quinta-feira, 23 de julho de 2009
Susana Dias
Tosquia - Susana Dias - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Susana Dias
Hoje dou a palavra à minha querida amiga Susana Dias. E rendo-lhe homenagem. Pela lucidez, pela coragem, pelo sorriso que sempre manteve ao longo deste difícil e longo ano.
Reservei-lhe este dia, neste blogue, porque faz hoje exactamente um ano sobre a nossa ida colectiva à tosquia. Foi uma tosquia improvável, eu à frente, habituada a tosquiadelas radicais... a Susana a ficar para trás... apalpando os seus belos cabelos, fartos e compridos, aloirados e lindos... primeiro por cima dos ombros... pente cinco a seguir... não... vai mesmo ser como o da Anabela, pente quatro, pois então!
Quem à época passou por este blogue, sem estar por dentro do problema que nos afligia a todos na ESA, não percebeu por certo o significado profundo dos cabelos cortados e postados neste blogue. Castanhos, vermelhos, loiros.
Perceberão agora.
A história da Susana será contada na primeira pessoa, ao longo dos próximos posts e os meus leitores, os que me acompanham a vida há mais tempo, perceberão finalmente a razão e a motivação deste post e ainda deste, feitos, à época, com pinças solidárias não invasivas da privacidade da Susana e da sua família.
Hoje falamos abertamente deste assunto, neste blogue. O exemplo de luta sem esmorecimento da Susana Dias pode ser útil para outros. Partilhamos emoções. E somos felizes assim.
Beijinhos grandes Susana Dias. És uma Leoa!
E eu não te assegurei que não perdias a feminilidade quando perdesses os cabelos?
Crónica de um aniversário singular
No dia 18 de Junho vou festejar um ano de luta contra uma doença silenciosa e implacável. Este será um aniversário diferente dos habituais, não haverá velas nem se entoarão cânticos festivos. Como n`Alice no País das Maravilhas, todos os outros dias do ano, os dias de “desaniversário”, são vividos com uma alegria pessoal e intransmissível simplesmente por estar viva. Refiro-me, então, a esta data de Junho apenas para dar testemunho de uma vida que foi radicalmente alterada por uma doença insuspeita.
O veredicto
Naquele fim de tarde de Junho, depois das aulas com os meus alunos na ESA, e depois de 4 dias de sintomas inusitados no meu corpo, fui confrontada no Hospital do Vale de Sousa, pelas 22.30m, completamente sozinha, numa sala de urgência cheia de idosos, com a sentença, “suspeita-se que a Sra tenha um tumor no mediastino”. A médica, muito mais jovem do que eu atirou-me com o veredicto, esclareceu-me sobre o que era o mediastino, informou-me que ficaria internada para realizar exames que concluiriam acerca da estirpe do tumor que alojava no meu tórax, e virou costas! A minha existência ficou suspensa naquela frase. Nos minutos seguintes vivi a mais avassaladora experiência, encostada à parede, entregue a pensamentos avulsos, num caos indescritível. Sozinha, sem rosto familiar ao meu lado para partilhar a dor que me devorava e havia de mudar o curso da minha vida, olhava à minha volta mas não ouvia e os vultos que passavam atarefados eram tão etéreos que se desfaziam à minha frente. Mas recomposta deste impacto, uma força inexplicável nasceu nas minhas entranhas e deu-me forças para telefonar à família e alguns amigos, iniciando uma rede de afectos que haveria de alimentar a minha vontade de viver. Começou assim a minha odisseia, uma “via crucis” de luta contra um linfoma, de internamentos sucessivos no IPO do Porto, de procedimentos médicos desconhecidos e dignos de constar no Dr. House, passando pela temível quimioterapia e continuando com a radioterapia. Foi um verão de férias que não aconteceram, em que o acaso trocou a praia pelo hospital, um inverno de radioterapia e recolhimento em casa porque o sistema imunitário não permitia saídas.
Susana Dias
A continuar...
Confesso: as últimas férias obliteraram esta afectuosa tosquia.
ResponderEliminarAh mulherio generoso, cujo abc começa em Anabela.
E que leoa de nome açucarado nos dás agora a conhecer! Que o futuro te traga Dias de Vitória, Susana!
Está visto, voltaste aos postes de delícia.
