quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A Alegria da Partilha
A Alegria da Partilha
Desta vez não é um post sobre a dimensão da minha fúria. Desta vez não é a resposta àquela coisa mesquinha de saber em que sítio da página da ESA foi colocado o link para a minha página de recursos, se à esquerda, se à direita, se na página de abertura ou na página do meu departamento, como se isso fosse relevante ou valorizador da minha pessoa, ou até do meu trabalho.
Não, desta vez o meu post não tem nada a ver com coisas desse calibre ridículo.
Desta vez vou escrever um post inteiramente dedicado à alegria da partilha entre gente civilizada.
Ontem, quando pouco passava das 13 horas da tarde, entrou-me uma notificação de mensagem de um tal de Vitor Menas que me fez sorrir e comentar com o A, mesmo ao meu lado, "Deve ser um colega a pedir os códigos das apresentações."
Com efeito, desde que publiquei os recursos em PowerPoint na minha página web recebo, amiúde, pedidos de códigos, que eu não posso satisfazer devido às razões já expostas na própria página e neste mesmo blogue, muito embora com grande pena minha.
Ora o meu palpite revelar-se-ia completamente infundado e o conteúdo da mensagem do Vitor deixou-me deveras surpreendida e sensibilizada.
O Vitor revelar-se-ia, afinal, um encarregado de educação, que eu não conheço, e que entrou em contacto comigo para me agradecer esta partilha que eu defendo e, mais importante ainda, que eu pratico, para me agradecer pelo meu trabalho, aquele que eu desenvolvi e desenvolvo apenas porque sim.
Porque me sinto de algum modo pioneira, pelo menos no meio onde me movo, desta partilha que eu defendo com unhas e dentes, e que pratico apesar da catástrofe que se abateu sobre a Escola Pública Portuguesa, chamada de ADD, e que já despoletou os comportamentos mais abjectos, mais absurdos, de intriga e de queixas e de queixinhas que já foram aflorados, apenas aflorados, neste blogue, partilho esta troca de correspondência entre mim e o Vitor reafirmando que vale a pena partilhar. Apesar dos riscos inerentes à exposição, e os meus leitores mais antigos devem estar lembrados do ataque torpe de um canalha à minha pessoa, e ao meu trabalho, no ano de 2008, quero reafirmar, aqui e agora, que jamais me arrependi desta partilha iniciada no já longínquo ano de 2007.
E aproveito este post para desafiar outros a fazerem o mesmo. Editem os vossos materiais pedagógicos. Vamos mostrar à ministra e aos seus secretários de estado porque não pode tratar-nos de professorzecos. Este é o caminho correcto. Canalizemos as nossas energias para algo de positivo. E o algo de positivo é trabalho constante na Escola Pública, direccionado para os nossos alunos, trabalho constante em todos os lugares onde nos encontremos contra um ME invulgarmente incompetente.
Aqui deixo o mail recebido do Vitor, que publico com a sua autorização, aproveitando mais uma vez para lhe agradecer, agora publicamente, tão generosas palavras.
Cara professora, tenho um enorme prazer em utilizar o seu excelente trabalho como grande apoio ao meu educando, e agradeço-lhe em nome de um ensino com qualidade o facto de estar acessível a quem o procure. Só é pena que os burocratas nos gabinetes ignorem estas mais valias da educação e tentem valorizar o que não tem nem nunca terá valor.
Bem haja quem!
Cumprimentos
Vitor Menas
E agora a minha resposta... que diacho, acho que exagerei na escrita!
Vítor Menas
Foi com enorme prazer que li o seu e-mail e confesso-lhe que o seu cuidado, atenção e delicadeza revelados para comigo, deixaram-me até comovida, não só pelo conteúdo da missiva, mas também porque foi a primeira vez que um encarregado de educação, que eu presumo desconhecer, me agradeceu pelo trabalho por mim desenvolvido.
As apresentações em PowerPoint, que publiquei na minha página de recursos, são o resultado de um trabalho imenso e árduo, de anos, que jamais me será pago pelo Ministério da Educação e que eu considero saldado sempre que vejo os olhitos dos meus alunos a brilhar dentro da minha sala de aula. A partilha deste material resulta, em primeiro lugar, dos pedidos mais do que insistentes da parte deles para que eu lhes disponibilizasse este material, o que me fez meter pés ao caminho e aprender a fazer uma página web, coisa completamente desconhecida até então para mim. Poderia ter deixado o acesso reservado aos meus alunos, mas optei por partilhar com o mundo o meu trabalho. Tenho a firme convicção que partilhando experiências e trabalho "o mundo pula e avança" mais rapidamente e melhor. Defendo, afirmo e pratico.
Ironia das ironias, hoje, com a Avaliação do Desempenho a entrar como uma bomba de fragmentação escolas adentro provocando uma degradação, nunca por mim vista anteriormente, no entusiasmo, na alegria, na tranquilidade, na disponibilidade, no tempo necessário para se proceder a um trabalho destes, confesso-lhe que jamais conseguiria produzir o que produzi no passado. Papéis, papéis, papéis em quintuplicado, tudo fotocopiadinho e arquivadinho em pastinhas de Lúcifer, relatórios e mais relatórios, reuniões em cima de reuniões, justificações e mais justificações, tudo por escrito, tudo monitorizado... que aberração quando toda esta monitorização só nos serve para tolher os passos, só nos serve para impedir de caminhar.
Desculpe-me o desabafo Vítor, mas não pude deixar de o fazer, magoada que estou pelo tratamento dado a todos os professores, tratados como um bando de anormais, um bando de malandros, um bando de doidos e de incompetentes por estes políticos.
