sábado, 10 de outubro de 2009

Desapertando Nós, Laços e Lacinhos



Desapertando Nós, Laços e Lacinhos

E eis que tudo parece encaminhado para que, finalmente, obtenhamos resultados práticos da luta iniciada há já demasiado tempo.
Olho para trás e parece-me surreal que um governo se tenha dado ao "luxo", ao desplante e à estupidez de hostilizar uma classe no seu todo, ainda para mais num sector tão estrutural para o devir de uma Nação quanto o é o sector em que me movo e que é o sector educativo. Olho para trás e parece-me surreal que um governo tenha provocado, de forma completamente leviana, de uma assentada, aliás de várias assentadas, verdadeiros tsunamis legislativos que viraram as escolas de pernas para o ar, incomodando profundamente cada um dos actores que se movem no terreno e que sobrevivem no terreno real das escolas portuguesas, que não estão hoje melhor do que estavam quando o ps subiu ao poder, nas penúltimas eleições legislativas.
A nossa luta passou por vários momentos, e por vários espaços, da Escola à rua, esta última a que obteve maior visibilidade em manifestações gigantescas, nunca anteriormente vistas neste país para uma só classe profissional, que uniram a quase totalidade do corpo docente português, com excepção de uns acolitados completamente ceguinhos, que continuaram a fazer finca pé e a tentar convencer todos os outros da bondade dum ECD e duma ADD, apesar de votados ao mais completo fracasso.
A luta passou por várias fases e momentos e por várias frentes também. A minha posição foi sempre clara - todos as formas de luta foram importantes, umas mais visíveis, outras nada visíveis para a opinião pública em geral. Todas foram importantes. Manifestações, protestos isolados, frente sindical, frente jurídica, bloggers, movimentos, frente política. Todos os protagonistas foram importantes, todos as iniciativas foram válidas, mesmo que a dado passo parecessem não resultar em absolutamente nada e a esperança parecesse uma utopia.
E eis que chegamos aqui, depois de termos provocado uma erosão maravilhosa a um governo arrogante, autoritário, surdo, cego, prepotente, mal-educado, vingativo, mal preparado, incompetente. Com os nossos votos e os das nossas famílias opartido no poder teria ganho de novo por maioria, e este facto deixa-me de sorriso de orelha a orelha. Porque a "vingança" serve-se fria e de nível elevado e nunca rasteira.

Estamos agora em compasso de espera, aguardando novas de um Parlamento renovado, perdida que foi a maioria absoluta do ps.
Aproveito para prestar as minhas sinceras homenagens, pelo trabalho desempenhado com afinco, tendo em vista esta derrota, ao trio fabuloso que ocupou a 5 de Outubro e está agora de saída. Ninguém como eles, neste país, trabalhou com tanto empenho tendo em vista a perda de votantes no partido do poder, nas últimas legislativas. Os meus parabéns, na hora da saída! O vosso contributo foi absolutamente imprescindível!
Posto isto, estamos agora em compasso de espera, aguardando calmamente que todos os partidos da oposição cumpram os compromissos assumidos em plena campanha eleitoral e que assim contribuam para a elevação da política portuguesa, que vai estando, o mais das vezes, ao nível da sarjeta.
Imagem retirada daqui.

25 comentários:

  1. Pois é do nível da sargeta que eu temo não sairmos!
    Durante o meu magistério sempre fiz greve para tentar melhorar as condições do Professor!
    Pouco se conseguiu ao longo de tantos anos.
    Mas sempre alimentei uma opinião:Façam os Professores uma grave às avaliações e/ou exames...mas daquelas que fazem os camionistas...sem quebrar nem torcer...e veremos quem dobra...Veremos...VEREMOS!

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  2. Também tenho esse receio, Hélio...
    Quanto às greves, continuo convencida que tínhamos arrumado a questão com o ME com uma greve por tempo indeterminado... mas poucos se chegaram à frente...
    Aguardemos então! :)

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  3. Vou dar-lhe uma opinião, certamente desajeitada e ultrapassadíssima, mas foi o que colhi ao longo dos meus 36 anos de serviço:
    Os Professores são uma classe não corporativista...convencidos e...reaccionários.
    E isto porque nos integramos (?!) numa "elite cultural"...que não somos...e numa classe média...que também não somos!
    Daí tomarmos um falso estatuto que nos atira para um auto-convencimento.
    Confuso?!
    Colocar esta "análise" neste espaço é difícil...sairia melhor à volta duma xícara de café!
    Se me fiz entender...foi bom!

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  4. Sempre fui adepta de uma greve à séria, como referem os dois, Hélio e Anabela. Mas cadê os aderentes?!
    Se tivemos a faca e o queijo na mão e perante o aceno do Simplex toda a "união" se desmoronou...
    As manifestações grandiosas mais não foram do que um gigante com pés de barro... Embora me doa muito dizê-lo.

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  5. Seria melhor à volta de uma xícara de café... então se fosse de cafeteira...
    Penso perceber o que diz, Hélio.
    Somos tradicionalmente desunidos. Somos tradicionalmente individualistas. Somos tradicionalmente muito heterogéneos.
    Daí "enquadrarmo-nos" sem muitas vezes nos enquadrarmos em coisa nenhuma.

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  6. Tens razão, Maria. Mas as manifs foram importantes para o país inteiro saber que estávamos verdadeiramente descontentes e isso foi espontâneo e genuíno - o descontentamento, claro!