Obrigada, Elsa.
ResponderEliminarSacudi a Sinistra do meu corpo!
Quanto à Susana nós só lhe amparamos os cabelos que caíam. Ela é forte de carago!
Sabia-a assim. Não a sabia tão assim. Percebes?
A Susana é um exemplo nas nossas vidas.
Com a Susana aprende-se a sorrir e a falar com o coração sem medos....
ResponderEliminarSubscrevo, Laurita!
ResponderEliminarOLha, e que tal o filme? E o debate?
Fiquei com pena mas não deu mesmo para ir... :(
Foi muito bom... O filme é fabuloso e muito rico podendo ser o mote para mil e uma discussões. Além disso, é daquelas películas que tem o dom de mexer contigo e te fazer sofrer...
ResponderEliminarE as vistas tb se alegraram...mas este já é outro filme! lol
Hummmmmmmmmmm... fiquei interessada no outro filme!
ResponderEliminarÉ apenas ficção... lol Mas pelos vistos muito apreciada...
ResponderEliminarMas eu gosto de ficção! De carago!
ResponderEliminarUm dia vinha eu de autocarro do Porto para Amarante quando derrepende deparo-me com alguém que entra, se senta no banco de trás acompanhada de alguém, que penso ser a mãe. A viagem começa. Quase de início outra pessoa que ia no banco da frente interpela essa pessoa dizendo-lhe e então os teus filhos, não sei k, nã sei k mais, e o Pedro ainda está na secundária. Ai, disse calma aí se ela está a falar do mesmo Pedro que conheço, então esta é a Susana Dias! Não queria acreditar, não parecia fisicamente a mesma pessoa, aliás desde início aquele cabelo me tinha chamado à atenção, agora tinha a certeza - era uma peruca. Porquê, apesar de não me ter cruzado com ela, pois lá tive que aturar o Morgado e o «podes ir ao bar»!, vi sempre esta professora com uma garra enorme, quer nas suas aulas de educação moral religiosa católica, quer também em filosofia. Ao mesmo tempo que a ouvia falar percebia, tens tudo de bom na vida, só te falta mesmo a saúde. Não há que esconder preconceitos, é triste alguém ter cancro, sobretudo alguém que está na flor da idade, alguém que tinha tudo para ser feliz. Ás vezes ser anónimo tem os seus benifícios, porque assim mesmo que não o quissesse ao longo de quase uma hora de viagem visualizei a vida de Susana Dias e aquilo que ela contava à amiga da frente. Daí retirei duas grandes conclusões: vive a vida independetmente dos outros, se tu mesmo como ontem foste, e sobretudo nunca cruzes os braços, há um mundo lá fora que espera por ti. A vida tem de ser vivida, nem que este seja o último minuto dela. É o ciclo do Homem, da Natureza.
ResponderEliminarFoi essa força, essa coragem, esse sentimento «que posso» que Susana Dias transmitiu aos alunos, deixando a imagem de «coitadinha de lado». Pelos testemunhos que tive, um dia ela chegou a beira de uma aluna retirou a peruca e disse «olha». Que maior lição de vida de que, todos temos momentos bons e maus, há que saber ulrapassar todas as barreiras e obstáculos, acreditando numa fé que nos move, que até pode ser para lado nenhum, mas que enquanto existe, posso dizer «estou vivo»!
Força Susana Dias.
O teu testemunho é importante, Ricardo, para se perceber a Força Desta Mulher!
ResponderEliminarO nosso tempo de vida é uma verdadeira incógnita. Felizmente para todos nós. Agora estou aqui a teclar e no momento seguinte posso-me apagar para sempre.
Mais importante que a quantidade de vida é a qualidade de vida e isto que afirmo não é um lugar comum. Para mim não é. Às vezes causo perplexidade aos que me rodeiam quando afirmo que preferia morrer agora mesmo do que aos 70, a definhar lentamente, muito lenta e penosamente com alguma doença degenerativa que nos rouba a capacidade de sermos nós mesmos.
