sábado, 6 de setembro de 2008







Jardins - Aqui e Ali - França
Fotografias de Anabela e Artur Matias de Magalhães

França - Inveja

A inveja, um dos sete pecados mortais segundo a religião católica, é um sentimento que eu experimento de quando em vez. Safa-me o facto de não ser católica e de, por isso, a experimentar sem arrependimentos nem constrangimentos. A inveja que eu sinto também é uma inveja que posso englobar na categoria de inveja salutar. Vejamos.
Pois deu-me para invejar a agricultura francesa. Depois de percorridas tantas regiões de França, a fugir a sete pés de vias rápidas, auto-estradas e grandes centros urbanos, só me resta tirar o chapéu aos franceses. Se me fosse pedida uma palavra para classificar este país, a palavra que eu escolheria seria jardim. Com efeito a França é um jardim onde dá gosto caminhar, que dá gosto percorrer, inteiramente cultivado, com campos enormescos de girassóis, vinhas a perder de vista, alcachofras em vários estádios de desenvolvimento, campos e campos de cereais diversos, prados onde pastam rebanhos e manadas, campos extensos de couves, entrecortados, aqui e ali, por pequenas zonas de floresta.
É uma organização do espaço rural que já pouco tem a ver com a nossa organização, excepto nalgumas poucas regiões, uma vez que o que o característico do nosso campo, aqui no nosso interior, é mesmo o abandono, a tristeza, a desolação dos silvados e giestais que crescem sem controlo absolutamente nenhum.
Deliciei-me nestas férias a olhar o campo. A absorver uma paleta de cores diversa e atractiva, numa França com um relevo pouco acidentado.
A juntar a tudo isto as hortas, muitas a confundirem-se e a misturarem-se, literalmente, com os jardins. Fila de dálias, fila de tomates, fila de roseiras, fila de favas, fila de malmequeres, fila de alface, fila de rosmaninho..., intercalando horta e jardim numa mistura atractiva e saborosa. Sábios franceses que, das classes mais baixas às mais altas, andam ao ar livre a gozar a natureza, a tratar da horta, do jardim. Vi-os eu, por todo o lado, cuidando dos seus jardins.
E senti inveja do jardim deles.

11 comentários:

  1. Parabéns pelo espírito "somos uma merda e devemos seguir os exemplos dos outros", ao invés do pensamento "somos uma merda, mas que se lixe, somo bons, pelo menos nos 3 F's - falta de emprego, falta de educação, falta de segurança"(eu sei que são mais de 3 F's,...).

    Porque a inveja não é um pecado, mas sim o sentimento de querer melhorar

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  2. Vim com tanta vontade de fazer mais e melhor que hoje estava na Barca às 8 da manhã, trabalhei até às seis da tarde, de pá e pica como costumo dizer, limpei muros, limpei mato, fiz caminhos.
    No final senti-me portuguesa a trabalhar como uma moura!
    Mas lá que o meu pedaço de terra ficou mais catita, lá isso ficou!
    Ah! Agora estou aqui que nem posso!
    Só duas correcções.
    Não somos uma merda, Nuno. Estou plenamente convencida que temos um problema sério de lideranças. E assim se explica que sejamos tão bons como os outros lá fora.
    E devemos seguir os bons exemplos dos outros e aprender com eles. E tentar fazer sempre mais e melhor.
    Bj

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  3. Não é esta inveja que certamente a Igreja Católica inclui nos sete pecados... esta é saudável. E se é um sentimento de querer melhorar... quase que poderíamos falar em virtude.
    .
    E a cultura que os franceses têm em relação à preservação da natureza e o amor que têm aos jardins é histórico e está-lhes no sangue.
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    E que bom é trabalhar no campo, não é Anabela? Nós estamos um pouco tristes com o mau tempo e o vento que ontem sentimos por aqui... tombou-nos o milho todo, assim como estragou algum do tomate... é a mãe natureza. Nesta altura, normalmente, o nosso milho já costuma estar apanhado e na eira a secar mas este ano...
    .
    Fico feliz pelo teu encanto e amor em trabalhar a terra.
    .
    Carpe diem!

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  4. Campos bonitos e cultivados... que falta nos estão a fazer e nós temos tanto potencial!
    Enfim, será da latinidade!

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  5. Ok, Raul, aceito a tua correcção já que nessa matéria és peixinho dentro de água. De facto a minha inveja é salutar, é sempre no sentido de pensar "Bolas! Se eles conseguem eu também consigo."
    Quanto aos franceses eles têm uma relação com a natureza muito especial. E é vê-los de bicicleta para todo o lado, e é vê-los em caminhadas, bordão na mão, em grupo ou sozinhos, para trás e para a frente. E é vê-los a jardinar. Tudo de tesoura de poda nas mãos ou de mãos na terra. Foi gostoso de ver. E fiquei a pensar.
    Se relativamente à alegria de viver eu tenho uma costela espanhola, relativamente à minha relação com a terra devo ter uma costela francesa! kakakakaka
    Bjs

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  6. Não me parece que seja da latinidade, Helder. Espanha está igualmente toda cultivada de Norte a Sul, muito embora o campo espanhol não seja tão bonito como o francês, pois é mais monótono e há muitas zonas de estufas, o que o torna mais desagradável. E a parte da Itália que conheço está igualmente um brinquinho.
    Vai daí pergunto-me: O que nos faz desrespeitar assim a terra que nos foi legada pelos nossos antepassados? O que nos faz perder campos murados, feitos com tanto esforço e trabalho duro pelos nossos antepassados, em giestais e silvados de tal ordem que mais parecem mais monte?
    O que explica o facto do nosso monte estar a monte onde se sustitui espécies endémicas por pinheiros e eucaliptos numa lógica destruidora e predadora de recursos a médio e longo prazo?
    Tens explicações para isto, Helder?
    Não pode ser a pobreza económica porque Marrocos, um país bem mais pobre e desiquilibrado que o nosso, dá cartas no aproveitamento dos solos agrícolas.
    Enfim...

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  7. Ai ui jardins bonitos lol!
    Mas o que eu quero é que passe pelo msn para terminarmos aquele assunto! Pode ser?

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  8. Muito belos os campos de girassóis. São da região do Lot?

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  9. São de lá perto e quem os vê nunca mais os esquece, não é assim Passiflora?
    A fotografia foi tirada algures no vale do Dordonha,imediatamente a Norte do rio Lot.
    Região bonita esta!

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  10. É verdade Anabela vi-os (os campos de girassóis) há vinte e dois anos, na região do Lot e nunca mais os esqueci. Diga-se que andei 15 dias de bicicleta e de caiaque pelo meio deles.

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  11. Diria então que há vinte e dois anos a Passiflora portou-se como uma verdadeira francesa! Ou seja uma turista muito, mas mesmo muito, próxima da natureza.
    É que eles continuam com esse estilo de vida. De bicicleta e a pé pelos trilhos e estradas quase sem movimento automóvel, de rafes e canoas rios abaixo, de cana de pesca nas mãos, tranquilamente, a pescar, de tesoura de poda e outros apetrechos nas mãos a jardinar e a bricolar... ai, ai o que eles bricolam!
    Campo tranquilo o francês.

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