quarta-feira, 22 de abril de 2009

Frustração

Nem sei porque ainda não desisti de subir aquela porra daquelas escadas que me levam à direcção da escola que por ora também é minha. Decerto é porque sou teimosa quando estou convicta da razão que me assiste ao apresentar as reclamações que considero pertinentes para ajudar a melhorar o funcionamento da ESA. Mas parece-me que terei de desistir porque, de facto, não tenho muita paciência para chover no molhado.
As aventuras com os projectores foram mais que muitas, durante estes já quatro anos de utilização dos ditos pela minha pessoa. A começar pelo facto de durante todos estes anos ter de os carregar de sala para sala, de pavilhão para pavilhão, quantas vezes prescindindo mesmo do meu intervalo para poder adiantar serviço e prejudicar o mínimo possível os alunos. De facto a ESA não tem funcionários em número suficiente para assegurar aos professores que quando entram na sua sala de aula têm todo o material que precisam para a mesma, muito embora fosse essa a situação desejável e assim eu seria uma pessoa mais feliz por ver que os meus impostos eram canalizados para pessoas no activo e não para subsídios que alimentam, quantas vezes, a desresponsabilização colectiva. Mas adiante.
Durante todos estes anos os meus problemas prenderam-se quase todos com a falta de extensões que permitiam a ligação do meu pc ao dito projector. Inúmeras vezes subi as escadas e perguntei se para além do pc não seria melhor trazer de casa a porcaria de uma extensão dentro da maleta pedagógica, porque por cada vez que a resposta da funcionária era "Não há nenhuma extensão no pavilhão." lá entravam os meus alunos em acção a desencantar as ditas num outro pavilhão qualquer. E enquanto isso tinha a aula empatada, e ficava a pensar no sentido que faz ter pc, projector e não ter a porcariazeca da extensão que custa para aí uns 5 euros! E ficava a pensar que porcaria de país é este que encara esta situação com a maior das normalidades não conseguindo entender o prejuízo causado aos alunos com cinco minutos de aula perdida aqui, dez minutos ali, mais quinze acolá!
Pensei ter o problema definitivamente resolvido quando assisti, no final no segundo período, à colocação de projectores fixos em quase todas as salas da ESA e esfreguei as mãos de contente pelo alívio que darei às minhas costas, depois de quatro anos consecutivos de trabalhos quase forçados, de carrego de material de sala em sala, de pavilhão em pavilhão.
A semana passada foi uma maravilha! Cheguei com o meu pc, liguei-o ao projector, e o sistema mostrou-se oleado como se sempre tivesse funcionado assim.
O problema aconteceu ontem. Dizem-me que os projectores estão codificados e que agora só funcionam com comando. Lá peço o comando à funcionária, mas eis que o projector está desligado da tomada e depois de o ligar ele me pede palavra passe para iniciar a ligação. Chamo a funcionária que desconhece por completo a dita cuja e me diz que só a D. Maria José me poderá resolver o problema. Peço para a chamar, o que ela faz de imediato. Pelo meio dito o sumário e converso um pouco com os meus carpinteiros.
Depois de alguma espera eis que chega a D. Maria José, ofegante de cansada, vinda de resolver um problema semelhante noutro pavilhão. Em segundos introduz o código e desbloqueia a situação e quando lhe peço para me dar o código diz-me que tem ordens expressas da direcção para não fornecer os códigos aos senhores professores.
Não fornecer os códigos aos senhores professores?! Ora essa!!! Mas se os projectores foram instalados para nós os utilizarmos... não estou a ver muito bem a lógica disto!
E se acontecerem vários problemas destes ao mesmo tempo? E se a luz vai abaixo um segundo e tem de se introduzir o código em todos os projectores da escola que são para aí uns quarenta, pergunto eu? Pois, concorda a senhora, ela própria não consegue ver como poderá resolver a situação, mas são as ordens que tem.
E pronto, tocou para fora e lá subi eu as escadas para apresentar, a quem de direito, este constrangimento ao meu trabalho, criado pela própria escola.
Pois..., sim..., não..., mas..., se..., talvez..., a ver vamos..., não se fornecem os códigos porque há professores com comportamentos irresponsáveis, os professores também davam aulas antes de existirem projectores, os professores têm sempre que ter um plano B para a aula... e já agora, pergunto eu, por que não um C ou mesmo um D? E não estará na hora de fazer discriminação positiva e dar um voto de confiança a quem sempre se esforçou por a merecer? Pois..., sim..., não..., mas..., se..., talvez..., a ver vamos...
E é por esta falta de apoio ao meu trabalho que eu me sinto a cada passo frustrada, porque acho que é competência da Direcção duma Escola meter as mãos na massa e corrigir de imediato o que vê que está a funcionar mal. Porque olho para trás e acho que o problema das extensões deveria ter-me acontecido uma vez e não mais do que uma vez. Porque olho para a frente e só concebo ter um plano B de aula em duas situações e não mais do que duas situações: avaria do material ou falha prolongada de electricidade. E mais nada. E mais nada.
Será que eu é que estou errada nesta história?
Será que agora que tenho projectores fixos dentro das salas de aula, desejo meu, mais do que antigo que agora se concretizou, tenho de ponderar comprar um aparelho destes para dar a volta aos constrangimentos de trabalho que me são impostos na ESA?

20 comentários:

  1. Já nem sei como classificar semelhante atitude. Ainda por cima que as salas de aula na ESA estão abertas e vamos ter os alunos a desligarem a porra do material, divertindo-se à nossa custa a torto e a direito.
    Não seria de evitar? Pois parece que não!
    Como diz a Dudú, sem comentários...

