quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

(In)digestão - Debate sobre os Impactes Ambientais da Barragem de Fridão


Eutrofização no Tâmega - 5 de Setembro de 2009 - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

(In)digestão - Debate sobre os Impactes Ambientais da Barragem de Fridão

Primeira consideração - O dia e a hora escolhidos para a realização de um debate desta natureza, que se diz querer ser abrangente, não foram os melhores. De facto, este debate promovido pela CMA parece ser mais para inglês ver do que outra coisa qualquer ou o dia escolhido não passaria por ser um dia de semana e não passaria por ser à hora absolutamente inconveniente a que foi marcado, 18 horas, hora a que a esmagadora maioria das pessoas jamais poderia comparecer. Assim pareceu-me que foi mais um "cumprir de calendário" que permitirá ao poder local afirmar que promoveu o debate. O que até "é verdade".

Segunda consideração - O debate não foi esclarecedor. Toda a informação negativa associada a esta construção foi escamoteada, omitida ou adoçada, na primeira intervenção, mais parecendo que a EDP nos fará um enormesco favor em construir a dita barragem e que nós, que nos opomos à sua construção, somos é uns mal agradecidos e que deveríamos era implorar pelas almas dos nossos antepassados, e quiçá pagar à EDP, pela construção da dita, de tal modo o panorama nos foi pintado em vários tons de azul celeste, celeste ou mesmo celestial, mesmo se com erros e incorrecções à mistura, como seja a "migração da Ilha dos Amores" que, coitada, assustada com o processo de eutrofização do Tâmega, resolveu migrar para junto da Ponte Nova. Não a condeno. Se eu fosse Ilha dos Amores, faria exactamente a mesma coisa, caso tivesse a possibilidade de fugir a sete pés daquela pasta verde nojenta, que se agrava a cada Verão que passa, e que é visível por qualquer olho que não seja cego.

Terceira consideração - Um dos responsáveis pelo Estudo de Impacte Ambiental, no que à Fauna diz respeito e que estava presente no debate, ao que parece não encontrou, na sua amostragem, feita na Primavera, com caudais de água elevados, em condições muito difíceis de acesso ao rio, não encontrou, dizia eu, nem lontras nem mexilhões.
E eu não pude deixar de pensar, durante esta coisa a que se chamou debate, que nem me espanta que os mexilhões não estivessem visíveis e muito menos estivessem dispostos a deixarem-se apanhar por tal técnico e pensei mesmo mais... pensei mesmo que a verdadeira comunidade de mexilhões éramos quase todos nós, presentes naquela sala, habitantes do fabuloso Vale do Tâmega que agora se pretende destruir por completo.
Quanto às lontras... enigma... talvez tenham encolhido de tamanho... talvez se tenham mimetizado com o arvoredo das margens, com a penedia que desponta, aqui e ali, à superfície da água... talvez também tenham fugido... sei lá eu... talvez para a Piscina Municipal que por certo é um lugar mais seguro para lontras...

Quarta consideração - Peço a alguém que tenha estado presente no debate que me ajude a digerir esta informação prestada pelo Professor Rui Boaventura que eu até tenho receio de estar a ficar taralhouca... É verdade que este senhor professor, engenheiro químico de formação, afirmou assim mesmo e sem apresentar quaisquer dados em concreto, que a qualidade da água no Tâmega melhorou com a construção da Barragem do Torrão?
E que afirmou desconhecer o processo de eutrofização no Tâmega?
Foi isto verdade ou eu estou mesmo a ficar taralhouca?

Quinta consideração - A dada altura afirmou Orlando Borges que, e estou a citar de memória sendo que retive o sentido das suas palavras, jamais o ouvirão dizer que a construção de uma barragem não trará impactes negativos, porque tem, e muitos.
Ok, foi apenas um pequeno esclarecimento e eu considero-me esclarecida.

Sexta consideração - Cabe ao moderador de um debate desta natureza, atendendo a que está a lidar com pessoas, algumas das quais vão ser afectadas, de facto, pela construção da dita barragem, sentindo os seus malefícios na pele, ser efectivamente um moderador, moderando aqui e ali, deitando alguma água fria no calor dos argumentos esgrimidos, se for caso disso, estimulando as pessoas a colocarem as suas dúvidas do modo como podem e/ou sabem, comportando-se com elegância e decoro, comportando-se com educação e correcção e jamais o seu contrário.