Importante mesmo é vivermos bem o tempo que andarmos por aqui. Respeitando-nos e respeitando os que nos rodeiam. Lutando com unhas e dentes por aquilo em que acreditamos. Esforçando-nos por sermos autênticos e verticais. Procurando ser exemplares nas condutas que deverão estar adequadas às palavras para que estas não sejam coisas sem qualquer valor e importância. As palavras são importantes. E se entrecortadas com silêncios podem ser absolutamente preciosas.
A Susana ao longo dos seus agora 40anos de vida já viveu com mais qualidade do que muitos que chegaram já mais longe no tempo mas que acumularam vidas perfeitamente amorfas e decrépitas.
Estou a falar de qualidade. Continuo a falar de qualidade.
A vida da Susana durante este último ano foi de sofrimento, sem dúvida, mas dum enriquecimento interior e emocional espantoso.
E aí continua ela dando-nos o seu exemplo, exemplar, que nos enriquece a todos nós que com ela contactamos, a cada dia que passa.
A Susana é uma dádiva nas nossas vidas.
Beijinhos
Um grande beijinho para a nossa Susaninha!!! É um exemplo de força e de coragem, para todos nós.
ResponderEliminarPois é Giuda!
ResponderEliminarQuando as forças nos faltam vem-nos à lembrança esta rapariga de força indomável. A sua força advém-lhe da sua autenticidade.
beijinhos
Um beijinho a esta vossa Susana, e a todas as Susanas, que lutam com garra de Mulher!
ResponderEliminar1 beijo solidário à Susana.
ResponderEliminarAnabela obrigada por + este post.
jinho
Thanks, Dudú!
ResponderEliminarThanks. Em@!
Sei que este post vos toca muito embora não conheçam pessoalmente a Susana.
Beijocas para as duas.
Susana:
ResponderEliminarFoi há um ano que quatro doidas e uma lúcida, tu, decidiram partilhar um salão de cabeleireiro. Como espectadoras activas ou activas espectadoras de um ritual de iniciação, partilhamos uma experiência única: a da cumplicidade extrema.
Tudo o que possa ser registado sobre esse momento capital através da clausura dos signos linguísticos é e será sempre redutor. A sensibilidade e a emoção brotam do núcleo da autenticidade do ser humano. A sensibilidade e a emoção não se adestram. Trangressoras da ratio, são como forças vulcânicas que nos re-inventam incessantemente.
Não te quero adjectivar, Susana.
Catalogar-te, classificar-te seria admitir a tua enformação/deformação às/pelas palavras.
Quero, apenas, dizer-te que o ritual perdurou e a iniciação cedeu lugar, no espaço e no tempo, à troca de sorrisos, de dúvidas, de anseios e inquietações.
Hoje, o que fica por dizer, por incapacidade minha, é mais rico e profundo do que todas as palavras usadas e abusadas.
Hoje, dedico-te o Silêncio. Aquele que dispensa vozes, caras e nomes. Aquele que respeita o sentir. Aquele que tu descodificas num ápice. Porque a cumplicidade extrema constrói-se mas, acima de tudo, é indizível...deixemo-la espraiar-se livremente no Sentir.
Beijos,
Elsa Cerqueira
Lindo texto, Elsa C., pleno de emoções incontidas.
ResponderEliminarAté já! Mesmo! :)
Elsa C:
ResponderEliminarLindo o teu texto. Tocou-me profundamente. Olha que eu teria muiiiiiiito orgulho se ele fosse meu.
Beijinho
Vai ao "méle", please, Anabela Maria.
ResponderEliminarAnabela e Em@:
ResponderEliminarHoje os únicos elogios "con-sentidos" são para a Susana.
Beijos.
Não podia passar invisível, hoje. Quero escrever mas as palavras não se vestem da intensidade que eu quero. O teclado não acompanha os sentimentos. A honra que me deste ao colocares aqui, na tua "casa" o artigo para o jornal da esa, dá-me o prazer de poder dar o meu testemunho de luta contra o preconceito.O que eu possa escrever não faz jus às pessoas que estiveram comigo desde o início desta descoberta maldita. Não vale a pena nomea-las pois cada uma delas conhece a afeição que lhe tenho, pelas palavras que foram ditas, pelos sorrisos de cumplicidade, pela ajuda real em coisas banais do quotidiano( ai rica Dores..). Sou melhor porque vos conheço, porque me ofereceram a vossa amizade em momento de provação. Amizades assim destronam as melhores acções da bolsa. Se não naufraguei foi também porque vos tive como porto de abrigo.Obrigada Anabela, por permitires que o meu exemplo possa ajudar outros/as anónimos ou não que vagueiam pela blogosfera.
