Jardim do Escorpião Azul

Jardim do Escorpião Azul - Serra da Aboboreira - Amarante

Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Jardim do Escorpião Azul

É um pedaço de paraíso, um pequeno monte feito de pedras agrestes adoçadas por musgos e líquenes, cortado aqui e ali por caminhos ondulantes e toscos feitos ao longo de muitos anos pelas minhas mãos irrequietas.
Ali não não há plantas intrusas e muito menos exóticas, ali não há palmeiras nem árvores xpto... apenas belíssimos carvalhos, roble e negral, um ou outro pinheiro, medronheiros, giestas brancas e amarelas, urze branca e rosa, plantas rasteiras várias, todas autóctones e que vão florescendo ano após ano sem precisarem de uma gota de água que não seja a que lhes cai do céu.
Ali, limito-me a podar os galhos mortos das minhas giestas de estimação, os ramos velhos, "ladrões" que vão brotando dos troncos das árvores roubando-lhes a força, a limpar alguma manta morta excessiva, a varrer carinhosamente os musgos fazendo-os sobressair em todo o seu esplendor, a cortar a erva como quem corta um relvado, a arrancar as ervas que me infestam os caminhos e a refazê-los, ano após ano, das pedras levantadas pelos javalis, a amontoar gravetos e pinhas tão necessários para os fogos do Inverno que nos aquecem a alma ao crepitarem loucos, mas contidos, em chamas sanguíneas e fortes...
Ali limito-me a fazer longos momentos de silêncio e de contemplação de uma natureza que eu amo e respeito profundamente tentando adivinhar a continuação dos caminhos iniciados quase há trinta anos... tentando adivinhar formas e feitios... sítios de descanso, sítios de passagem...
Ali limito-me a constatar que os meus caminhos não têm fim...