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  2. Amiga: antigamente, num antigamente já remoto e esfumado no tempo, éramos os «senhores professores...» -- agora, e por experiência recente de pouco mais de um ano falo, somos tudo menos senhores professores... não sei de vossa escola, mas aqui bem perto de minha secundária de mais de trinta e tal anos de trabalho que agora fixo nos poentes róseos da Setúbal acabámos por ter que: levar as chaves da porta da sala de aula, e abri-la, matricular meninos, fazer propaganda do bom nome de nossa escola, imprimir nós mesmos nossos testes e não sei que mais de um sem número de afãs do kafkiano rol... só falta como amargamente escrevi uma vez lavar meninos e meninas com água de rosas... a paga é ainda a mesma: a «tuta e meia» (no dizer de Sebastião da Gama) ao fim do mês, e um sorriso maroto de simpatia de uns ou umas ex-aluno(a)s... passados os tempos da travessia do deserto, a coisa, pelos vistos, vai de mal a pior.

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  3. Ângelo, na minha escola os professores já lavam meninos! Parece brincadeira, mas não é! Somos pau para toda a colher. Agora também alvo da desconfiança dos chefes.
    Arre, que mais nos irá acontecer?!

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  4. Continuo a contar os anitos para me ir embora... penalizada, mas ainda sã, espero!
    Estou saturadíssima, aflige-me pensar assim, mas é o que se está a passar comigo e, na minha escola, com mais uns quantos colegas(já são muitos)!

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  5. E na minha o ambiente é o mesmo! Jamais vi semelhante coisa e jamais sonhei ver semelhante coisa!
    Que tristeza de governantes nós temos! Que chefias tristes nós temos! Que país mais ridículo, este!

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  6. É um desalento terem-nos feito chegar ao ponto de querer ficar mais velho, para deixar rápido a profissão. Sabes o que dizia eu hoje a uma colega (30 e poucos anos e já saturada)? Tenho a noção que já dei o meu melhor, a sério. Agora sou o ombro amigo dos miúdos cheios de problemas e carências afectivas.
    Hoje, uma miúda do 9ºano sentou-se no meu colo, para acalmar...Enfim, tenho para ali "montes" de filhos...

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  7. Temos, Dudú! Temos! E é por eles que devemos continuar.

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  8. Deve ser o dito plano tecnológico!
    Inacreditável!!!!!!!!!!!

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  9. Já estás bem?
    Eu hoje estou absolutamente sem voz! Que raio de sorte a minha!

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  10. Gastamos a voz com surdos, pudera!
    O que mais dói é falta de confiança. Como é possível.
    Há muito que tenho no cacifo na escola: um rato, uma extensão e um cabo de net. Mesmo assim é impossível trabalhar lá porque o ambiente é barulhento e a rede não anda.

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  11. Espero que melhores rápido.
    beijocas grandes

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  12. A IRRESPONSABILIDADE DOS DOCENTES É O PRIMEIRO REFLEXO DA ACÇÃO DIRIGENTE
    De pequenos poderes e pequeninos controlos se constrói a autoridade de quem ainda não descobriu na instituição o valor da responsabilidade partilhada em liberdade.
    O que faz um director numa escola com alunos em que os docentes são irresponsáveis, segundo o próprio director?...
    Fazendo a ginástica mental possível, tentando acompanhar o alcance do descarrego e perspectivar uma conclusão para a discorrência, um dia destes na Escola Secundária de Amarante (ESA) serão os alunos e Encarregados de Educação a questionar a responsabilidade de um director de escola assim adaptado, conformado e acomodado à 'irresponsabilidade' dos docentes.

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  13. Ocupar um posto de chefia exige muita cultura democrática, muito bom senso e muito respeito pelos outros. Exige também saber escutar os subordinados. Estes têm a obrigação de chamar à atenção para o que consideram funcionar mal e é fruto deste trabalho partilhado com responsabilidade que as instituições melhoram e se tornam mais oleadas. É o que eu penso. É assim que eu actuo com os meus subordinados, que também os tenho, e nunca me dei mal com esta atitude. Basta ver a minha Fadinha do Lar, a trabalhar comigo há 23 anos e a não me trocar por nadinha deste mundo! Isto só para citar um exemplo.
    O problema, Extramar, é que uma grande parte das pessoas que ocupa cargos neste país não está preparada para os ocupar, e mal os ocupa empoleira-se, monta o estrado virtual para que toda a gente note que está num plano mais elevado, e toca de dar ordens de cima para baixo porque se acha superior. Nem estou a dizer que seja este o caso concreto, que não o vou agora aqui discutir, mas parece-me, de facto, que existe uma enorme falta de cultura democrática neste país onde por norme se interpreta o não estar de acordo com o estás contra mim, quando muitas vezes não é o caso.
    Humildade precisa-se.
    Para esta gente aconselho uma estadia no Sahara, por um período não inferior a uma semana... e se esta gente, montada nas merdecas dos poderzecos de cáca, não tomar consciência de que o que fizermos ontem não pode ser apagado, e a forma como tratamos as pessoas pode deixar marcas para sempre, se nem com as privações enormes do Sahara tomarem consciência do quão pouco importante cada um de nós é, então dou estes casos como irremediavelmente perdidos.
    E ele há casos perdidos, Extramar, que nem com as privações do deserto vão lá.
    Pronto. Divaguei. Obrigada pela colaboração.

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  14. A ideia está excelente - embora o propósito enunciado possa não ser alcançado - deve-se lhes dar como rumo o caminho do deserto.

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  15. O deserto sim, mas não o meu... que esta gente conspurcaria irremediavelmente o dito!

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