Trabalho
"Trabalho" é o que eu respondo à pergunta "Que fazes?
Continuo a trabalhar isolada e arduamente encarnando um misto de formiguinha e cigarra porque nem uma coisa me chega, nem outra me satisfaz. Trabalho porque as coisas nunca me caíram do céu aos trambolhões e, curiosamente, continuam a não cair.
Aproveito, como sempre, esta fase mais morta, em termos de trabalho, na escola para aprimorar e adiantar o meu trabalho pessoal, aquele que não pode ser feito por mais ninguém. Durante o tempo de aulas o tempo não me chega, nunca me chegou, para fazer tudo aquilo a que me vou propondo ao longo dos anos. Este método e organização ficou-me dos anos em que acumulei 33 horas lectivas em Amarante, Toutosa e Marco de Canaveses, leccionando matérias muito diferentes entre si, tendo centenas de alunos por ano, tendo 30 minutos desde o toque na Secundária do Marco até à entrada da sala de aula em Amarante. Vivia permanentemente em trânsito, num trabalho agitado e constante que não me dava tréguas nem grandes momentos mortos. Tive de me organizar. De outra forma não teria sido possível.
Esse era o tempo dos acetatos que aproveitava para elaborar em período de férias, pesquisando aqui e ali, tirando cópias a cores que depois pintava, quantas vezes!, à mão, num trabalho amalucado que me dava muito gozo e que só dava por concluído quando me satisfazia. É a este trabalho que definitivamente estou a dizer adeus. Estou finalmente a retirar os acetatos dos dossiers onde se encontravam impecavelmente guardados e protegidos, divididos por períodos ou temas, apoiando aula a aula segundo uma organização que é a minha. Estou agora a empilhá-los, libertando espaço para as minhas apresentações em PowerPoint, impressas em modo de folhetos que são agora a coluna vertebral das minhas aulas. Os diapositivos já estão guardados num arquivo muito morto onde em breve estarão acompanhados por este material que me custou horas e mais horas do meu trabalho. Consegui aproveitar alguns acetatos que, depois de digitalizados, integrei aqui e ali nas apresentações que agora uso. Mas a maioria deles não tem agora qualquer préstimo.
Não faço isto sem pena. Estou a encostar muito e válido trabalho, estou a encostar acetatos de que gosto, pois foram feitos por mim, segundo os fins a que se destinavam. Já o disse neste blogue. Digo-o uma e outra vez. Decerto tenho a mania de ser original pois nunca me consegui ajustar muito bem a material construído por outros, nunca me consegui ajustar a acetatos enviados pelas editoras. É defeito meu. Continuo a fazer uma preparação de aulas que é a minha e que não é de mais ninguém, ajustada aos materiais que eu construo e exploro a cada aula que passa.
O meu trabalho é com e para os meus alunos. Para realidades e pessoas bem concretas, portanto. O resto é fait-divers.
E não me venham dizer que quero ser titular porque não quero. Não quero. Felizmente que para isso é necessário concorrer. Não concorrerei. A minha forma de estar na vida não passa por esse objectivo e só o termo Titular me causa repugnância. Sou Professora. Foi o que escolhi ser. E ponto final. Mas também não me venham dizer que estou a trabalhar para o Excelente. Não estou.
O meu trabalho vem de trás. De muito antes de se falar desta Avaliação de Desempenho.
Atiro-o à cara de quem me chatear.
"Trabalho" é o que eu respondo à pergunta "Que fazes?
Continuo a trabalhar isolada e arduamente encarnando um misto de formiguinha e cigarra porque nem uma coisa me chega, nem outra me satisfaz. Trabalho porque as coisas nunca me caíram do céu aos trambolhões e, curiosamente, continuam a não cair.