Voltando ao conteúdo do seu mail deixe-me dizer-lhe que fico muito feliz por ser útil ao seu educando. Espero poder contribuir para que ele desenvolva o gosto pelo conhecimento, neste caso histórico.
Deixe-me ainda confessar-lhe que, não estando completamente satisfeita com o trabalho já desenvolvido, estou a reformular as apresentações para o 7º ano de escolaridade.
E em tom de desabafo último, gostaria que o Ministério da Educação não me impedisse de prosseguir o meu trabalho.
Grata pelas suas generosas palavras e pela sua atenção.
Ao dispor
Anabela Magalhães
Faço-lhe ainda um pedido. Pela importância que dou à partilha que conscientemente faço arriscando críticas, mas também recebendo provas de carinho como esta, pela minha determinação em mudar mentalidades, mesmo entre os professores, muitos de nós com materiais de apoio espantosos fechados a sete chaves em plataformas Moodle promovidas pelo ME, deixa-me publicar o seu e-mail apelando de novo à partilha pública de recursos pedagógicos, sem portas fechadas?
Agradeço-lhe mais uma vez e aguardo a sua resposta
Anabela Magalhães
Parabéns!
ResponderEliminarSão iniciativas destas que dão alento. Provavelmente, muitos pais e EE nem se apercebem da existência dos recursos, ou já terias uma chuva de agradecimentos.
Nem tudo é mau! Haja esperança!
Isto muda, ainda que de va ga ri nho.
Obrigada, Elsa, já sabes que esta é uma das minhas cruzadas!
ResponderEliminarDe va ga ri nho lá vai mudando... espero...
Xiiiiiiii.... esqueci-me de agradecer de novo aos meus farmacêuticos... pelo exemplo! :)
Força! Sempre em frente.
ResponderEliminarIsto vai pé ante pé!
:)
Olha Elsa, leva hífens?
hífenes!
ResponderEliminarAnabela, fez-se justiça!
ResponderEliminarAinda há gente com boa formação.
Agradeço a esse Senhor Encarregado de educação, pela sua atitude de grande elevação, ao contrário de alguns outros que conhecemos...
Parabéns Anabela, Hoje fez-se Educação!
Obrigada, Helder, agradeço-te o teu comentário e aproveito para te agradecer, mais uma vez e nunca serão as suficientes, o apoio que sempre me deste para levar o meu trabalho a bom porto.
ResponderEliminarBeijinho
Celebremos! que tal, um...Leitão?
ResponderEliminarOlha, Clapinho, um leitão até que seria bom!
ResponderEliminarDepois de um dia de aulas das 8:30 às 16:40, para depois ter três reuniões de enfiada a terminar às 19 horas e ter de assistir ao que eu tive.... só te digo que mereço vários leitões!
Por isso, venham eles, para me consolar, porque a Escola está INSUPORTÁVEL!
A propósito:
ResponderEliminarA primeira fase do saber, é amar os nossos professores.
Erasmo
Não conhecia a citação.
ResponderEliminarSubscrevo-a por inteiro e lembro-me que comigo, enquanto aluna, foi exactamente aquilo que se passou.
Saudades das aulas da Lalinha, da Filó, da Francisca, da grande Emília Barros... todas do Ciclo Preparatório, do Liceu e da Secundária. Curiosamente tenho péssimas recordações da maioria dos professores universitários... excepção aberta para um ser de um humanismo e sabedoria a toda a prova, Frei Geraldo de seu nome, e para o Adão da Fonseca, que marcava todo o departamento de História Medieval.
Amei elas e eles... e as disciplinas que elas/eles me leccionaram pareceram-me sempre tão leves...
Também eu. Tenho belas lembranças dos professores do Liceu e da minha professora do ensino primário, de seu nome Gina.Já na Faculdade não posso também dizer o mesmo... Éramos muitos trabalhadores/estudantes e lembro-me de uma situação, em que uma colega não conseguiu apresentar a tempo, um relatório. A professora disse-lhe que deixasse de trabalhar, que resolvesse o problema. A colega desistiu.
ResponderEliminar:(
Relembro a história passada com um doido que me leccionou Matemática, no primeiro ano da faculdade.
ResponderEliminarUma colega minha, desconhecida, numa das filas da frente diz: "Senhor Professor, não se importa de me explicar de novo o exercício porque eu não percebi?"
Resposta do doido numa gritaria
"Que meeeeeeeerda! Eu não estou aqui para explicar não sei quantas vezes a mesma coisa!"
Sala petrificada.
Observação minha, de osso duro de roer desde nova, enquanto arrumava os meus materiais, e me levantava: "E eu não estou aqui para aturar anormais!"
E saí da sala de aulas para só voltar a entrar e a encarar aquele senhor nas duas frequências.
Fiz a cadeira com dez. Mas não mais o aturei.
Esta é nova aqui no bloguito. Um dia passo esta história para o corpo do blogue. Esta e outras, que eu tenho várias interessantes, Dudú.
:)
Há certos espécimes nas Universidades que pensam ter o rei na barriga. Intelectualóides de meter dó!
ResponderEliminarObrigada por existires, oh rainha da partilha! :)
ResponderEliminarSão pessoas como tu que ainda nos fazem acreditar que vale a pena!
Já sabes, Maria, que partilho por estar convicta de que este é o caminho do desenvolvimento colectivo. Se com o meu ínfimo exemplo conseguir influenciar mais uns quantos... bem, isso era ouro sobre azul!
ResponderEliminarE quero lá saber do resto!
Beijocas