suas formas no máximo do seu esplendor. Fiz esta descoberta durante a minha gravidez e até hoje, com intervalos, não mais parei.
As minhas mãos ressentem-se disso. E da idade. Têm 45 anos e a sua pele já não tem a mesma elasticidade de outrora. As veias já aparecem mais salientes e já apareceram muitas manchas escuras próprias da idade. A Joana, um destes dias, reparou nas ditas cujas e chamou-me a atenção para elas. E eu disse-lhe que achava as minhas manchas da idade sexys. O que a deixou desconcertada.
Mas adianta-me alguma coisa não aceitar o envelhecimento? Absolutamente nada.
Na verdade só tenho a agradecer ter nascido em 1961, ter manchas da idade nas mãos e na cara, mas ter uma cabeça que se mantém jovem e activa. E de aos 45 anos não ter o aspecto de uma matrona como as mulheres da geração da minha avó. E ainda bem que não sou da geração da Lucy, aquela "Australopiteca" simpática que aos 20 anos sofria de artrite e era velha!
As minhas mãos são especiais para mim por uma outra razão. Porque transportam grande parte das coisas que eu mais amo. Na mão esquerda a aliança de brilhantes que o meu pai deu à minha mãe aquando das suas bodas de prata. A aliança com que a minha avó Luzia anilhou o meu avô Rodrigo. Uma aliança de prata que serve para treinar as minhas bodas de prata que estão já aí. A aliança de casamento da minha mãe que ela me deu ainda em vida. E a aliança que o Artur me deu no dia do nosso casamento.
E na minha mão direita a aliança que a minha avó Luzia me deu quando eu fiz dezoito anos e uma outra porque eu adoro alianças.
As fotografias que ilustram este "post" foram tiradas em Essaouira, com as mãos bem apoiadas sobre as muralhas e sobre o casario, depois de fazer uma "tatoo" temporária com hena. Felizmente a alergia que desenvolvi no dia seguinte, e para a qual estou a ser medicada até com cortisona, não estava ainda declarada. E agora também não vou fotografar as minhas mãos. Estão um nojo!
Se valeu a pena? Claro que sim. As pinturas deixaram as minhas mãos muito mais elegantes e misteriosas! E não apagaram as minhas manchas da idade.



Mina - Amarante
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

"Mina"

A "Mina" tem hoje 26 anos. Conheço-a desde que veio do Brasil, ainda bebé de colo, vinda da sua cidade natal, S. Salvador da Baía.

A "Mina" é hoje o protótipo da muito loira morena inteligente. Sobrinha e afilhada do Artur foi por ele muito bem abençoada. É discreta, competente, sóbria, reservada, corajosa. Minha sobrinha por afinidade, gosto dela como se fosse minha sobrinha de sangue.

Pensando na "Mina" em bebé recordo as sestas que dormimos juntas, a "Mina, eu e a minha melancia, quando todos saíam para trabalhar e nós nos abandonávamos ao Verão amarantino.
Recordo as tardes passadas dentro das bacias com água, em casa da avó Olívia. Tu, a Mel, a Babá e a Joana. E os Invernos em que dormias em minha casa e eu te aquecia leite com canela.
Recordo levar-te pela primeira vez a ver a neve, ao Marão, e ver os teus olhos azuis abertos de espanto e os teus deditos pequenos tocar o frio.
E recordo passarmos na ponte nova e dizer-te "Mina, olha o rio!" Tu esticavas-te toda, dentro do carro e dizias "O io é méu!" E era. E é! O rio e o mar. Porque aos 26 anos nós somos donos dos rios e dos mares! E do mundo!