Aproveito, como sempre, esta fase mais morta, em termos de trabalho, na escola para aprimorar e adiantar o meu trabalho pessoal, aquele que não pode ser feito por mais ninguém. Durante o tempo de aulas o tempo não me chega, nunca me chegou, para fazer tudo aquilo a que me vou propondo ao longo dos anos. Este método e organização ficou-me dos anos em que acumulei 33 horas lectivas em Amarante, Toutosa e Marco de Canaveses, leccionando matérias muito diferentes entre si, tendo centenas de alunos por ano, tendo 30 minutos desde o toque na Secundária do Marco até à entrada da sala de aula em Amarante. Vivia permanentemente em trânsito, num trabalho agitado e constante que não me dava tréguas nem grandes momentos mortos. Tive de me organizar. De outra forma não teria sido possível.
Esse era o tempo dos acetatos que aproveitava para elaborar em período de férias, pesquisando aqui e ali, tirando cópias a cores que depois pintava, quantas vezes!, à mão, num trabalho amalucado que me dava muito gozo e que só dava por concluído quando me satisfazia. É a este trabalho que definitivamente estou a dizer adeus. Estou finalmente a retirar os acetatos dos dossiers onde se encontravam impecavelmente guardados e protegidos, divididos por períodos ou temas, apoiando aula a aula segundo uma organização que é a minha. Estou agora a empilhá-los, libertando espaço para as minhas apresentações em PowerPoint, impressas em modo de folhetos que são agora a coluna vertebral das minhas aulas. Os diapositivos já estão guardados num arquivo muito morto onde em breve estarão acompanhados por este material que me custou horas e mais horas do meu trabalho. Consegui aproveitar alguns acetatos que, depois de digitalizados, integrei aqui e ali nas apresentações que agora uso. Mas a maioria deles não tem agora qualquer préstimo.
Não faço isto sem pena. Estou a encostar muito e válido trabalho, estou a encostar acetatos de que gosto, pois foram feitos por mim, segundo os fins a que se destinavam. Já o disse neste blogue. Digo-o uma e outra vez. Decerto tenho a mania de ser original pois nunca me consegui ajustar muito bem a material construído por outros, nunca me consegui ajustar a acetatos enviados pelas editoras. É defeito meu. Continuo a fazer uma preparação de aulas que é a minha e que não é de mais ninguém, ajustada aos materiais que eu construo e exploro a cada aula que passa.
O meu trabalho é com e para os meus alunos. Para realidades e pessoas bem concretas, portanto. O resto é fait-divers.
E não me venham dizer que quero ser titular porque não quero. Não quero. Felizmente que para isso é necessário concorrer. Não concorrerei. A minha forma de estar na vida não passa por esse objectivo e só o termo Titular me causa repugnância. Sou Professora. Foi o que escolhi ser. E ponto final. Mas também não me venham dizer que estou a trabalhar para o Excelente. Não estou.
O meu trabalho vem de trás. De muito antes de se falar desta Avaliação de Desempenho.
Atiro-o à cara de quem me chatear.
E fazes muito bem! Tenho um enorme orgulho em te ter encontrado nos caminhos da blogosfera, minha Princesa do Tâmega. Tu trabalhas para a Excelência não para o excelente. São coisas diferentes. Por isso é que receio tanto por vós, que ainda estais ao serviço, receio de que sejam vítimas de injustiça. Mas bem sabes que o melhor prémio, a melhor avaliação é a que te fazes e a que te fazem os teus alunos. Um beijo da Carmo
ResponderEliminarMas como tu me entendes, Carmo.
ResponderEliminarO meu compromisso é com os meus alunos. Já vou para além disto partilhando na web todo o meu trabalho de horas e mais horas exactamente porque acho muito feio da minha parte guardar tudo a sete chaves num sítio só meu. Partilho-o porque sei perfeitamente que há fases da vida que não se compadecem com horas e horas de trabalho para fazer o que eu fiz. Partilho-o porque gosto de partilhar. Mas não estou para ouvir bocas que me irritam.
Não trabalho para o Excelente. Se trabalho para a Excelência não sei. O que eu sei e sei apenas isto, é que se não faço mais nem melhor é porque não consigo, é porque não tenho mais capacidades aqui e agora.
Quanto à Avaliação de Desempenho o que se ouve é que vai ser tudo corrido a Bom.
Irei dando novas sobre este assunto neste blogue.