ResponderEliminarContinuas linda, Susana, por dentro e por fora!
ResponderEliminarAh! Gargalhadas boas as de hoje à volta duma mesa de café e conversas loucas de mulherio!
Fica bem., Minha Linda!
Ah! Passarei a tua lembrança à minha Fadinha do Lar!
E não me agradeças! Eu é que te devo agradecimentos. :)
ResponderEliminarQue maravilha!!!
ResponderEliminarA nossa Susaninha passou por aqui, como não podia deixar de ser, e escreveu coisa lindas como só ela sabe ...
Um beijinho para ela e um bem haja para a Anabela, que proporciona momentos tão belos...
Fui ao méle, como já sabes, Em@.
ResponderEliminarFiquei comovida pela tua pertilha.
Beijos Bons
Lembro.me desse post e da foto que o acompanhava como se fosse hoje, e afinal já lá vai um ano. Pela nossa F comum, sabia da história e do sofrimento que todas estas histórias trazem consigo!
ResponderEliminarOs meus votos são que os piores dias já estejam passados e apenas o futuro traga coisas melhores para todos. E que apenas saibamos retirar do sofrimento a certeza de que não estamos sós.
Beijos e muita força!
Obrigada, Giuda, pelas tuas palavras.
ResponderEliminarSaio da ESA bem mais enriquecida, por convosco ter privado.
Beijocas
Elsa C.
ResponderEliminarUm elogio não impede outro. Mas claro, que mais elogios houvesse e iam todos para a Susana.
:)
Susana:
ResponderEliminarPodes contar aqui com esta amiga virtual. Para o que der e vier!
Beijinho e tudo de bom! Aguenta-te!
Anabela:
ResponderEliminarJá te li. Muchas gracias guapita!
Beijinho booom eheheh (quem dizia isto não era mulher do freitas do Amaral???)
Fóoooonix! Peguei a virose da EM@!
ResponderEliminarPertilha! Mas qual Pertilha!
É evidente que é pirtilha!
Kakakakaka
Clapinhoooooooooo! Onde andas tuzinho?
Só a Susana para se comparar com a mulher do Leão. Saímos sempre vencedoras destas lutas inesperadas.Parabens Susana pela tua coragem e pela tua amizade.
ResponderEliminarGrosses bises.Lina
Ah! Agora apareces-me aqui travestida de Pedro Sampaio!
ResponderEliminarTá certo, Aurelina!
Só a Susana e a "Mulher do Leão" para vencer as crueldades que por vezes a vida nos reserva. Não ha bicho nenhum que nos consiga vencer. Obrigada Susana pela tua coragem e pela tua amizade.
ResponderEliminarGros bisous.Lina
Obrigada Elsa C,minha amiga de cabelos côr de fogo, há razões inefáveis para a nossa amizade! Obrigada à Laura, pela partilha ao longo deste trajecto. À Giuda( Margarida-FQ?)pelo carinho. E tu, Lina, mulher do Leão, somos ou não mulheres de garra? O teu livro foi inspirador. Ou melhor, Salvador Vaz da Silva, foi um grande caso de coragem, luta contra o cancro.A tod@s @s outr@s que passaram por aqui e que, sem me conhecer, deixam palavras de incentivo,obrigada.
ResponderEliminarObrigada Elsa C,minha amiga de cabelos côr de fogo, há razões inefáveis para a nossa amizade! Obrigada à Laura, pela partilha ao longo deste trajecto. À Giuda( Margarida-FQ?)pelo carinho. E tu, Lina, mulher do Leão, somos ou não mulheres de garra? O teu livro foi inspirador. Ou melhor, Salvador Vaz da Silva, foi um grande caso de coragem, luta contra o cancro.A tod@s @s outr@s que passaram por aqui e que, sem me conhecer, deixam palavras de incentivo,obrigada.
ResponderEliminarÀ Amizade-cumplicidade kantianamente desinteressada!
ResponderEliminarGrata por seres S. D.
Ser do Dia.
Luminoso.
Diáfono.
Bj.