sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Cocó na Fralda e A Puta

O Cocó na Fralda e a Puta

Hoje publico um post brilhante, retirado do Cocó na Fralda, que retrata com precisão um tipo de inveja mesquinha que abunda entre nós, e se encontra amiúde à solta na blogosfera e que povoa o nosso dia-a-dia também.
Resta-me dizer que cheguei a este post via Professorinha, a quem agradeço o link.
Asseguro-vos que vale a pena ir ao Cocó, ler o post no seu sítio original, ler os mais de 300 comentários por lá deixados que se lêem entre sorrisos rasgados e gargalhadas.
Desfrutem de uma escrita escorreita, lúcida, certeira e irónica como o raio que a parta!

terça-feira, 13 de Julho de 2010

A puta

Vou dizer-vos uma coisa. É preciso ter muita paciência para ter um blogue. Porque se há gente muito boa e querida e simpática como vocês, que são a maioria, depois há os outros. E se é verdade que são mesmo a minoria, esses outros cansam. Moem. Molestam. Porque são repetitivos. E têm tantos problemas na mona e na vida que fazem dó. Para esses, eu sou sempre e serei sempre... uma puta. Se sou feliz sou uma puta. Se sou infeliz, mais puta sou. Então é assim:
Se eu escrevo que vou de fim-de-semana, sou uma puta porque com esta crise há imensa gente que nem sabe como comer, quanto mais pensar em passar fins-de-semana fora. Se mostro fotos do sítio onde estou sou uma puta, a fazer pirraça a quem tem de ficar enfiado em 20 metros quadrados e cheio de fome. Mas se não mostro, sou uma puta ainda maior, que deve estar num palacete banhado a ouro e que nem tem coragem de mostrar, tal é o luxo nojento. Mas se, pelo contrário, não vou de fim-de-semana e me queixo de ter o dinheiro contado, sou uma puta porque moro no Parque das Nações, tenho os filhos no colégio, e devia ter vergonha por me queixar da falta de cheta quando há gente que, essa sim, não tem um cêntimo na carteira.
Se digo que estou gorda, sou uma puta porque há pessoas que pesam tanto que chegam aos 3 dígitos e estou a humilhá-las ao falar do meu suposto peso a mais. Mas se fico feliz porque emagreci, sou uma puta porque tenho dinheiro para fazer dietas que os outros não têm, e tenho tempo para fazer caminhadas, coisa que os outros, coitados, nunca têm.
Se me queixo dos meus filhos, porque fizeram uma tropelia qualquer e se estou cansada deles e deixo um desabafo, sou uma puta porque há tanta gente a querer engravidar sem conseguir, e eu que tenho filhos nunca por nunca devia queixar-me deles, é uma vergonha. Se os enalteço, vaidosa, sou uma puta que não pára de se gabar, e devia ter vergonha porque há pessoas que têm filhos deficientes que não conseguem sequer sorrir quanto mais fazer as habilidades que os meus fazem.
Se ponho vestidos da Madalena, sou uma puta exibicionista que devia era dar tudo a instituições de solidariedade. Se falo de solidariedade, sou uma puta porque na verdade o que eu quero é mostrar-me boazinha mas não passo de uma megera nojenta, que tem dinheiro para ser solidária, porque o resto das pessoas, coitadas, não têm dinheiro para si, quanto mais para os outros.
Se digo mal de um funcionário, que me atendeu mal, e calha a chamar-lhe burro, sou uma puta que não sabe o que passam os funcionários, uma puta que está a dizer que todos os funcionários desse ramo são burros, uma puta que acha que só porque tem um curso superior é melhor que os outros, devia era virar uma dessas funcionárias para ver o que era bom.
Se me queixo de ter muito trabalho, sou uma puta porque há muita gente no desemprego e eu devia era virar as mãos para o céu e agradecer ao Senhor a oportunidade que me deu. Se digo que houve um mês pior, com menos trabalho, vão dizer que eu sou uma puta, que em vez de estar em casa armada em freelancer devia era estar sentadinha a uma secretária, que assim não me faltava o trabalho, essa é que é essa.
Se digo que baptizei os meus filhos por respeito e amizade à minha sogra, sou uma puta porque com Deus não se brinca. Se decidisse não os baptizar, apesar dos pedidos da sogra, era uma puta das piores, ingrata do caraças, coração de pedra, incapaz de descer do seu pedestal arrogante para fazer alguém feliz.
Se estou doente, e descrevo o mal-estar, sou uma puta que não sabe o que é estar realmente doente, doente à séria, em perigo de vida, com um padre ao lado pronto para a extrema unção. Se me regojizo com a minha saúde, sou uma puta que merece é ficar doente, por estar a vangloriar-se de algo que há tanta gente a não ter.
Eu podia continuar por aí fora. Mas não posso. Tenho de ir trabalhar (ai, que puta, trabalhar? E tanta gente no desemprego...). E daqui a bocado também tenho de ir fazer o almoço para os meus 3 filhos que estão em casa porque têm tosse (tosse? oh, minha puta, tosse não é doença, sabes lá tu o que é estar doente?). Ainda bem que esta gente é a minoria. São vocês, a maioria saudável, que me faz continuar a ter vontade de vir aqui contar algumas aventuras e desventuras da minha vidinha normal (normal? tu és é uma anormal de primeira! E, claro, uma puta!)
Publicada por SMS em Terça-feira, Julho 13, 2010

