segunda-feira, 26 de abril de 2010

Da Importância do Respeito Através do Silêncio


Mosteiro de Alcobaça - Alcobaça - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Da Importância do Respeito Através do Silêncio

Tenho andado em conversações com os meus botões sobre a importância do respeito através do silêncio que todos nós devemos a pessoas e a locais, em circunstâncias determinadas.
Recordei-me de uma viajem à Turquia, feita já lá vão uns bons quinze anos, e do exercício que fiz, no interior das várias mesquitas visitáveis por ordem dos turcos.
Para quem não está muito familiarizado com o mundo islâmico, devo esclarecer que a maioria dos países veda, por completo, a entrada nestes recintos a não muçulmanos, ou seja, a não crentes no Islão. A mesquita é entendida como um local de culto, coisa muito séria para os crentes, não é para servir de local que se exibe, e onde se observam muçulmanos(as) nas suas orações diárias, no seu contacto íntimo com Alá.
Confesso que na Turquia entendi as razões que lhes assistem, muito embora eu amasse entrar em todas elas, da Jordânia à Líbia, da Tunísia a Marrocos, das Maldivas à Mauritânia, para observar e para disparar, em absoluto silêncio, a minha máquina fotográfica, registando na mente, e na memória digital, tudo o que me interpela.
Nas mesquitas onde entrei, na Turquia, fiz um exercício curioso e observei de fora, com o distanciamento necessário que me permitiu entrar na pele do outro. Descalça, de cabelos e ombros tapados, obrigatório para quem quer entrar dentro delas, vesti a pele de um(a) muçulmano(a) a assistir ao circo montado para/pela turistada - grupos de italianos, de portugueses, de franceses, de alemães, de espanhóis... que aquilo parecia uma Babel, escutavam os guias nas respectivas línguas, que, para se fazerem ouvir entre tanta língua estranha, tentavam falar uns mais alto do que os outros. A turistada, curiosa, colocava questões procurando fazer-se ouvir também ela, e eu, na pele do observador estranho a tudo aquilo, na pele do outro, do muçulmano, pensei -"Meu deus! Que chiqueiro! Que falta de respeito por um lugar de culto para tantos milhões de crentes!" - e dei comigo a pensar que por certo, e face a tal panorama diário, também eu vedaria aqueles locais aos turistas que, aos molhos, camionetas e camionetas deles, iam chegando e profanando o silêncio daquele local.
Eu, a que não tem religião, a que ainda não se conseguiu decidir sobre um qualquer deus, senti-me profundamente incomodada pela falta de respeito, inconsciente por certo, por aqueles espaços de culto, por aqueles espaços que são património mundial da humanidade.
No sábado senti o mesmo. No mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, local de culto para milhões de católicos, património mundial da humanidade, local onde o Hélio casou e baptizou os seus filhos, se lá estivesse como responsável e assistisse a semelhante profanação do dever de respeito e de silêncio, exactamente no espaço devotado ao silêncio pelos monges da Ordem de Cister, teria colocado toda a gente na rua. E eu também vinha. E era merecido.

2 comentários:

  1. Mãe, dissesTe pra parar.
    Repetidas vezes ouvi a linda voz que bem entendo.
    Mas reincidi teimando.
    Cale agora o sussurro rouco, a confusão,
    a turva inquietação, logro meu.
    Soe simples louvor a Teu Silêncio Imenso.
    Obediente paciente amiga, perdoa.
    Recomece, determinado, a aprender morrendo.

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  2. Uma beleza, Ângelo!
    Obrigada.
    Beijinhos daqui para aí!

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