A Importância da Opinião Contrária
Continuo a conversar longamente com algum pessoal da ESA, de quem sou amiga, e a quem prezo muito especialmente por lhes reconhecer maturidade, responsabilidade, inteligência e vontade para o exercício prático de uma Cidadania Responsável.
Ora esta prática, a do exercício da Cidadania Responsável, tem-se-me apresentado deveras penosa e difícil e já senti, por variadíssimas vezes na minha própria pele, os efeitos nocivos do seu exercício, ainda pouco seguido e pouco estimulado dentro deste país complicado até dizer chega.
Tenho para mim que o mal radica, e muito, nos partidos políticos que minam por completo a sociedade portuguesa, que tudo querem absorver com o seu poder tentacular e que a gente que lhes dá corpo, aos partidos, é, demasiadas vezes, gente medíocre ou mesmo abaixo de medíocre, que só se sustenta à custa do poder de um cartão, que só se sustenta à custa da sombra protectora de um pálio, partindo do princípio, esta gente, que quem emite uma opinião contrária está cá para chatear e é por isso seu inimigo e que por isso há que colocá-lo do outro lado da barricada, nesta guerra surda que nos afecta a todos no dia-a-dia.
Esta situação, que afecta a generalidade do país e a generalidade das áreas, é cada vez mais visível nas escolas devido à promiscuidade entre política e Educação.
Na ESA é extremamente visível. O professor quer-se ser não pensante, robotizado, que exerça as ordens emanadas dos iluminados que são os quadros intermédios, que por sua vez exercem as ordens dos quadros superiores sem nunca questionarem nada porque esses então são os super-iluminados e tudo isto se deve processar sem ondas, sem opiniões contrárias, sem sobressaltos, num processo que nos retira Humanidade e nos aproxima das máquinas, que nós não somos, nem nunca seremos.
E dizia eu à E. C. - Mas é na opinião contrária à opinião vigente e ao politicamente correcto que reside uma boa parte do progresso íntimo e pessoal e colectivo também! Eu própria peço aos meus alunos que me critiquem o trabalho e são, frequentemente, os que me apresentam alternativas e caminhos outros que me fazem evoluir enquanto ser humano, abarcando, evidentemente a minha dimensão profissional.
E relembrei - Quando iniciei este blogue passava a vida a "chatear" o meu comandante informático: Helder! Helder! Ora vê lá este post... o que te parece? E a resposta lá vinha, invariável "Muito bem! Está muito bem!" Perante este estímulo positivo, importantíssimo para quem se está a aventurar numa nova viagem, eu por vezes desesperava e pedia-lhe "Critica!"
E fazia-lhe este pedido porque tenho plena consciência que se o reforço positivo é indispensável para sustentar um percurso, também tenho a certeza absoluta que é a visão exterior, a visão do outro e outra que não a minha, que me pode ajudar a inflectir trajectórias, a fazer marcha atrás, a fazer inversão de marcha ou mesmo a seguir em frente, consolidando o meu percurso.
Pois parece que muita gente não pensa o que acabo de afirmar e eu tenho para mim que isso se deve a fragilidades interiores, a falta de sustentação interior de quem olha para uma opinião contrária como uma arma, que pode ser, mas que muitas vezes não o é.
A minha opinião contrária é sempre ponderada, pensada, sustentada. Acima de tudo sou uma mulher prática que odeia encher balões de oxigénio e que continua a lutar contra uma burrocracia que se espalhou por este país fora, e foi elevada nem sei a quantos por este governo ps que agora finda, e que foi particularmente incompetente no sector onde me movo, e que é o sector educativo. Primeiro estão os alunos e o meu trabalho com os alunos. E ponto final. E para que eu possa cumprir cabalmente as minhas funções é indispensável que eu esteja atenta mas relaxada, que tenha tempo disponível para investir forte e feio no meu trabalho, de que os meus alunos são usufrutuários, que as sugestões que apresento sejam pelo menos ponderadas e analisadas, para que eu me possa sentir participante, activa e útil, em projectos que devem emanar do colectivo, diverso, contraditório, e por isso mais rico.
E vem tudo isto a propósito de andar para aqui a pensar e de constatar que a Escola donde saí, é, em muitos aspectos, perfeitamente disfuncional. E é absolutamente disfuncional num campo onde se deveria esforçar por não falhar e que é a relação da chefia com todo um corpo docente.
