quarta-feira, 28 de março de 2007
Avó Luzia
Os meus avós - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de António Carneiro
Avó Luzia
25-9-1933. Casamento dos meus avós paternos Luzia e Rodrigo.
Depois de um namoro atribulado e contrariado, em que a minha avó Luzia foi mesmo exilada pela sua família em Viana do Castelo, não foi possível acabar com a paixão assolapada que tomou conta da minha avó e lhe causou desgostos ao longo de toda a sua vida.
O meu avô era um Don Juan! Provavelmente o homem mais bonito da Amarante do seu tempo tinha fama e proveito de conquistador. Continuo a olhar para esta fotografia e a pensar que a minha avó já adivinhava o que lhe ia sair na rifa! Gostaria de a ter cá e de conversar longamente com ela sobre a sua melancolia num dia que deveria ser de alegria. Afinal ela conseguiu dobrar a família e casar com o homem da sua vida. Gostaria de repetir outras conversas que tivemos, principalmente quando eu estava doente e ela era a minha dama de companhia, sobre a sua paixão pelo meu avô, sobre os desgostos que teve com o seu amor (porque o meu avô não conseguia resistir a um rabo de saia), as suas aventuras de criança e adolescente e até de mulher já feita...sobre o meu pai, a quem ela durante muito tempo não cortou os caracóis cor de trigo ou de oiro (para utilizar expressões suas) porque queria muito ter uma rapariga e teve dois rapazes. E gostaria de lhe dizer que segui os seus conselhos: estudar para ser alguém e para poder ser economicamente independente. Para a minha avó isto era tão importante como comer e beber. A minha avó foi sempre dona de casa, como era usual na época e, como tal, completamente dependente do meu avô. Dizia-me "Como é que eu podia separar-me do seu avô com duas crianças pequenas? Estude. Escolha uma profissão de que goste. Seja independente para poder fazer da sua vida exactamente aquilo que quer. Olhe para o que foi a minha vida!" Só podia seguir os seus conselhos muito embora constate que a minha avó nunca tomaria uma decisão contra o meu avô, mesmo noutras circunstâncias, porque muito simplesmente amou-o até morrer. Apesar dos muitos rabos de saia de que teve conhecimento! Respeito-lhe os sentimentos e gostaria de lhe dizer que também ela foi, provavelmente, a rapariga mais bonita da Amarante do seu tempo. E que tenho saudades de ir dormir a casa dela e de me sentir perdida naquelas camas tão grandes e tão altas, com colchões de folhelho recém mudado, que me faziam pensar em dunas no deserto que eu pensava nunca poder ver. E que tenho pena que ela não me tenha visto casar, e que não tenha conhecido a minha filha, e que não me veja no topo do mundo quando subo às dunas gigantescas com que sonhava em criança.
Nota - Acabei agora mesmo de acrescentar a data de casamento dos meus avós e tomei consciência, pela primeira vez na minha vida, que casei um dia antes! O que fez toda a diferença! Vou pensar nisto.
Cara amiga:
ResponderEliminarTalvez as tuas peregrinações, sim porque é disso que se trata, quando vais ao deserto, tenham origem num apelo muito forte de ir a meca, consolem e conforte mespiritualmente a tua avó, que era bonita sim senhora... Talvez, por razões que ainda não conhecemos, esse apelo do deserto, tenho uma explicação muito simples, e profunda para ti.
Boa viagem peregrina... areias, ela aí vai! Fujam os escorpiões... menos os azuis!
É, Helder, de facto são peregrinações. São peregrinações ao interior de mim mesma. Aqui há sempre muito ruído. Se calhar não estou assim tão longe do Sahel, só que ainda não tenho consciência disso. O deserto é o lugar mais espiritual que conheci até hoje e, quando me apanhei no meio dele, dei por mim a pensar que não foi por acaso que as três religiões monoteístas, judaísmo, cristianismo e islamismo, nasceram nestes ambientes.
ResponderEliminarE quanto aos escorpiões eles vão comigo...sou uma entre iguais!!
Fica bem.
E sabes que eu sonho com o deserto desde criança? E que o considerava inacessível?
ResponderEliminarNão é. Pelo menos fisicamente..quanto ao resto acho que é necessário um grande despojamento para poderes comungar com ele.
Bjs. E obrigada pelo apoio.