quarta-feira, 13 de julho de 2011

Textura do Medo

Textura do Medo

Textura do Medo



"É inegável: o medo apoderou-se dos professores. Ele está presente nas entranhas conscientes e inconscientes, e condiciona quase todas as suas atitudes. O medo é superior ao poder concedido aos directores e mesmo superior ao texto da Lei. O medo é a própria Lei.


Os professores, nas diversas funções e cargos que desempenham, já não questionam, já não querem saber as razões, os fundamentos, o porquê e o para quê; já não querem saber se isto ou aquilo está consignado num texto legal: aceitam, cumprem, obedecem, acumulam tarefas, responsabilidades… porque têm medo. Têm medo quando pensam, quando executam e quando avaliam a sua acção. Em todos esses momentos, a ideia de se justificarem está omnipresente e é omnipotente. Os professores têm medo das retaliações legais que este novo statu quo permite.

Sinceramente, acho que ainda não sinto esse medo. Mas tenho medo desse medo que leio nas atitudes dos professores deste país. Tenho medo do amanhã que ele anuncia. Gela-me, ensombra-me a alma, faz-me ter vontade de não querer! Enfim, destrói-me!


Nós, todos nós, ensinamos muito mais aquilo que somos do que aquilo que sabemos. Para mim, isto é tão cristalino como água de nascente. Assim sendo, o que pode o amanhã esperar de uma geração de professores vergados à obesidade do medo? Que espécie de educadores poderemos ser? Como poderemos ajudar a formar homens livres, se aprisionámos, se castrámos em nós a liberdade de pensar e de agir? Como poderemos preparar as nossas crianças e os nossos jovens para o exigente tempo que se afigura, se temos a vontade algemada, se temos a consciência oprimida, se… já não sabemos quem somos nem o que andamos a fazer como autómatos?

Mesmo neste silvado de desvalores, a estrela polar de qualquer professor, de qualquer educador, deve permanecer luzente no firmamento da sua postura, pois é nela que, consciente ou inconscientemente, o sextante dos seus alunos se vai fixar. É essa estrela que eles vão seguir para serem. E é essa a raiz do meu medo: que os nossos alunos não consigam ver em nós estrela nenhuma! Apenas um pedaço de noite calada e triste!


Nota Fina - Sinceramentel eu ainda não sinto este medo mas, como o Luís, também tenho medo de o vir a sentir algures...
Agradeço-te o sábio e belo texto, Luís Costa!

4 comentários:

  1. O texto é tão certeiro, tão belo, tão poético quanto angustiante... já o li várias vezes como vários colegas nossos. Lembrou-me muito a letra da canção do Jorge Palma "À ESPERA DO FIM"

    Vou andando por ai
    Sobrevivendo á bebedeira e ao comprimido
    Vou dizendo sim á engrenagem
    E ando muito deprimido
    É dificil encontrar quem o não esteja
    Quando o sistema nos consome e aleija
    Trincamos sempre o caroço
    Mas já não saboreamos a cereja
    (....)

    Se ainda me queres vender
    Se ainda me queres negociar
    Isso já pouco me interessa
    Perdemos o gosto de viver
    Eu a obedecer e tu a mandar
    Os dois na mesma triste peça
    Os dois á espera do fim

    (...)

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  2. O Luís Costa é um poeta e tanto! Vai daí escreveu esta prosa carregada de poesia que nos deixa a pensar na vida... para onde caminhamos nós?

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  3. Eu não sinto medo... Mas estou à deriva... Já não sei o que é certo, já não sei qual é o caminho...
    Mas há quem pareça saber e nem se questiona... Sinto que já não sei nada, que já não pertenço...
    Mas quando vejo um aluno, o seu sorriso, o seu contentamento, a luz acende-se de novo... Até uma nova reunião, até um confronto de ideias sobre educação, sobre para onde caminhamos... A luz fica apagada por muito tempo...

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  4. Olha, Trovão, eu também vivo com mais dúvidas do que com certezas e com ajustamentos contínuos de práticas que se experimentam e se avaliam e se alteram... ou não.
    Uma coisa é certa, há mais luz nos alunos... de longe o melhor das escolas.
    Sê bem vindo a esta minha casa!
    Fica bem!

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