quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Do Respeito. E da Falta Dele!
Respeito - St-Cyprien - Dordogne - França
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Do Respeito. E da Falta Dele!
Farta de políticos, políticas e afins, hoje falo do respeito das gerações mais novas relativamente a todo um património construído e herdado das gerações anteriores. E da falta dele.
A regra, pelas bandas onde habito, é o mais completo desrespeito por este património edificado, quantas vezes com tanto esforço, pelos nossos antepassados. É até uma dor de alma andar à noite pelos centros históricos da maioria das cidades portuguesas onde não nos escapa o quase completo abandono e degradação em que se encontra a maioria do património construído.
Amarante, muito embora seja uma cidade pequeníssima, que até devia ser uma vila, não foge a esta regra, e o abandono sente-se em cada esquina da cidade, onde a maioria das pessoas já não habita.
Não sei explicar como fazem em França. Não sei se foi pela destruição causada pela Segunda Guerra Mundial que os terá marcado enormemente em termos de perda completa ou parcial de património construído, se têm subsídios do Estado, se parte da generalidade das pessoas e da sua sensibilidade, se se explica pelo muito maior poder de compra relativamente aos portugueses, ou se é apenas civilizacional, educacional e cultural...
Decididamente não sei. O que sei é que se sente, por quase todo o lado, seja aldeia, vila ou cidade, um cuidado imenso e um carinho muito especial por este património herdado e construído por múltiplas e diferentes gerações já mortas mas que continuam vivas nos inúmeros testemunhos de edifícios em excelente estado de conservação.
As aldeias perfeitamente conservadas abundam, estão habitadas, e os centros históricos, vivos, também não são uma excepção.
E o respeito e amor pelos edifícios nota-se na trepadeira que embeleza uma porta, na roseira que sobe até ao telhado, nas sardinheiras floridas nas janelas, nas pequenas hortas embelezando jardins, nos telhados feitos de pedra, de xisto, até de colmo.
Uso uma fotografia quase ao acaso, tirada numa povoação no vale do rio Dordogne, que ilustra bem o que acabo de afirmar. Poderiam ser muitas outras, que as tenho aos magotes, porque o país é uma beleza em exemplos destes.
Gostaria de ver e sentir este cuidado neste Portugal à beira mar plantado. Mas não sinto.
Aqui o respeito é a excepção e não a regra. Em França passa-se exactamente o contrário.
Estaremos a construir um país inviável? Porque a cada de dia que passa mais se complica a vida dos portugueses com a construção de infra-estruturas que chegam cada vez mais longe e que custam balúrdios ao país e, paradoxo dos paradoxos, convivendo paredes-meias e alegremente com centros históricos votados ao mais completo abandono.
Sorry! Algo não está bem por aqui.
Sorry! Acabei por falar de política!
Tens razão.É um prazer ver o cuidado desse povo por todas as povoações por onde se passa.
ResponderEliminarAlém da preservação do património, existe o cuidado de embelezarem os lugares, servindo-se de flores, por exemplo. Nada está ao acaso e muito menos ao abandono!
Viajei vários anos até França e vinha sempre deliciada, partilhando da tua constatação.
Olá Dudú!
ResponderEliminarEm Agosto do ano passado fiz milhares de Km por estradas secundárias e mesmo terciárias, em França. Este ano repeti a dose e acrescentei a Bélgica e a Holanda. Por quase todo o lado a mesma coisa... se bem que França é, de facto, especial. Muito especial. Acho que é mesmo o meu amor europeu!
Podes crer! Há uns anos fui até à Holanda também. As casas holandesas, todas arranjadas e floridas, são lindas!
ResponderEliminarEm França também andámos sempre em estradas secundárias. Só assim temos a noção do genuíno.
Por norma nós também fugimos das autoestradas como o diabo foge da cruz e só assim se pode parar com calma, tomar um café numa praça em frente a uma pequena igreja ou catedral, dar umas voltas se o sítio promete. Há muitos sítios promissores em França que não nos deixam desiludidos, muito pelo contrário! Dos pequeníssimos povoados às cidades, França faz-se de muita beleza!
ResponderEliminarPor vezes também há subúrbios espatifados mas isso é a excepção e não a regra!
Aqui até as pequeníssimas aldeias como as aldeias da Aboboreira estão espatifadas! Uma dor de alma!
Porque o legado era uma beleza!
E a vila onde eu nasci também tinha esta beleza especial!
É o nosso Portugal!
ResponderEliminarDe mal a pior!
É, Dudú. Fico é a pensar porque tem de ser assim... parece um fado triste...
ResponderEliminarAmiga Anabel, a política escorre-te nas veias!
ResponderEliminarAnalisa bem o teu blogue e concluirás que és uma política de grande qualidade, com ideias e decente, essa será a diferença para a pobre classe política que temos!
Please, come to the revolution!
