segunda-feira, 30 de julho de 2007

Mouros




Mouros - Mauritânia/Home
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Mouros

E lá me postei eu de novo guilhotinada, sentadita numa posição que por vezes adopto, quando estou no recato do lar, e que me remete para o Sul, para o deserto do Sahara!
E faz sentido que me poste, mais uma vez, de cabeça cortada, porque a estrela da postagem é esta espécie de túnica que na Mauritânia e no Senegal toma o nome de "Boubou" e que no sul de Marrocos se chama "Gandorrá"! E eu não quero distracções.
Trata-se de uma vestimenta exclusivamente masculina, usada um pouco por todo o Grande Sahara, mas muito associada aos mouros da Mauritânia donde penso que é originária. Pode ser branca imaculada, azul clara como a que visto na fotografia, ou azul mais forte e, em qualquer dos casos, é sempre bordada a ouro.
Seja qual for a cor base trata-se de uma vestimenta que, do ponto de vista estético, é nada mais nada menos que sublime.
Esta espécie de túnica, usada a torto e a direito pelos homens mauritanos, transforma cada homem banal numa espécie de príncipe encantado, elegante e distinto, seja ele de pele branca ou negra, seja ele rico ou pobre, igualizando e esbatendo diferenças numa abordagem superficial sobre a sociedade mauritana.
A sociedade mauritana é complexa e enferma de problemas muito graves. Tendo abolido a escravatura somente em 1980 continuam, passados tão poucos anos sobre a legislação, a existir casos denunciados sobre a escravatura exercida pelos mouros, de pele branca, sobre as etnias negras. Por isso eu gostei tanto desta indumentária masculina que, simbolicamente, tudo faz esquecer por momentos, e nos remete para uma sociedade idealizada, que se afirma pelo colectivo, e em que, sem imposições, esse colectivo assume uma identidade comum e se orgulha dela. As mentalidades não se mudam de um dia para o outro e é preciso dar tempo ao tempo e não apressar demasiado as mudanças sob pena de isso ter o efeito exactamente contrário.
Mas voltemos a esta indumentária que se usa sobre uma espécie de calções chamados "Sarroal" e que podem ou não acompanhar a cor do "Boubou". Na cabeça enrola-se um trapo comprido, de vários metros, fazendo uma espécie de turbante que na Mauritânia toma o nome de "Raouli". Dentro desta indumentária, homens banais transformam-se imediatamente em seres principescos que se passeiam altivamente pelas ruas de Nouakchott parecendo levitar ao sabor do vento do deserto, por cima do lixo que cobre as ruas da capital! É uma visão impressionante e poderosa que precisa de ser vista, observada e calmamente digerida! E as manchas azuis a esvoaçar pelo deserto adentro remetem-me imediatamente para a água, azul, do mar que eu tanto gosto de contemplar.
A compra da indumentária que eu visto numa das fotografias que ilustra este "post" e nas fotografias intituladas "Auto-Retrato", provocou a risota geral dos comerciantes locais da banca onde efectuei a compra e nos comerciantes das bancas dos arredores que vieram também observar o negócio e dar os seus palpites sobre cores e tamanhos, numa venda um pouco estranha duma indumentária masculina vendida a uma mulher europeia que chegou disposta a baralhar os dados. E que chegou também disposta a dar umas boas gargalhadas... gargalhadas portuguesas que ecoaram juntas com as mauritanas, sem distinção!
Nota - E assim, Fernando, ficas a saber que eu, no post intitulado "Sesta", não estou tapada com um lençol azul!!!

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