Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Confesso que tenho embarcado para a Barca no intervalo das lutas que se fazem por aqui, ao jeito de terapia diária que me alivia os neurónios das múltiplas trapalhadas tão em moda no MEC, no país e no mundo.
Hoje foi uma tarde atípica. Cheguei à Barca com um vento forte e trovoada ao longe e um céu que escurecia a olhos vistos mas mesmo assim insisti... pois com tanto para fazer, tanto carvalho e giesta para podar, tanta erva para cortar, tanto graveto e pinha para amontoar, tanto caminho para limpar... ia lá eu dar meia volta e desistir, assim sem mais nem menos, assim sem mais nem para quê. Por isso insisti.
Estava eu concentradíssima na limpeza dos meus caminhos, arranca ervas daninhas de entre as minhas queridas pedras, todas colocadas uma a uma por estas minhas mãos calceteiras, assim como quem arranca políticos, varre daqui para ali limpando as pedras como quem limpa o chão da minha casa e eis que o barulho se torna esquisito... pois lá vem ela, a estuporada da chuva feita de grossas pingas engordadas pelo calor dos últimos dias e, a toda a pressa, recolhe marreta, sachola, tesoura da poda, serrote, vassouras... tudo dentro da carreta e lá vou eu e a dita... literalmente a voar... eu e a minha carreta voadora... ufa! ufa! que eu já nem tenho idade para estas correrias e eis que entrei no carro a tempo de olhar para mim... eheheh... e pensar: "Cum catano, Anabela Maria, estás molhada até ao tutano!"
No momento em que escrevo a tempestade passageira chegou aqui à cidade... feita de relâmpagos, estoiranços fortes e chuva a cântaros que refrescam a canícula.
Nota - Os caminhos visíveis na fotografia foram os primeiros que eu fiz, algures pelo início dos anos oitenta, tinha eu vinte e poucos aninhos.
Ainda os faço. E enquanto os penso, imagino, construo... faço uma das minhas terapias tão necessárias ao meu equilíbrio pessoal, muitas feitas de trabalho vário, físico também, que eu invento se necessário for. Foi o caso. Ando a construir caminhos no Jardim do Escorpião Azul há quase três décadas... e não é que o trabalho está longe de chegar ao fim?
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