Um exemplo e veja-se a diferença. A sugestão que saiu de nós, professores de História da E. B. 2/3 de Amarante, de criação de duas salas de História, uma para o 2º Ciclo e outra para o 3º, foi imediatamente acarinhada pelo Conselho Executivo da época, na pessoa inteligente que é a Elisabete, que possui um cérebro exercitado e até musculado ao ponto de se abrir a outros caminhos, de trilhar outros percursos sem que veja nisso qualquer ameaça ou perda de poder.
A escola teve de se organizar de outro modo e organizou-se com evidentes reflexos benéficos para o nosso trabalho com os alunos, em contexto de sala de aula.
A ESA não está organizada assim, mas quando deixei esta sugestão em grupo foi-me dito, de imediato, que eu não teria hipótese, que a minha opinião jamais seria aceite porque a visão de Escola do Director era outra. Ok! Já cá não está quem falou! Mas que falta de cultura democrática!
Por isso constato, com pena, que tanta gente não saiba, ou não consiga, abrir-se a outras perspectivas porque, partilhando opiniões sustentadas, podemos evoluir mais rápido e de forma mais equilibrada e segura.
Evidentemente que é "apenas a minha opinião"! Mas eu só abdicarei dela quando me provarem, por A+B. que eu estou errada e que esta gente está certa.
Subscrevo tudo!
ResponderEliminarPeço muitas vezes a opinião, e como tu peço que critiquem o meu trabalho, de uma forma inteligente, e me apontem outras direcções.
Quem sou eu sozinha?Tenho tanto ainda a aprender...
Em todas as escolas, e também as há na minha, pessoas que pensam saber tudo... Coitadas!
Eu sei um pouco de algumas áreas, nunca saberei tudo, e muito menos de todos os assuntos.
Se as pessoas pensassem como tu, de certeza seriam bem mais felizes!
Mas assim não é, infelizmente!
Beijinhos!
"A Importância da Opinião Contrária"
ResponderEliminarImensa mesa, imensa alegria:
Sabei, homens, quanto vale viver a paz;
a insondável riqueza, a diferença, o vosso irmão;
o intangível sagrado, que encerra convicto
o que de vós discorda;
quantas vidas se salvam por um acordo,
selado com um simples aperto de mão;
o valor que é o outro, e quanto bem é dardes,
a esse outro, o espaço, vosso, que lhe é devido.
Sabei também quanto a vossa terra merece
que a deixeis florescer e frutificar,
à luz da imensa alegria.
Se tal souberdes, dareis as mãos confiantes;
alegrar-vos-eis, com os demais convivas,
no comum banquete da palavra,
num invencível amor.
Saudareis com à vontade todo o homem
em língua que a nenhum será estrangeira;
e em qualquer parte do habitado planeta
vos sentireis como em vossa própria casa.
Abrireis janelas amplas
a cada novo alvorecer;
cada manhã será a manhã do novo homem.
Sabereis o que é o vosso chão e o vosso pão;
o peso, a leveza, a sã consciência solidária;
a dignidade de estardes vivos.
Tereis o vosso tempo, pois todo o tempo será vosso;
inaugurareis um novíssimo milénio
com admirável fraternidade.
Serão então o ar, o pão, a água prodigalizados com a poesia,
abundante parte à mesa dos humanos,
elevados que sejais a uma verdadeira harmonia;
o alto e claro sol vosso será,
e partilhado.
Deus será um comum pai, única mãe;
possibilidade de ser invocado por Seus desvairados nomes;
presença, jamais ausente, na mais pequenina das flores;
até vós descerá.
Em mão vos terá da paz movidos;
porque habitará o cerne dos vossos sonhos;
e iluminará sorrisos em todos os meninos.
Setúbal, 19/9/1999
(Espero bem que meu «past» tenha entrado a propósito, Anabelíssima!)
Ora viva Dudú!
ResponderEliminarA verdade verdadinha é que ninguém evolui só. Muito pelo contrário! Vai daí como explicar este "horror" e não aceitação da opinião contrária que a cada passo me deixa perfeitamente angustiada?
Arre! Mas que raio de país este!
Lindíssimo, Ângelo! Uma verdadeira preciosidade!
ResponderEliminarBeijinhos