Sétima consideração - Estou a tentar digerir o espectáculo deplorável a que assisti. Não sei se vou conseguir.

Oitava consideração - Quanto mais observo de perto a actuação de inúmeros políticos mais aprecio alguns cães. Por exemplo os Dálmatas. Excelentes companhias, leais, bem dispostos, meigos, brincalhões, divertidos...

Notas finais - Logo que esteja disponível, caso venha a estar, a gravação deste debate deprimente, colocá-la-ei neste blogue, para que todos os meus leitores possam ver com os seus próprios olhos, e escutar com os seus próprios ouvidos, aquilo que eu vi e escutei hoje.
As fotografias que ilustram este post foram tiradas por mim sem quaisquer malabarismo ou manipulações. Limitei-me a disparar.
O pé visível na fotografia é o meu, sobre a margem esquerda e putrefacta do meu rio. O meu rio é o que eu guardo na minha memória e recuso-me a pactuar calada, em silêncio, com a sua agonia.

9 comentários:

  1. Uma sugestão minha (deste banido Ochoa) -- promovam uma travessia a nado do Tâmega... E convidem instâncias as mais altas dos senhores governantes-desgovernantes. Marcelo Rebelo de Sousa também em tempos se lançou a nado ao Tejo. Saborearão a Merda e saberão o sabor do que obram!
    P.S.: Continuo a arquivar as tuas fotos do horror hiante!

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  2. Excelente sugestão, Ângelo.
    Que venha o "nosso" primeiro!
    Porca miséria!
    País miserável este que assim promove sessões de esclarecimento que mais parecem sessões de venda da banha da cobra! Reles.

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  3. Olha, 'tou gaga!
    Boa ideia Ângel(inh)o!

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  4. É um poder miserável este a cujo exercício assistimos um pouco por todo o país, Em@!
    Começo a ser "importunada", de quando em vez, por uma cada vez maior vontade de me ir embora deste país...

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  5. Nemme digas nada! Se não fosse "aquele" senão já tinha abalado de mala e cuía.

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  6. Penso nisso cada vez mais amiúde.
    Este país está um local doente, governado por gente que não merece a minha confiança.

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  7. ...Em@ a quedar gaga... Espero que não seja o «vírus do Cavaco» que muitos tem abatido de afasia apanhados. Ultimamente. Quanto a emigrar, Anabelissima, é meu exercício diário a a ares de cor para disparar para ar. Minhas sós alegrias são filhotas e família resumida a Otília e Mirita.
    Continuemos de cá da barricada. Esperem horas e dias comments meus por moderação... Como este que segue e postei em um tal de... DESCONHECIDO DA POSTA RESTANTE! lÁ VAI:
    (...) SOBRE UM sALGADO PAI E UM sALGADO FILHO... Herdaram a infâmia!
    lÁ VAI MESMO:
    (EM ESPERA A HÁ QUASE 24 HORAS! (POR MODERAÇÃO...)
    Nossos verdadeiros males:
    1º) Capelinhas e Lobbies.
    2º) Corrupção generalizada.
    3º) Adulterar do «serviço...»
    Neste caso, supra postado, trata-se do primeiro dos três enumerados «males».
    Quem não der meigas palmadinhas a costas camaradas não irá a lado nenhum em matéria de dinheirinho ou de política.
    Vale!

    in

    http://vidabreve.wordpress.com/2010/01/29/enfim-o-legado/
    bjnhs
    q não os amandamos a Tâmega?

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  8. Ai Angel(inh)o, não me fale do Cavaco qu'eu nã gosto do home,nem só um pôcachinho.
    Prefiro ter o vírus do Raul Solnado - um gago que venceu tão bem a sua gaguez...
    Bora lá amandar os gajos (os da porca miséria , é clao) ao Tâmega
    "Atira-te ao mari e diz que t'empurrarem..." cantam os Íris - um grupo rock Algarvio que brinca com o sotaque deste sul.
    Beijinhos

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