Auto-Retrato - Barca - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Sobrevivi
Ela chegou e eu recebi-a com expectativa. De facto a Escola Pública precisava de sacudir algum marasmo e letargia em que se encontrava e eu compreendia isso muito bem. De facto alguns professores precisavam de sacudir alguma poeira acumulada nos ombros, precisavam de um pouquito de agitação profissional nas suas vidas, para reagirem e saírem da letargia, e eu compreendia isso muito bem. Mas as escolas não precisavam de tsunamis consecutivos, que tudo submergiram, sem piedade nem critérios, lançando a Escola Pública num caos e numa convulsão nunca vista, nem por mim nem por ninguém que se movimenta neste meio.
Muitas das reflexões deste período estão por aqui espalhadas ao longo deste blogue, muitas verdadeiramente zangadas pela falta de respeito com que vi uma ministra e os seus secretários de estado tratarem toda uma classe docente, nivelarem tudo bem abaixo do nível da sarjeta, como se nós fôssemos todos uns mentecaptos peçonhentos que para aqui andamos.
Não me esqueço que me chamaram de professorzeca.
Não me esqueço que quando desci à rua, e integrei manifestações em que nunca me ocorreu participar até aí, fui chamada de chantagista.
Não me esqueço que uma senhora que não escreve coisa com coisa me chamou de espargueti cobarde, que só resiste quando está em grupo.
E não me esqueço de todos os que vi resistirem à custa de Prozacs e outras coisas similares.
E também não me esqueço de muita da gente válida que abandonou o ensino, desiludida, ultrajada, vilipendiada por quem nunca o deveria ter feito.
"Perdi os professores, mas ganhei a população" disse MLR, num célebre Prós e Contras.
No fim perdeu toda a gente, apenas mantendo os acólitos, coitados, que ceguinhos ceguinhos adesivaram de uma tal maneira à senhora que nem sei se a esta hora não terão um sentimento de orfandade enormesco.
Quanto a mim, digo-lhe adeus. E digo-lhe que não terei nem um pingo de saudade.
Ah! E sobrevivi.
Sobrevivi ao desgaste, à indignação, à desilusão, à injúria, à falta de respeito, à falta de educação, à mentira, ao ultraje.
E ainda hoje entrei na minha Sala de História mantendo o meu entusiasmo e boa disposição que sempre me caracterizaram.
Por isso, sobrevivi à desgraça.
E não estou sozinha.
Adoro esta tua fotografia, o fundo limpo de claro realça os ocntornos da figura (que é a tua ehehehe)...Ensinas-me a escrever em cima das fotografias? Faz-se como se fosse um diapositivo dum power point?
ResponderEliminarQuanto ao conteúdo do post, pois eu também lhe sobrevivi!E connosco muitos +, felizmente.
Obrigada, Em@ :)
ResponderEliminarFazes isso no picasa, tens para lá uma opção em que dá para escrever. Vai lá e investiga e se não conseguires apita.
Pelo menos esta foi assim, não sei se dá para fazer de outro modo.
E é verdade. Continuamos muitos. :)
Eu também sobrevivi, mas com algumas cicatrizes.
ResponderEliminarCá estamos ara o que der e vier.
Por causa do sofrimento imposto por MLR eu conheci pessoas maravilhosas como tu.
O teu texto comoveu-me.
Um beijo grande.
Eu não sei se guardarei cicatrizes, Lelé. Mas uma coisa eu sei - para meu bem, vou tentar não as guardar.
ResponderEliminarE sabes que enquanto escrevia o texto pensei qualquer coisa de semelhante, já muito afirmada neste blogue? De facto temos que lhe agradecer isso. Aproximou-nos de uma forma absolutamente inédita!
O meu texto comoveu-te, mulher? Fico contente! Kakakakaka
Muahhhhhhh
Sobrevivemos, é certo.
ResponderEliminarNo entanto, estou com a Lelé: algo se quebrou cá dentro.
Lamento, pelo meu filho, pelos meus alunos e por mim que o mal feito não seja tão depressa corrigo. Lamento o pessimismo, mas o contexto não dá para mais-
Entrei no Picasa através da conta google mas do gmail...e descobri que tenho o meu album com um cadeado, ehehehe logo, não o posso ver e daí não conseguir apagar as fotografias.Ainda estive a tentar ler aquilo para ver se chegava lá, mas hoje estou muito cansada. Não me apetece descobrir nada, nem fazer nada.
ResponderEliminarFica para amanhã.
Beijinho
Fez-me bem mudar de escola, Elsa D.
ResponderEliminarSe permanecesse muito mais tempo na ESA temo que ficaria uma pessoa amargurada, frustrada, triste, sem capacidade de regeneração.
Pena que a tua escola tenha escolhido prolongar os erros, prolongar as cabeçadas nas paredes.
A minha está pacífica. Tudo parado a ver no que dá e e nem se fala de ADD. É como se essa coisa doentia não existisse de todo.
Beijinho grande
Com um cadeado? kakakakaka...
ResponderEliminarCorta-o!
Eu diria muito, muito, mais! Anabela Magalhães regressou a casa do Ministério de MLR. Acho que isso nunca vai esquecer!
ResponderEliminarA senhora até não era má pessoa, era péssima, mas tadinha, o amor não lhe correu bem e ela queria distrair a cabeça, assim olha, resolveu andar a fazer macacadas, só que os professores quebraram os galhos todos, não tinha mais para onde saltar e caiu do Ministério.
O que irá a senhora fazer? Podia agora ir dar aulas e sentir na pele a avaliação, era engraçado!
É verdade, Ricardo, regressei a casa! E isso no consulado de MLR! Não vou esquecer. O resto também não.
ResponderEliminarQuanto à senhora era bom vê-la com cinco turmas de CEFs mais umas quantas das outras para ela sentir na pele como elas aqui mordem!
Bj
Ricardo, gostei do teu comentário.Achei-lhe piada e ri-me. O meu desejo também era esse. Que ela, agora, tivesse que conhecer na pele, nos ossos e no espíríto o que é ser professor no Básico e Secundário.Passar da teoria à prática, tás a ver? (mas,tadinhos dos alunos, o que eles iam sofre...)
ResponderEliminarEu fui sobrevivendo, mas em mau estado...
ResponderEliminarLamento, François, e espero que te consigas regenerar.
ResponderEliminarEu estive nos últimos quatro anos numa escola adesivada até dizer chega - ESA - EScola Secundária de Amarante, um verdadeiro feudo do ps. Tive momentos de verdadeiro desalento, mas lá fui conseguindo superar a anormalidade que frequentemente me rodeava. Nâo foi fácil. Não foi mesmo nada fácil!
Agora mudei de escola e estou em casa. Mas não abandonei a luta.
A luta continua.
Excelente fim-de-semana e bem vindo a esta minha casa.
Ontem esqueci-me de te dizer que adorava ter escrito este texto.
ResponderEliminarO horário deste ano dá comigo em doida. E como se isso não fosse já mal bastante...
Obrigada, Elsa! Muito obrigada mesmo. Tu tens uma ideia bastante próxima do que eu passei na ESA!
ResponderEliminarEstá atrás das minhas costas, graças a deus, né?
E quanto ao resto temos de conversar em particular...