A "Mina" é a ..., uma das três manas Silveirinhas!

terça-feira, 10 de abril de 2007

segunda-feira, 9 de abril de 2007


Vera
Fotografia de Pedro Matias de Magalhães
E afinal ela fala!
A Verinha é uma das muitas sobrinhas do Artur (por acaso também afilhada) que connosco fez o seu baptismo de Marrocos!
A Verinha quando era bebé abria as goelas e berrava e balia como um cabrito no matadouro. Depois calou-se. Se calhar foi de eu a passear agarrada pelos pés, de cabeça para baixo, quando ela era pequenina e magricela!
Os pais dizem que ela em casa fala por sete cotovelos. Mas fora de casa, não.
A Verinha fez a viagem até ao deserto a dizer sim, não, gosto, não gosto, pode ser.
Mas algures no deserto a língua dela soltou-se. Já emite opiniões e diz que está a gostar mesmo muito de Marrocos. Diz que vai tentar convencer o pai dela a vir. Que amou o contraste da neve e do deserto...que gostou de tudo até da comida. Até das saladas. Mais uma que adquiriu o vírus?
Algures no deserto a língua da Verinha soltou-se tanto que até já diz piadas.
Não é que depois de uma vinda da medina de Essaouira ao hotel, a pé, só nós as duas, ela comentou que andou comigo a galope pelas ruas de Essaouira? (Uma piada à minha velocidade.)
E não é que depois de eu ter cortado o cabelo na medina de Ouarzazate, no barbeiro do costume, ela reparou que eu tenho duas entradas no cabelo que ela diz que são as minhas duas "falhas"?
E que as minhas "falhas" internas não se vêem e são as mais profundas?
E que me sugere "postes" e mais "postes" para o meu blogue, até de electricidade?
E que está curiosa, curiosa de ler o meu post "Carteirinhas Florais" porque sabe que se vai rir?
Decididamente o deserto fez-lhe bem. Soltou-lhe a língua. Agora ninguém a cala!
Ah! E ofereceram-me trezentos camelos por ela, no final das férias. Mas como ela vai valer muito mais daqui a uns anos deixei o negócio adiado.
Até à próxima!



Lagartos do Alto Atlas - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães
Lagartos
Mas o que fazem estes lagartos do Alto Atlas no meu peito, assim tão perto do meu coração?
Lagarto, lagarto, lagarto!!!

Escorpiões Azuis - Essaouira - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães
Escorpiões Azuis
Adoro estas fotografias tiradas em Essaouira no tempo em que me passeava na praia com os "cabelos ao vento". A primeira porque já sou decididamente uma maria-rapaz dum escorpião azul. A segunda porque o Artur captou a ternura da nossa filha abraçando-me e aninhando-se no meu colo. E captou a minha retribuição num abraço de mãe segura, firme e igualmente terna.
Abraços que só podiam ser abraços de escorpiões azuis.

Intromissões Azuis - Chefchaouen - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Marrocos


Intromissões Azuis - Chefchaouen - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Marrocos

Marrocos evoluiu bastante nos últimos dezassete anos.
Em 90 o único ponto de encontro com a nossa cultura era a Coca-Cola que existia por todo o lado. Tudo o mais era diferente.
Havia um pequeno troço de auto-estrada entre Casablanca e Rabat, respectivamente a capital económica e a capital política de Marrocos, onde se passeavam burros, pessoas, e se vendiam cebolas e laranjas. Não existiam áreas de serviço. Faziam-se Kms e Kms, para sul, sem se ver vivalma. De onde em onde tendas de nómadas berberes. Os sanitários eram indescritíveis de porcos. Sanitas de buraco no chão, imundas. Imundas as paredes, o chão, as portas. Papel higiénico inexistente. Era um luxo termos à nossa disposição pequenos quadrados de folhas de papel de jornal ou de papel higiénico cor-de-rosa que mais parecia lixa. A carne, coberta de moscas, dependurada nos talhos à beira da estrada. Os camiões do lixo, de caixa aberta, espalhando tudo pelo caminho, deixando os montes mosqueados de sacos plásticos de todas as cores. Nos pequenos "cafés/restaurantes" comíamos com as mãos porque pura e simplesmente só existiam colheres. Lembro-me de pedirmos pão com manteiga e café com leite, num pequeno café em Arzila, e ficarmos a ver o empregado sair para comprar o pão, a manteiga, o leite, e chegar a rir-se para nós, e preparar-nos um lanche delicioso e ali improvisado. Não existia café expresso e ficávamos privados de o tomar durante todo o tempo que passávamos de férias. Lembro-me de chegarmos às dunas de Merzouga por uma pista manhosa tantas vezes percorrida de noite.
Este Marrocos está a acabar.
Hoje em dia os sanitários são normais e até já têm secadores de mãos. Abrem-se auto-estradas que cortam o reino de Norte para Sul e do interior para o litoral. Já há áreas de serviço melhores do que muitas em Espanha. Sim, na auto-estrada continuam a pastar rebanhos, mas já não vi tendas com produtos à venda. Já se come em qualquer lado, mesmo manhoso, de faca e garfo. Os carros do lixo já são como os nossos, todos automáticos. Temos rede de telemóvel mesmo no deserto. O Lavazza está por todo o lado e podemos agora tomar belíssimos cafés italianos sempre que nos apetece. Já podemos lanchar em qualquer café sem que tenham que nos ir comprar o material com que se faz um lanche português. Já é preciso, cada vez mais, procurar os nómadas. Há cyber-cafés por todo o lado, mesmo no deserto. E já chegamos às dunas por uma estrada alcatroada.
É, Marrocos evoluiu muito nestes últimos dezassete anos. Mas ainda assim é possível encontrar um Marrocos pitoresco e diferente se tivermos a coragem de o procurar. Onde os vultos são fantasmas (como diz o meu sobrinho Rodrigo), onde o pôr-do-sol é africano, onde os cheiros são mais intensos, onde os verdes são mais verdes, os vermelhos mais vermelhos e os azuis... ai os azuis...
Onde os azuis são mais azuis!

