O País Indecente
O País Indecente vai sendo construído à custa duma aspiração portuga, aspiração essa muito fácil de constatar e que é a seguinte - dentro de cada portuga está um aspirante a chefe mais ou menos escondido.
Basta olhar para a política seguida pelo ministério da Educação, liderado pela antiga senhora, que, na hora do aperto, captou apoios distribuindo cargos e carguinhos numa divisão clara criada artificialmente entre iguais. E, se há quem não goste disto, a coisa parece resultar em pleno e é ver gente transformada pelos galões passarinhados nos ombros. Já vi de tudo, é verdade, que a mim dá-me para a observação.
Para que não se pense que eu sou para aqui uma incongruente qualquer, afirmo aqui e agora, sem rodeios, que odeio cargos e espero jamais os ocupar, mesmo que isso dê direito a suplementos remuneratórios. Entendo que o meu lugar é dentro da sala de aula, foi para o ocupar que decidi ser professora, esse foi o compromisso que assumi.
Orgulho-me do que aqui vou deixar escrito - o único cargo que ocupei até hoje, no meu já extenso percurso profissional, foi o cargo de Directora de Turma, cargo que considero de uma importância extrema sentida no dia-a-dia do bom/mau funcionamento de uma Escola. E ponto final. Serei, por certo, uma pessoa sem ambição, pelo menos sem ambição deste teor, bem entendido! E como se pode facilmente depreender do que afirmo, sou mesmo uma reles, mas orgulhosa, zeca. Sou mesmo!
Ora esta queda portuga para os cargos, ai que importante eu estou!, meus deuses! credo! que nunca pensei chegar tão longe!, reveladora da pobreza de espírito reinante, é explorada politicamente pelos nossos políticos da treta que dela também beneficiam e neste cargo para aqui e para ali e para acoli não se põe cobro à catástrofe anunciada, em tempos de muita crise, como o que atravessamos no momento.
Aliás é também em tempos de crise que temos acesso a informação fantástica que nos deixa até com dores nos maxilares de tanto abrirmos a boca de espanto, apesar de conhecermos os arredores, apesar de sabermos do que a casa gasta.
Só que, este país é um verdadeiro prodígio e consegue sempre superar-se a si próprio na hora da estupidez. Vai daí, hoje foi dia de me inteirar desta beleza - Na CP, aquela empresa fantástica que é um poço de lucros e que parece até tocada pelos poderes do rei Midas, há um chefe por cada 16 funcionários.
Somos ou não somos um país fantástico?
E indecente?
Acho que te enganas, Anabela quando dizes que em cada português há um aspirante a chefe. De facto o português gosta muito de c*g*r (desculpa o vernáculo ainda que disfarçado) leis mas aspirante a chefe? Isso é algo inconcebível num país onde a maioria aspira a um tacho, RSI ou Novas Oportunidades.
ResponderEliminarÉ que querer ser chefe até pode ser bom se tal nos levar a exceder no nosso trabalho, se tal for recompensa pela qualidade do que fizemos. O problema é que, em Portugal, todos querem é o tacho que 99% dos casos é dado por outra coisa bem portuguesa que é a cunha.
Este é o problema, penso. Não creio que o facto de ser chefe ou não seja o cerne da questão. É mais o caminho que se quer tomar para lá chegar.
Não me parece, Elenáro, que esteja enganada e o que tu afirmas, com razão e que eu subscrevo por inteiro, mais não é do que uma consequência do que afirmo da ambição do chegar lá, a chefe, pois então! E a maneira mais fácil e certeira é mesmo ter um cartão colorido para se esgrimir sempre que é preciso. Tudo está ligado e constrói a nossa desgraça.
ResponderEliminarÉ uma espécie de pescadinha de rabo na boca... e uma espécie de magazine também!
Beijocas