quinta-feira, 9 de julho de 2009

"Home"


Home - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

"Home"

Já vi este "Home" três vezes de tal forma o acho belo, tocante, pertinente nas questões colocadas, fundamental nas inquietações alimentadas e agora sentidas de forma ainda mais premente.
Caminharemos "alegremente" para o suicídio colectivo? Conseguiremos inverter a marcha a tempo? Somos já Homo sapiens demens?
Eis o texto que serviu de ponto de partida para o debate.

"HOME"

OU A IMPERIOSA NECESSIDADE DE UMA ECOÉTICA/ECOSOFIA

O filme de Yann Arthus-Bertrand proporciona-nos uma reflexão sobre uma interrogação fundamental: que relação estabeleceu e estabelece o ser humano com o seu ancestral “habitat”, a Terra? E a resposta a esta interrogação reenviará o ser humano à inquietação primeira: Qual é a essência do Homem? O que é e quem é o Homem?
Ao longo do documentário, é perceptível a relação ambivalente de amor-ódio que o homem mantém com o Planeta Terra. Por que destruímos os recursos naturais? Por que maltratamos a Terra?
“Os humanos moldaram a terra num ritual quase de sacrifício infindavelmente repetido”- ouve-se no filme. E moldaram-na à sua imagem, acrescento. Sim. Talvez esta relação não passe de um espelho do que o homem faz a si próprio e aos seus semelhantes. Por que há miséria no mundo? Por que persistem as guerras? Por que potenciamos o nosso instinto de “thanatos”?
E são estas duas relações que constituem o objecto de culto deste filme.
O homo sapiens sapiens intrometeu-se na biografia de 400 biliões de anos do Planeta e rompeu com o equilíbrio natural: “alterou a face do mundo”. A desflorestação, a escassez de água, a poluição do ar (através da emissão de gases tóxicos para a atmosfera), a agricultura intensiva, ludibriando o Tempo de gestação e de criação quer de animais não humanos, quer de produtos hortícolas, fazem perigar os ecossistemas e, com isso, ameaçam a biodiversidade.
A imagem que o ser humano projecta é a de alguém que perdeu a lucidez: a de um homo demens. Animal predador que depaupera os recursos naturais. Animal técnico e megalómano que constrói arranha-ceús de Nova York a Xangai ou ilhas artificiais no Dubai. Animal insaciável, consumista compulsivo, isento de preocupações com o meio ambiente. Somos, provavelmente, o único animal que aniquila a biodiversidade e se torna refém da capacidade criadora com que é dotado.
Não percebemos que ao fazer perigar a vida no Planeta-Mãe nos aniquilamos. É uma relação de reciprocidade. Mas se os recursos naturais escasseiam, devido à irresponsabilidade humana, isso revela que a inteligência, “recurso” ou capacidade intrinsecamente humana, não abunda entre nós.
Acometido de um complexo antropocêntrico, o homem usurpou o que não lhe pertencia, o que nunca lhe pertenceu: a Terra.
Aliás, todo pensamento, toda a prática do Homem Ocidental encontra-se profundamente enraízada nesta ética antropocêntrica cuja premissa se poderia objectivar no facto do mundo natural existir única e exclusivamente para benefício dos seres humanos. Ética especista, que nega os valores intrínsecos à riqueza e à diversidade de formas que transgridam a condição humana. Mas tal como os primeiros povos recolectores que extraíam do solo apenas o essencial à sobrevivência, também na hodiernidade há seres humanos – como aqueles que pertencem ao movimento da Deep Ecology - que se inquietam com estas questões e para quem deve existir uma igualdade biocêntrica, isto é, a concepção de que “todos os organismos e entidades da ecosfera, como partes do mundo interligado, são iguais em termos de valor intrínseco”[1]. Assim uma gestão sustentável, consciente e racional dos recursos naturais e das diversas formas de vida, deve ser alicerçada no puro respeito que nos merecem, independentemente dos benefícios que delas advêm para o humano.
E no contexto dos pensadores que propugnam uma ecoética, parece-me importante relembrar o imperativo ético de Hans Jonas: “Age de tal maneira que os efeitos da tua acção na terra sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana sobre a terra”. Entre nós, Miguel Baptista Pereira advoga a bioética como o domínio que “concerne à responsabilidade do homem enquanto observador solicito e guardião de todas as formas de vida”. E é esta atitude de protecção contínua (e partilhada) face ao meio ambiente que deverá ser encetada. De resto, este respeito surge também no documentário através, por exemplo, dos parques eólicos ou de placas solares. Sim, “olhemos para o sol”, mas também para dentro de nós. Não só como forma de recuperarmos a confiança traída mas de repor a relação harmoniosa, de outrora, com a natureza. É que sempre que há desequilíbrios visíveis há perdas profundas: feridas telúricas que devoram o próprio homem. Aos gastos desmesurados em armamento bélico, opõe-se a condição miserabilista da existência de milhões de pessoas. Este paradoxo é apenas outro indício da perda da razoabilidade da espécie humana.
Mas a revisitação aos actos praticados pelos humanos, documentados, só adquire sentido quando cada um de nós, munido de consciência e responsabilidade, se eleva através de uma temporalidade prospectiva e se pergunta: O que fazer doravante? Como actuar?
E não é por acaso que ouvimos uma voz, insistente e repetidamente, no filme que poderia muito bem ser a da nossa consciência moral, dizer: “É tarde de mais para ser pessimista. É urgente agir”.
Há uma exigência ética fundamental: a de repensar esta ruptura que o ser humano operou com os valores nobres e vitais. Não só como forma de recuperar o equilíbrio exterior ou ambiental, como também a interioridade perdida.
Estaremos a tempo de inverter estas duas tendências correlativas: a da nossa crescente desumanização e a do suicídio assistido que lentamente fomos inflingindo ao Planeta?

Elsa Cerqueira

Casa da Cultura e da Juventude, 8 de Julho de 2009

[1] Bill Deval e Georges Sessions

11 comentários:

  1. Sua Malandra! Tiraste-me uma foto?!

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  2. Enviar-te-ei uma foto com o lado oculto da A.


    Perceberás, concerteza...

    Beijos,
    Elsa

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  3. eu tive a enfarinhar-me na NOBA BIDA: tomar um eco-dinamico, fresco!
    hicks!!
    :-)

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  4. Clap:

    Faça o favor de regressar à ESA!!!!!

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  5. Kakakakaka...
    Nem ele, nem eu! Sorry, Elsa!
    Mudamos de bida!

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  6. Menina Anabela:

    Ainda não me pronunciei sobre a tua saída. Fá-lo-ei...
    Exijo rapidamente o regresso ao nosso café das 8H20!!!!

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  7. Kakakakaka... pois, Elsita, vais ter de arranjar nova companhia!
    Nem moi, nem Clapinho!
    Vês o arzinho dele, feliz por sair da ESA?

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  8. eLSA aNABELA E DEMAIS FAMILIARES:
    A SÉRIO Q HÁ Q MUDAR CORAÇÃO DE PEDRA EM CORAÇÃO DE CARNE E MÃO NÃO COMANDADDA POR MÃO OBEDIENTE A CÉREBRO E CORAÇÃO INTELIGENTES. o IMPERATIVO ÉTICO-ECO-SITÉMICO A TAL OBRIGA...
    uM ÀPARTE A eLSA -- CITASTE MEU GRANDE PROFESSOR mIGUEL bAPTISTA pEREIRA... o CONHECES?

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