terça-feira, 3 de julho de 2007

Snorkeling


Snorkeling - Cayo Largo - Cuba
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Snorkeling

A minha estreia na prática do snorkelling foi feita em Cuba, no Verão de 1996. Viajámos num pequeníssimo avião, a que eu gosto de chamar Treco-Treco, de porta aberta em pleno voo, sobre um Mar das Caraíbas de azuis muito belos, e aterrámos em Cayo Largo. Nas Caraíbas, as pequenas ilhotas que povoam estas águas quentes chamam-se Cayos e há-os de todos os tamanhos, cores e feitios.
De Cayo Largo saímos de barco para alto mar onde iríamos fazer snorkelling, numa grande barreira de coral que atravessa a região e é muito famosa e apreciada pelos especialistas nestas prática do snorkelling e do mergulho. Devo dizer que, à chegada, a prática do snorkelling não me pareceu especialmente aliciante. Se há tubarões por perto os marinheiros encarregam-se de os alimentar na extremidade oposta àquela onde os turistas loucos se metem na água. Nem sei se alguém naquele barco pensou em tubarões enquanto mergulhava naquela água esquisita, com largas manchas que pareciam rochedos e que, diga-se de passagem, não eram lá assim muito atractivas vistas de fora. O que sei é que foi vê-los saltarem para a água todos equipados, como se não tivessem um minuto a perder. Num instante fiquei só na embarcação, de barbatanas nos pés e máscara na cara a pensar se poria ou não na minha boca um tubo de respiração que tinha já passado nas bocas de sei lá quem. Estava eu neste dilema quando o comandante da embarcação, de dentro de água, reparou em mim e me chamou. Que fosse para a água. Lá me arrastei para as escadas que davam acesso à dita, confesso que sem sentir um grande entusiasmo, enquanto o comandante da embarcação me aguardava na água. Mal entrei ele deu-me a mão e arrastou-me dali para fora sem eu ter tempo de avisar o Artur e a Joana de que me ia afastar daquele grupo de turistas que, sem tirar a cara de dentro de água, nadava perto da embarcação. Fui literalmente transportada para um mundo irreal onde eu nunca pensei ir e que eu pensava ser inacessível a quem mergulha sem oxigénio. Nadámos entre canais feitos de corais de todas as cores, de todas as formas e feitios e por entre cardumes de peixes às vezes enormes. Por vezes o comandante largava-me a mão e mergulhava em apneia indo-me buscar beijinhos ao fundo do mar que eu guardava no meu fato-de-banho azul sentindo-os escorregar até à barriga.

É incrível como nos basta meter a cabeça dentro de água, protegida pelas máscaras, para um novo mundo nos ser revelado... um mundo subaquático que eu nunca pensei ser assim: imediato, muito belo, cheio de vida animal e vegetal. Os peixes são de todas as cores - amarelos, roxos fluorescentes, pretos, brancos... às riscas, às pintas, grandes e pequenos... isolados ou em cardumes... Os corais são leques, são arabescos, são cogumelos, são... nem sei o que são... Só sei que tudo se movimenta em movimentos lânguidos e elegantes e tem vida, e é um espectáculo extraordinário! De tal forma que eu me esquecia de respirar!... Pois, fui sem tubo de respiração e, como não queria perder um segundo que fosse do espectáculo que decorria à minha volta, levava o esforço até tirar a cabeça fora de água quase completamente sufocada.

Não sei o nome do comandante que me levou a tão invulgar passeio e me restituiu à embarcação em completa segurança. Nem me lembro tão pouco da sua cara, mas guardo os beijinhos que ele me ofereceu, religiosamente transportados no meu fato-de-banho azul marinho e depois passados para uma pequena garrafa de plástico.

Memórias. Memórias de que é feita e construída a vida.

As fotografias que ilustram este post foram tiradas nessa altura, com uma mísera máquina de usar e deitar fora e o resultado foi aquilo que se vê. Muito, mas muito aquém da realidade observada.

4 comentários:

Dianinha disse...

deste mundo é que eu gosto...este é o meu verdadeiro mundo...diga-la se o mundo aquatico nao é lindo??? tem que fazer mais visitas ao meu mundo...
para alem do nosso mundo terrestre ainda nos falta ver muito...pense bem e diga se o mundo aquatico nao e mais lindo que o mundo terrestre... se reparar no mundo aquatico ha mais calma, nao ha guerra, existe mais variedade de seres, enfim muitas masi coisas lindas e fantasticas...o nosso mundo nao chega aos calcanhares do mundo aquatico...

Anabela Magalhães disse...

Estou a ver que tu pertences a um signo de água!...Será assim?
Mas de facto é um mundo inesperado e fantástico, calmo e silencioso, delicado e suave... isto se não houver tubarões por perto!!!

Helder Barros disse...

Hum, afinal o blue escorpion também faz umas incursões subaquáticas... aquela história de pertencer apenas ás areias e à terra, não era muito consequente!
O azul é de céu e de mar, bem me parecia que este escorpião tinha também horizontes cristalinos! E mergulhar com tubarões, só mesmo para duros e corajosos escorpiões!

Anabela Magalhães disse...

Continuo a ser um animal terrestre e continuo a dizer que o deserto é para estar e o mar para contemplar... mesmo que não lhe feche as portas e mesmo que por vezes faça incursões a este mundo silencioso e misterioso que é fascinante, sem dúvida, mas onde não me sinto um peixinho dentro de água! E quanto aos tubarões, desta vez, nem os vi!

 
Creative Commons License This Creative Commons Works 2.5 Portugal License.