333 comentários:

15 comentários:

  1. olá!
    está fantástico... não consigo parar de rir... até merecia acabar com um palavrão...

    Lourenço

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  2. Também me aconteceu o mesmo... genial mesmo, do melhor, mais certeiro e acutilante que tenho lido na blogosfera!
    Desfrute, Lourenço, duma escrita feminina bem escorreita e saudável!
    Beijinhos!

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  3. É verdade, Black... particularmente verdade aqui no ractângulo... como nós muito bem sabemos!
    Abraço!

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  4. Como eu a compreendo, puta ainda não me chegou, mas corno creio que já. Mas sabe eu até gosto por dois motivos:
    1. Não sou casado
    2. Significa que leem aquilo que escrevemos e têm dor de cotovelo...

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  5. Não há puta sem senão...
    Gostei!
    Um xi.

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  6. Bem visto, Ricardo! Pensamento positivi mesmo! Mas cá para nós... a inveja é uma coisa mesmo feia!

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  7. Ai Black que eu escrevi ractângulo!!! Credo! Poderei estar a sofrer da doença da Margarida Moreira, minha ex herr directora daquela coisa chamada dren?

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  8. Desmparou. Mandei-o para o galheiro!
    Sabes que eu sou muito paciente, conheces-me dentro da sala de aula, mas também sei ser... como é que dizem os meus alunos dos CEF?...
    Pois, a professora é implacável! kakakakaka...
    Jocas!

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  9. Minha querida Dudú!
    Tava com saudadinhas tuas, Linda!
    E é verdade... não há puta sem senão...
    Xi-coração, forte, carago! daqui do Norte para a planície escaldante do Sul!

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  10. Ah! Cheguei um pouco tarde...mas ainda a tempo de deixar o meu manifesto.
    Confesso-me: TAMBÉM SOU UMA GRANDE PUTA!
    Vivam as PUTAS!
    Arriba com LAS PUTAS!
    Afinal o que há mais neste país são PUTAS!
    ...E vivam OS FILHOS DA PUTA QUE POR AÍ ANDAM À SOLTA...sim porque as PUTAS TAMBÉM TÊM FILHOS!
    DA MAIOR PUTA DO SUL!
    Ip!

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  11. E o meu sorriso largo depois do café neste inicio de tarde ao ler este texto que realmente retrata a mesquinhez que paira no ar... E vamos curtindo a vida apesar da inveja dos outros.

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  12. Sim, que da vida não desistimos, não é assim, Raul?
    Beijinhos!

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