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  7. É isso Dra. Maria Almeida...somos bons na procissão...mas desastrados na devoção!
    Graças a Deus que sou ateu!

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  8. Gostei dessa, Hélio! Também concordo que no geral vai uma grande distância da palavra ao acto. Infelizmente!

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  9. Graças a Deus também que o sou, Hélio! E por favor trate-me por Maria.
    Concordo inteiramente com os vossos comentários no que respeita à heterogeneidade da classe. Sempre fiz humor quando o trio da 5de Outubro falava em interesses corporativos! Mas que cambada de ignorantes me saíram! Como poderiam existir se não existe uma classe docente?!! O que sempre vi e vejo é um grupo de pessoas que coincidem no mesmo espaço de trabalho, com proveniêncis académicas díspares e com objectivos profissionais muitas vezes antagónicos. Claro que há excelentes profissionais mas em termos laborais faltam metas comuns.

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  10. Ah! E eu tenho dias sem me conseguir decidir realmente... que diacho!
    De resto concordo com a tua análise, Maria. E claro que subscrevo a parte do "cambada de ignorantes" porque o demonstraram ser até à exaustão!

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  11. Ser Professor (sempre com maiúsculas aqui e em qualquer lugar) não é só partilhar o mesmo espaço...as mesmas turmas...leccionar as mesmas questões!
    Experimentem juntar os tijolos...as madeiras...as tintas...os azulejos.
    Têm uma casa!?
    Não Anabela e Maria...falta o cimento, indispensável para congregar um esforço que sim, depois resultará num projecto conseguido.
    Onde está o nosso cimento?
    Sei lá eu...

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  12. Excelente pergunta, Hélio! Para mim a resposta é clara e só pode ser uma - o nosso cimento são os nossos alunos -que nos unem a todos e a cada um de nós, diferentes, particulares, específicos, heterogéneos... e também aqui reside a nossa beleza...
    Concordará? :)

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  13. Claro ...mas essa é uma leitura paralela da Nossa luta...e com os nossos alunos...não vamos lá.
    A grande questão é a LUTA.
    Que luta é preciso desenvolver para consubstanciarmos algum resultado?
    Parece-me que os responsáveis dos movimentos sindicais terão que descobrir os ingredientes para essa luta.
    Mas atenção...o Carvalho da Silva já surge a apoiar o António Costa...não é um problema de apoio...é um problema de alinhamento...e quando os sindicalistas "se alinham"...

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  14. Certo. Vou-me reposicionar.
    Já está. Bolas! Não vejo cimento de espécie alguma...
    Serei mesmo ceguinha?!
    Bem me dizia o Eduardito! kakakakaka

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  15. Não, tenho-a como muito lúcida e capaz...pelas críticas e posições que tem tomado.
    Apesar de estar em minoria ante 2 ateus...é evidente que só as intervenções da Anabela têm permitido esta profícua troca de opiniões.
    É preciso deixar o pó...poisar...mas ante a plateia tão heterogénea...não vejo que o contra-regra tenha necessidade de mudar a sequência da representação.

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  16. É a triste realidade, Anabela! Na LUTA, como diz o Hélio, não há cimento, nunca houve, mesmo quando parecia. Por isso a "casa" ruiu num instante... foi um ar que lhe deu!
    Hoje, vejo muitos dos que vieram sem voz da manifestação de Novembro, perfeitamente alinhados. Sobretudo os titulares que temem a despromoção e os que solicitaram aulas assistidas com receio de que o oportunismo lhes saia pela culatra.
    Tenho para mim que a ADD abriu brechas irreparáveis nas escolas. Para o pior e para o melhor, o passado ano lectivo foi o ano de todas as revelações e é quase impossível voltar atrás, entendes?

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  17. :)
    Pois!
    Obrigada pelo lúcida e capaz... lá tenho dias...
    Pela acção dos sindicatos deveremos esperar o que é expectável de organismos politizados e partidarizados até dizer chega!
    Apesar de tudo estamos com alguma sorte... é que deu jeito a toda uma oposição cavalgar esta onda do descontentamento docente... e nesse jeito atravessaram-se.
    Aguardemos. A ver vamos se a montanha não parirá de novo um rato! Eu desejo que não... a bem de nós todos!

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  18. É verdade, Maria, abriu fendas d tamanho nunca visto e que jamais esqueceremos. E no meio da confusão já assistimos todos aos comportamentos mais abjectos que se podem imaginar!
    Eu pelo menos assisti, na ESA, de palanque! Que tristeza!
    Mas também é certo que o que serviu para uns rastejarem serviu a outros para se elevarem.

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  19. kakakakaka...
    Seja! Para um ateu não ficou nada mal!

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  20. Help Maria!
    Este Ámen reflecte um requiem pelo processo...e também pela fé nele!
    A mediocridade confunde as pessoas...já repararam que agora todos os candidatos aparecem em mangas de camisa com colarinho aberto?!
    Com tanto proletário...agora é que o poder vai estar con el pueblo!
    Estou a lembrar-me do poema de Pablo Neruda.

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  21. Tenhamos fé! Tenhamos esperança! Apesar do nonjo.

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  22. Hoje perdi a cavaqueira!
    Mas não quero perder a Esperança.
    Mais logo, temos que ir botar o boto!

    Besito!

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