Beijinhos
O chato de naõ seres titular é não passares do 6º escalão... e continuares a ganhar o mesmo o resto da vida... não é assim?? É que eu também não quero ser titular, mas essa parte do ordenado incomoda-me porque nós não ganhamos assim tanto...
ResponderEliminarBeijos
Eu fiquei "congelada" no 7º escalão. Já deveria estar no 8º há N!
ResponderEliminarEu não diria que é chato. Eu diria que é INDECENTE. Toda a minha vida vi professores escapulirem da sala de aulas o quanto podiam porque detestavam dar aulas. Alguns são hoje os directores das escolas dos quais os seus ex-alunos guardam péssimas lembranças enquanto professores. Pois quanto a mim toda a minha vida quis ser professora. É o que sou. Não troco isso por nada. Não arrisco no futuro o ter que aceitar um cargo para o qual não estou vocacionada só porque e lei me diz que os cargos são de aceitação obrigatória. Os titulares que fiquem com eles. Quanto à carreira já avisei as minhas tropas que estou no topo dela. Mas tenho esperança que no futuro a coisa mude. Palpita-me que dentro em breve os tipos não terão titulares. Ou terão?
De qualquer modo não contem comigo para isto. Tenho uma cunhada no 1º ciclo que não terá turma já a partir do próximo ano. As suas funções serão de avaliação. Achas isto normal?
Eu por mim acho que está tudo tolo.
Porcaria de país este que delapida e esbanja constantemente os seus recursos. Humanos também.
Beijinhos e boa sorte para o próximo ano.
Continuaremos em contacto.
Como a Anabela já deve ter constatado, eu sou uma amante da arquitectura. E não é que, ao passar por aqui aprendi que o "mezanino" já existia na arquitectura do IV milénio(neolítico).
ResponderEliminarPois já. Kakakakaka. O que mais há são apropriações e recriações também em arquitectura. A invenção ficou lá muito atrás no tempo. :)
ResponderEliminarOutra afinidade entre nós: também fiquei (com a carreira) congelada no 7º escalão.
ResponderEliminarConcordo contigo, Anabela, e reitero o que já escrevi no teu blogue: muitos titulares só terão o título, nada mais... zero de paixão pelo ensino, pelo aprender com os seus alunos, e, pela renovação dos seus conhecimentos.
E os outros cargos?
Já assisti a quem não queria exercer determinado cargo quando eleito...e tivesse passado a querer... muito... quando nomeado. Linda coerência! Lindo Estatuto! Linda Dignidade Profissional!
E mais não direi...
Ah! Como adoro Pessoas com a tua verticalidade ética, frontalidade e Autenticidade!
ResponderEliminarQue hei-de eu fazer, Elsa? Não me conseguiria olhar ao espelho pela manhã. Não consguiria adormecer em 10 minutos sem pastilhame, que é como adormeço todas as noites.
ResponderEliminarEstou a precisar de férias. Começo a ficar nirviosa!
Estou a precisar de FÉEEEERIAS!!!!!!!!!
Conseguiria, é conseguiria!
ResponderEliminare vc? anda a "xaratear" os nossos priminhos antepassados de xiroquitea?
ResponderEliminarhein???
Não acha as casitas de xiroquitea catitas?
ResponderEliminarAssim a modos que futuristas?!
ós primeiro papá-ri;ós despois xaratear!
ResponderEliminarOKI?
O trabalho deve ser sempre feito com paixão, as recompensas deveriam ser, sempre, proporcionais à paixão.
ResponderEliminarQuem não pretende ser melhor, deixa imediatamente de ser bom.
Um abraço.
Felizmente há muita gente que me compreende e a minha esperança é que sejam cada vez mais os que como eu se esforçam e dão o litro por aquilo em que acreditam. Não estou a falar chinês e muito menos árabe.
ResponderEliminarTenho por parceiro de vida um indivíduo que sempre me disse "Fizeste bem? Não fizeste mais do que a tua obrigação."
Está interiorizada, e com o tempo enraízou em mim, esta vontade de fazer o melhor que posso e sei. E ponto final. Para mim isto não tem discussão.
Obrigada, Armando.
