sábado, 12 de junho de 2010

Estilo Socratiés


Antes - Valado dos Frades
Fotografia de Hélio Matias

Depois - Valado dos Frades
Fotografia de Hélio Matias

Estilo Socratiés

A maluqueira que se apoderou deste país e desta gente, em variadíssimos domínios, é notória e gritante.
Um povo distingue-se por muitas e variadas razões, específicas, quantas vezes únicas. A arquitectura popular é uma delas e a cada passo deixa-me embasbacada, aqui e ali, por excelentes razões, confesso que mais ali do que aqui, apenas porque a vejo, frequentemente, mais acarinhada e sustentada ali, não porque a ache de maior qualidade.
A arquitectura que resulta da cultura de um povo, da sua adequação aos terrenos, da sua adaptação aos materiais circundantes e disponíveis, da adaptação ao clima, aquela que brota da alma e da necessidade de construção de um abrigo, é tão importante, para mim, como a mais bela catedral gótica e ambas me fazem parar, meditar, reflectir, interiorizar.
A falta de respeito, generalizada, que os portugueses demonstram pelo património que lhes foi legado pelos seus antepassados, é qualquer coisa de absolutamente nojento e asqueroso e que permanentemente me deixa de boca aberta perante crimes monstruosos de lesa património que são permitidos a torto e a direito neste país.
Foi o caso deste. Deste crime documentado pelo Hélio Matias, em Valado dos Frades, com fotografias separadas por apenas uns poucos meses, e publicadas aqui, no seu blogue..
Antes um lar português, distinto, castiço, popular, típico e onde a alma de um povo parece levitar envolvendo a construção, dando-lhe até um toque de não sei o quê de magia.
Depois uma coisa de estilo socratiés, plástica, sem sabor, sem especificidade, sem distinção, horrorosa e sem alma que lá caiba, e que lhe valha, e que a salve deste estilo muito desenvolvido e apurado, pelo nosso inginheiro, por terras interiores de Portugal.
E apenas aproveito este exemplo exemplar para voltar a um tema tão caro para mim e que é o do espatifanço generalizado do meu país, de Norte a Sul, com uns oásis aqui e ali, valha-nos alguns ajuizados ou isto estaria tudo perdido, nas mãos de uns patos bravos que não param perante nada, nem ninguém.
Lamento que assim seja. Se pudesse passaria a minha vida a recuperar casas antigas, transmutando-as, que gozo!, mas mantendo-lhes o Ser, numa atitude de respeito pela memória de um povo que, por acaso, é o meu.
O Ser de uma casa, legado pelos que nos antecederam no território, não se mata. Acarinha-se.
Um povo que assim desrespeita a memória e o legado dos seus antepassados não pode ser flor que se cheire. Um povo que assim actua merece o estilo socratiés. E merece o próprio.

7 comentários:

  1. Sinto-me lisonjeado pela referência que fez ao meu blog no....Anabela Magalhães.
    As fotografias são minhas.
    A desilusão também!

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  2. O seu blogue, Hélio, presta um serviço inestimável a Valado. Pelo caminho, ainda nos presta um serviço inestimável a todos nós, que o acompanhamos regularmente.
    Acompanho-o na profunda desilusão sentida.
    Abraço

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  3. Só mais uma achega.
    Um seu colega de História e Professor como nós, referencia o Anabela Magalhães, precisamente na transcrição do "Estilo Socratiés".
    Certamente que conhece...é o Abaciente!

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  4. Conheço o blogue, já por lá andei, mas o seu autor, pessoalmente, não. Apesar de só nos separar o Marão. :)

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  5. Excelentes! Exemplos exemplares, Black!
    E assim continuamos... cantando e rindo...

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  6. "Se pudesse passaria a minha vida a recuperar casas antigas, transmutando-as, que gozo!, mas mantendo-lhes o Ser, numa atitude de respeito pela memória de um povo que, por acaso, é o meu."

    Transcrevo esta sua frase, porque a acho linda e concordo plenamente, como sabe. Também adoro dar futuro ao passado. Assim sendo e se me permite deixo aqui um bom exemplo disso... Paris...para folhear e saborear...

    http://www.taschen.com/pages/en/catalogue/lifestyle/all/04938/facts.new_paris_interiors.htm

    Bjs
    Lourenço

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