Pôr-do-Sol em Essaouira. Sem comentários



Essaouira - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Pôr-do-Sol em Essaouira. Sem comentários.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Essaouira


Essaouira - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Essaouira

Bom e ca estamos em Essaouira, a cidade branca e azul a beira mar plantada.
Essaouira foi um segredo bem guardado ate meados da decada de 90.
Descobrimos Essaouira, por acaso, exactamente no ano de 1990, data da nossa primeira visita ao reino de sua majestade, o rei Hassan II. Visitamos Marrocos durante o mes de Agosto, debaixo de um sol escaldante, de carro, sem ar condicionado, e com a Joana a explodir de calor.
Essaouira, a cidade do vento, foi para nos uma agradavel surpresa. Cidade recatada, simples, encantadora, cidade de pescadores, de artistas, de pintores, escultores e de musicos, tinha um ambiente unico em todo o Marrocos. Depois disso reencontramos Essaouira todos os anos, exceptuando 1991 por causa da Guerra do Golfo. E fomos conhecendo uma Essaouira magica. Em Agosto faziamos praia naquela baia imensa com praia a perder de vista, contando as pessoas pelos dedos das maos. Brincavamos no barco de borracha da Joana, furavamos ondas, nadavamos, andavamos Kms pela praia de maos dadas com os "cabelos ao vento". As pessoas que encontravamos dirigiam-se a nos em arabe e sabia bem nao nos estranharem, sermos mais uns.
Depois explodiu de turismo. Foram-se construindo cada vez mais hoteis, abriram riads no interior da medina, surgiram apartamentos para alugar, abriram inumeros restaurantes e Essaouira passou a estar cada vez mais vocacionada para o turista. Ate as muralhas mudaram de cor e de vermelho passaram a rosa. O rei tambem ja nao e o mesmo e reina agora sua majestade Mohammed VI. Hoje em dia, em Agosto, Essaouira e sinonimo de "Tirem-me daqui!", de feira, de multidoes, de festivais de musica, de turistas aos molhos, daquilo que eu nao aprecio em ferias, muito menos quando penso em Essaouira.
Mas, no fim de ano e na Pascoa, Essaouira ainda mantem o encanto e a magia doutros tempos. Alguns surfistas, hippies anacronicos, europeus inadaptados e fartos de uma Europa gorda, velha e stressada passeiam-se pela praia, pela medina, cruzando-se com os habitantes duma Essaouira que, apesar de tudo, ainda nao se perdeu completamente!
Ainda gosto de me perder nas vielas da medina branca e azul seguindo o fluxo das suas gentes. Por uma vez seguindo "os outros"!

P.S. Continuo num teclado arabe, desta vez no escritorio do sr. Khalid, director do pequeno hotel Villa Flora, em Essaouira. Que eu recomendo.
 
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