domingo, 12 de abril de 2009

At Home


Home - Fez - Marrocos
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

At Home

Eis que chego de novo a casa, depois de percorridos alguns milhares de km em terras de sua majestade, o rei Mohammed VI, depois de percorridas as terras onde me continuo a sentir como um peixinho dentro de água, passados já dezanove anos sobre a minha primeira experiência marroquina.
Todas as viagens são diferentes, principalmente quando se viaja como nós, ao sabor do momento, sem nada marcado, que quem tem amigos tem tudo e eu já posso dizer que os tenho em Marrocos, espalhados por aqui e por ali, e que me acodem ao primeiro ai.
"Não há quartos aqui no riad?!"
"Pas de probleme! Levo-te a outro onde os há!"
"Será que a pista para Télouet está transitável?" E há logo um telefonema que confirma o facto.
"O lago Irikki está com água?"
"Mas é claro que está depois deste Inverno chuvoso como não se via há trinta anos aqui pelo Sul!"
E a viagem faz-se assim, de improviso, sem saber onde dormiremos, onde comeremos, o que veremos.
O país reencontrei-o mais verde do que nunca, mais encharcado do que nunca, as albufeiras cheiinhas de Norte a Sul, os lagos de Merzouga, durante tantos anos completamente secos, estão agora enormescos e transbordantes de vida!
O país atrasado e pobre, olhado de soslaio por muitos turistas que o visitam e se ficam por um olhar superficial sobre as gentes, as paisagens, as cores e os sabores, revela-se para nós em todo o seu esplendor, em hospitalidade e acolhimento primoroso, a nós que nunca o olhamos de cima para baixo, a nós que nunca o olhamos como quem olha um parente pobre, mas que sempre o olhamos como a um igual, em muitos aspectos reconhecendo até uma certa superioridade. Superioridade agrícola, logo para começar, que o país parece Espanha, ou mesmo França, de tão bem aproveitado que está. Tudo o que pode ser cultivado está cultivado, das grandes planícies cobertas de cereais do Norte, aos pequeninos talhões dos oásis do Sul que produzem, para além do trigo, as amêndoas, as laranjas, as romãs, as favas, os tomates, as tâmaras, num esforço sobrehumano de respeitar e admirar.
Marrocos deixa-me a pensar no meu Norte, tão abandonado, as terras improdutivas cobertas de mato, as florestas em estados calamitosos e excelentes para pasto de chamas e tanta gente que não faz nada por este país fora! Mas adiante.
Depois superioridade no Ser. De facto os marroquinos, no geral, têm menos do que nós portugueses, mas estão longe de estar deprimidos enquanto população. Muito pelo contrário! Vêem o seu país avançar, avançar a olhos vistos, melhorando o dia-a-dia de populações de sorriso aberto e de riso contagiante que amiúde explode em sonoras gargalhadas. E eu deixo-me ir e gargalho com eles esquecendo-me desta porra desta crise onde nos trouxeram os políticos que, feitos com gestores e administradores e economistas trataram mas foi da sua saúde financeira marimbando-se para o resto. "Crise, qual crise?" perguntam-me eles em jeito de resposta às minhas perguntas curiosas aqui e ali "Crise é na Europa e nos Estados Unidos!" E eu fico feliz por eles, porque os vejo trabalhadores e esforçados e é sempre bom ver o nosso vizinho bem, não é assim?
E a viagem faz-se com um plano apenas esboçado, que vai sofrendo alterações e ajustamentos ao sabor do momento e tanto se dorme num riad das mil e uma noites por um preço bem acessível, como se dorme num albergue, que oferece condições básicas a preços super acessíveis, mas que nos permite dormir com os olhos postos nas dunas e nas estrelas e na lua que as iluminam.
O melhor do mundo em viagem é mesmo sentir-me em casa, tanto mais em casa quanto mais avanço para Sul.
E continuo "At Home!"

13 comentários:

  1. Já cá estou, carago!
    E que fizeste com a tua?!
    A tua Home?

    ResponderEliminar
  2. Qualquer dia mudaste de vez =)

    Infelizmente só fui uma vez há 12 anos atrás, mas ainda tenho recordações, boas recordações!

    Os cheiros da medina, andar descalça na mesquita de Casablanca, até me lembro que vocês viram uma rapariga que diziam que era parecida comigo num restaurante!!!
    E foi bom dormir no deserto, acordar com areia na almofada, e sair a meio da noite com medo que a tenda caisse, ir para o albergue e ver um espanhol a comer pão molhado em azeite ao pequeno almoço!

    Que memória =) só tinha 8 anos!!!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Foi uma excelente viagem a Marrocos, a que fiz contigo, a tua irmã, os teus pais, a Salomé, o Zé Tó e o Francisco e a Maria!
    Excelente! Como sempre são as idas a Marrocos!
    Beijocas, Linda!

    ResponderEliminar
  4. Olá Anabela, já sei que estás de regresso, infelizmente...pois, pelo que percebi, estiveste no paraíso!Espero que venhas revigorada e, quando estiveres diante de um problema, recorda esse lugar paradisíaco e, certamente, o ultrapassarás com mais facilidade!
    É bom poder ter a tua companhia novamente!
    Um beijinho grande da amiga Teresa Mafalda

    ResponderEliminar
  5. Ainda faz parte dos meus planos.. Um dias destes..

    ResponderEliminar
  6. Bom regresso. E as fotos? Experimenta metê-las também no:
    www.twitpic.com
    Já agora visita a minha página no Flickr:
    www.flickr.com/photos/ramiromarques

    ResponderEliminar
  7. Anabela, agora que estás mais connosco, poderás ainda dizer-nos de que cor eram lá as dunas à luz das estrelas e da lua?

    ResponderEliminar
  8. Obrigada Ramiro, experimentarei a sugestão logo que possível. :)
    Obrigada pelas tuas palavras, Mafaldinha.
    Obrigada também à Fátima André.
    Quanto ao Ângelo terá resposta em post pequenino.
    Beijinhos para todos

    ResponderEliminar
  9. Bienbenida, carago! finalmente no norte!

    ResponderEliminar