Anabela, tu és desconcertante... Quando toda a gente começa a falar e a pensar em férias, falas de "trabalho".
ResponderEliminar.
E fico feliz porque fazes isso não por ti, nem por causa dos tais "méritos" muitas vezes disfarçados, mas pelos alunos, porque gostas do que fazes, porque sentes que vale a pena... porque és feliz assim... por vocação e amor. E nos contagias.
.
Continua o teu canto de misto de cigarra e formiga. É de pessoas com a tua fibra (e da Carmo e muitas outras e muitos outros, e que graças a Deus ainda são muitos, não achas?) que precisamos.
.
Carpe diem!
E o engraçado, Raul, é que acho que já entrei oficialmente em férias. Se bem que férias para mim implicam sair do burgo. Até lá há trabalho. Depois saio e corto. Mas é que nem me lembro.
ResponderEliminarEngraçado tu dizeres que eu sou desconcertante. Estou com o Artur há 31 anos...:)... uma vida... :) e há uns tempos ele virou-se para mim e disse-me "Passados todos estes anos conseguiste surpreender-me." Sem te dizer a que propósito foi digo-te só que foi a propósito duma coisa importante. Para mim e para ele. :D
Fica bem
Beijinhos
Anabela, comoveu-me a tua partilha. E que sejam mais outros trinta e um ( e com alguns "trinta e uns" pelo meio) e com surpresas de quando em vez.
ResponderEliminar.
Carpe diem!
Ficou entre nós... kakakakaka... que ninguém vem aqui ler isto!
ResponderEliminarComo eu a compreendo, Anabela Magalhães!
ResponderEliminarNoutro contexto embora, lembra-nos os pedreiros das catedrais medievais, de que ainda, há poucos dias há, nos deu, aqui, neste seu espaço, mostra de «resultados» na vizinha nação espanhola. Empenhavam-se, com todo o seu esmero, até à exaustão, em rendilhar pedras até mesmo nos bem recônditos lugares em que nem os capatazes os enxergavam. Apagando-se, nas suas vidas, a fazerem a mais nobre das artes, que era o darem o melhor de si próprios ao trabalho das pedras. E justificavam-se plenamente, de convictos que estavam, por trabalharem... para Deus. De Férias Boas goze, Anabela.
Um beijinho, do seu, de coração, Ochôa, Professor.
Faço isto com o mesmo empenho e esmero como quando calceto caminhos na Barca. Se não me agrada o produto final, desfaço tudo e volto a recomeçar. Faço isto convicta de que é a minha obrigação. E enquanto o faço gozo que nem sabe. Já trabelhei de modo mais solitário. Agora tenho por aqui o Clap a fazer-me soltar de quando em vez umas sonoras gargalhadas. :)
ResponderEliminarBeijinhos
Esquecia-me de sublinhar o mais extraordinário deste seu post «trabalho... trabalho» -- é o ignorado deste «nosso» trabalho de profs. Tive em 36 anos de serviço exemplo com minha «consorte companheira» intra muros de minha casa. Ninguém vê como noutro lugar sublinhei o «calvário» de um professor que se preze de o ser como deve ser. A paga -- a fora um sorriso amigo de alunos -- é «invisível» e isto por décadas seguidas. Não estamos nos telhados das catedrais mas cá fora mas connosco trazemos décadas de canseira. Por mim ceio que não vã apesar de tudo. Os meus parabéns, Anebela, pois adivinho, como a muitas e muitos «colegas» verdadeiramente digna e dignificando a «profissão». E renovo o voto das bem merecidas semanas de férias lhe serem e correrem boas boas boas!
ResponderEliminarOchôa
Procuro não me envergonhar perante os meus alunos. E perante eles ser uma pessoa digna. E perante eles dignificar a minha/nossa profissão.
ResponderEliminarÉ absolutamente necessário fazer isto. Ficarmos de braços cruzados enquanto a tutela nos afunda? Eu não, obrigada. Mas é que não faz mesmo o meu estilo. Esbracejo e esperneio até à exaustão.
Obrigada pelas suas palavras, Ângelo. Desejo de excelentes férias também para si.