A Sala da Mestra - S. Domingos - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Não sei se os meus leitores saberão ao que me refiro quando intitulo este post de "A Mestra".
A minha mestra chamava-se Adelaide, nós, miúdos, chamávamos-lhe "Delaidinha".
A "Delaidinha" era a senhora que nos acompanhava na realização dos deveres escolares, findas as aulas da primária, eu a frequentá-las no Colégio de S. Gonçalo.
Os meus progenitores trabalhavam ambos e, no fim das aulas, lá subíamos, eu e muitos outros da mesma idade, ligeiramente mais novos ou mais velhos, o caminho tosco que nos levava ao Peitoril, à Igreja de S. Domingos ou Igreja do Senhor dos Aflitos, portinha do lado, escadinhas estreitas e lá chegávamos nós a esta salinha, que antes me parecia bem maior, fotografada na semana passada, agora que todo o edifício está em obras de restauro.
As minhas memórias deste espaço são memórias boas e não guardo qualquer memória de violência, nem desmedida nem de outro tipo qualquer, associadas à Mestra.
Aqui recebíamos orientação nos estudos, num tempo complementar pago pelos nossos pais, uma espécie de Sala de Estudo da época, um ATL, à falta de ocupação dos tempos livres que não fosse corridas de carrinhos de rolamentos pela Rua da Cadeia abaixo, jogos da patela, da macaca, brincadeiras de roda e cantilenas sincopadas, de elástico, corridas de sameiras, apanhadinhas ou caçadinhas, brincadeiras de índios e afins, numa vila de província e provinciana até dizer chega.
Do lado esquerdo, quem entra, ficávamos nós, estarei confundida se disser que nós ficávamos sentados numa estrutura com degraus de madeira? e a Delaidinha ficava em frente, de pé, comandando as tropas.
Nunca mais tinha entrado nesta sala, agora com o tapamento ao fundo desmantelado pondo a nu as tripas da Torre Sineira, embebidas na parede posterior que a ela encostou.
São memórias boas as que guardo daqui, com conversas em surdina feitas da existência de túneis entre o Convento das Freiras e o dos Frades, e de túneis secretos saindo da Igreja de S. Gonçalo, em direcção ao rio, em direcção à Ponte Velha, trocadas em segredo entre miúdos de idades aproximadas.
Lembro-me de correr desenfreada em direcção ao Largo de S. Gonçalo, finda "A Mestra", a parede da Torre Sineira servindo-me de travão, eu de braços esticados e mãos abertas, recuperado o fôlego, corrida desenfreada ao ataque do segundo lanço... meus deuses... não sei como não me espatifei...
Pois é Anabela, nós temos mesmo muito em comum...
ResponderEliminarTambém eu andei na "Mestra", foi lá que aprendi a ler e a fazerr crochet, e mais que isso, a Delaidinha é minha tia!
Que saudades tenho daquee tempo, das "sonatas" tocadas no órgão, das correrias pelas escadas, do fresco das pedras no verão! Sim, porque eu só frequentava a "Mestra" nas férias, visto morar na Costa Grande. Quando começavam as férias escolares lá vinha eu e a minha irmã Linda, pela mão da minha irmã mais velha Mila que então trabalhava no Cantinho e assim aprimoravamos as matérias escolares e treinvamos os lavores femininos. Também guardo doces memórias desse tempo. É engraçado, às vezes dou comigo a comentar com a minha irmã "então não te lembras? andou connosco na mestra?" Efectivamente é uma referência nas nossas vidas.
Eheheh... é a matriz da terrinha...
ResponderEliminarEu sou mais velhita que tu, lembro-me muito bem da tua irmã, muito nova, trabalhar no Cantinho.
Não me lembro de lá treinar os lavores femininos, desses só guardo memórias doces do Colégio, com a doce irmã Augusta e da música, com a doce irmã Luísa... o resto das irmãs eram umas doidas frustradas que me fizeram querer sair daquelas salas de violência a sete pés, na primeira oportunidade.
A Mestra resta como matriz. Nem suspeitava que pertencia à tua família... ainda hoje a cumprimento sorrindo... eheheh...
Acho que os lavores era uma modalidade de verão eh!eh!
ResponderEliminarQuantos às queridas Irmãs Augusta e Luísa, eu não andei no Colégio, mas conhecias muito bem na catequese e na coral da Igreja da Madalena, amorosas ambas!
Realmente somos "amarantinas" de gema :)
Oh! Sério que também fazem parte das tuas memórias de infância? As únicas que eu recordo com ternura de todas aquelas silhuetas de preto vestidas, excepções, elas, num mundo ríspido, duro, agressivo, violento...
ResponderEliminarApesar de tudo adoçaram-me os dias lá...
Somos Amarantinas... de gema! Vai daí... fios de ovos, amarantinos, brisas, barcos... eheheh... ai que desgraça!