Kakakakaka... jamé, caríssimo Helder! E já sabes que quando digo uma coisa é para valer.
ResponderEliminarMas agradeço-te as tuas palavras... e talvez tenhas alguma razão quando dizes que a política me escorre nas veias...
Afinal sempre que nos exprimimos sobre isto ou sobre aquilo e tomamos as nossas posições estamos a fazer política, não é assim?
FRANCE, DOUCE FRANCE. Verifico com muito agrado que também partilhas um amor especial pela França e especialmentepela cultura e civilização francesa.O povo francês tem uma sensibilidade muito especial por tudo o que os rodeia, eles valorizam muito o legado dos seus antepassados e fazem questão de também o deixar às gerações futuras.
ResponderEliminarFRANCE, DOUCE FRANCE. Verifico com muito agrado que também partilhas um amor especial pela França e especialmentepela cultura e civilização francesa.O povo francês tem uma sensibilidade muito especial por tudo o que os rodeia, eles valorizam muito o legado dos seus antepassados e fazem questão de também o deixar às gerações futuras.
ResponderEliminarMas é que é tão óbvio, Aurelina!
ResponderEliminarOs franceses mantêm um apego à terra e à "terra" absolutamente notável!
Agradeço-te o teu testemunho de pessoa que privou muito de perto com eles.
Assino por baixo.
ResponderEliminarEu que habito uma zona histórica tento pelo exemplo ver se os vizinhos me imitam... Restam-me os vizinhos estrangeiros :(
Eu também habito um centro histórico, mas infelizmente tenho muito poucos vizinhos... e estrangeiros nem vê-los!
ResponderEliminarEu por acaso não habito nenhum centro histórico, mas preservo o que me rodeia e gosto de ver o centro histórico, arranjado e limpo.
ResponderEliminarE essa deveria ser a normalidade... :(
ResponderEliminarOlá Anabela!
ResponderEliminarEste é um assunto que muito me diz respeito, pois como sabe gostava imenso de viver na "sua rua" como já tivemos oportunidade de falar, mas os preços dessas casas, são de doidos... Tentando fazer aqui uma regra de 3 simples, estão para nós jovens sem apoios e incentivos, que vivemos com uma grande ginástica orçamental, como o Governo está para Portugal, ou seja, um disparate... E entretanto caem...Os proprietários são loucos a pedir, os governantes locais não querem saber, os empreiteiros trabalham com engenheiros e não com arquitetos e apenas constroem casas iguais... na cave uma grande garagem, com a área total da casa, o andar do meio com sala comum, escritório (uma dependência muito importante...ah!ah!) e no andar nore com os quartos e o WC ao meio...além disso tem de ser bem longe, o que implica custos e uma grande reforma na vida quotidiana do casal. Também já tive a sorte de passar por Paris e adorei passar de metro entre prédios antigos ao entardecer, todos iluminados com janelas abertas por onde se podem ver lindas casas, cheias de calor humano e artístico, de bom gosto, ao sabor de Paris, como só eles sabem... Em Londres as zonas nobres da cidade passam pelos bairros mais característicos como Portobello, onde udo tem vida, alegria e delicadeza, tudo é cosmopolita...
Obrigado pela oportunidade de me manifestar... pois estou farto de ver casas feias e as bonitas estão ao abandono e a cair aos bocados..
Lourenço
Eu sei, Lourenço, que os preços aqui no centro da cidade são tudo menos convidativos. Mas também sei que não é só uma questão de preço. Conheço muita gente que fez casa na mesma altura em que eu recuperei esta onde vivo e gastou mais do que eu na compra da ruína, sua demolição parcial e posterior recuperação. Por isso não é só uma questão de dinheiro. É também uma questão de mentalidade. Como aliás também já falámos.
ResponderEliminarQuanto à transparência das casas em Paris também a notei e até já falei dela neste blogue. Continuo avessa a cortinas, como sabe muito bem. :) Falarei em próximo post da transparência das casas holandesas. Uma beleza!
Beijinho
Aqui na minha zona quem preserva o património com mais qualidade são, na realidade, os estrangeiros que escolheram viver aqui e em abono na verdade, alguns, poucos. portugueses. A maioria dos nossos compatriotas preferem os bairros limítrofes onde abundam os relvados, piscinas de condomínio, grandes zonas envidraçadas e a pimbalhice.Ou, então, apartamentos onde o condomínio é quase tanto como a prestação casa...
ResponderEliminarTenho pena de constatar isto, mas é a verdade.Se não fossem os estrangeiros (quase todos reformados) e alguns dos protugueses que referi, as zonas históricas iam caindo de podre enquanto ficavam desertas dos + velhos que vão morrendo ou indo para os lares.
Será um fado triste, Em@?
ResponderEliminarEu não quero que seja!É tudo uma questão de educação. Cultural. Sei lá!
ResponderEliminarSerá um mix de razões... também não sei explicar. Mas sei constatar.
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