Dia de Visita - Amarante
Apareçam na sexta-feira, dia 2, pelas 21 horas, no Cineclube de Amarante. Contaremos com a presença do realizador Luís Vieira Campos. Com sorte, até com a presença do actor Miguel Rubim!
Hoje dou a palavra, uma vez mais neste blogue, a Elsa Cerqueira.
"Sabemos que é um Dia. Mas não é um dia qualquer, como tantos outros. É um dia que transgride a normalidade. É um dia desejado. Mais: é um dia ansiado.
A curta-metragem de Luís Vieira Campos aborda a temática da “visita íntima”. Mas o que é a visita íntima? O que a diferencia das demais visitas?
Em primeiro lugar, a liberdade. Quem é visitado sofre da sua privação. Há casos em que visitante e visitado são ambos seres enclausurados.
Em segundo lugar, o tempo cronológico. Esta visita tem uma duração de três horas e uma periodicidade mensal. Não é possível dilatá-la. A sua regulamentação é rigorosa e rígida.
Depois, surge-nos o espaço. No caso deste filme, trata-se do Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo.
Sim. As visitadas – porque a prisão é feminina -, são mulheres.
O dia de visita é um momento íntimo. É íntimo porque é profundo. É íntimo porque é privado. É íntimo porque reivindica o comprometimento e a comunhão total entre dois seres.
Este é o dia da primeira vogal, da primeira letra do alfabeto. É o dia dos Afetos.
Numa das cenas iniciais do filme surge a imagem de rails de uma autoestrada. Metáfora ao dinamismo intrínseco da vida, à incerteza do seu trajeto ou direção... tal como a existência, na qual somos ora protagonistas, ora espectadores, se vai desenrolando e desvelando, intercalando experiências de júbilo com aquelas que desejaríamos esquecer.
Há uma dialética latente nestas oscilações entre estados emotivos contrastantes, na qual se tece a (nossa) biografia do sentir, cúmplice do existir.
O que ressalta do filme é o paradoxo entre a clausura que a instituição prisional, com todas as portas – tal qual uma matrioska -, gradeamentos e arames ostenta; o quarto e as paredes que o confinam (onde decorre a visita íntima), e a erupção de emoções da reclusa, mulher de Francisco (Miguel Rubim), interpretada por Sandra Salomé.
Privadas da liberdade corpórea, as reclusas tentam manter intactas as liberdades incorpóreas: a da consciência e a dos afetos.
Percebe-se que o objeto fílmico, que Luís Campos elegeu, é controverso. Mas esta curta-metragem tem vários méritos: o de evitar cair no juízo precipitado ou preconceito sobre estas mulheres. Para quê, como e por quê condenar quem já foi condenado ou está na desventurada expectativa de o ser?
Não é o dia do julgamento, mas o das vivências emocionais intensas.
Por outro lado, desmitifica a associação simplista entre os afectos e a sexualidade. Os afectos não se reduzem à sexualidade, ainda que possam ser sexuados.
Finalmente, o tempo psicológico.
Assiste-se ao elogio da lentidão como potenciadora da captação dos gestos e das reações expressivas das personagens.
Por quê esta insistência do tempo, e com ele as imagens e o som, em avançar vagarosamente?
Talvez, porque é a única forma de erigir em pequenas imortalidades as emoções intensas, por natureza efémeras.
Talvez, porque estas emoções resistam à mensuração. Transgridam o pêndulo.
Talvez..."
Elsa Cerqueira,
Cineclube de Amarante
Dia de Visita foi o Vencedor Março 2012 Shortcutz Porto.
Trailer de Dia de Visita
Olá, Anabela!
ResponderEliminarSó mesmo "um modo divino de contar a vida" (F. Fellini) é que nos aproximaria...fisicamente.
Creio que será uma sessão muito interessante porque o argumento suscita profundas questões axiológicas.
É sempre um privilégio para o Cineclube contar com a presença do realizador/criador. É um momento de singular partilha e cumplicidade.
E, sim, o Miguel Rubim estará na sessão.
Beijocas,
Elsa
Amiga, apronta os ossos!
ResponderEliminarSerá um prazer reencontrar-te!
E sim, o Miguel disse-me que estaria presente...
Beijinhos com saudadinhas...
Amiga,esqueleto preparado!
ResponderEliminarAté sexta,
Elsa