Fotografia de José Emanuel Queirós
Começo pela decisão, minha e da Elisabete, duas escorpionas dos sete costados, de mobilizarmos os profes da EB 2/3 de Amarante e das outras escolas aqui do concelho.
Seguiu-se a decisão, difícil, de avançar com a reserva de uma camioneta que, viemos nós a saber, nos custaria 250 euros.
Confesso que a mobilização, em muitos casos difícil e frequentemente até impossível, dos meus pares e dos meus ímpares, pela parte que me toca, fez-se de noites e noites de facebook até às quinhentas, de grandes bocados de dias também, contacta este, contacta esta, e agora lembrei-me que se calhar talvez aquele outro, passem palavra, por favor, sim vai haver camioneta, tudo cómodo e confortável e mais económico do que irmos em tantos carros para o Porto, sim, mandámos fazer t-shirts e cartazes, tudo para aparecermos na Marcha da Educação como um grupo coeso, de luto e em luta, mas mantendo a esperança em dias melhores, por favor, se souberem de alguém, contactem-me, foi blogue, foi face, foi boca a boca, foi diacho. A ideia foi sempre que a Comunidade Educativa de Amarante se fizesse notar. E fez. O João Paulo deu as ordens de marcha, salvo seja! e, atendendo ao look combinado, abrimos a Marcha da Educação. Da DREN até à Batalha, em marcha forte e decisiva, com forte escolta policial que nos abria caminho Porto adentro, ao som da Gaivota e da Grândola, ensaiando já a afinação necessária para as 18:30.
Amarante na linha da frente, fazia-se notar. Como eu queria, mas não como eu a imaginei. Imaginei um bloco de preto compacto, imeeeenso, o nosso grito a branco nas t-shirts, o nosso "protesto gráfico" na mão, simbolizando um país de luto, que só levantaremos quando este for um país limpo e asseado, onde se possa viver com dignidade. Imaginei uma onda feita de nós, gigantesca, imparável... mas não deu. Muitos ses, muitos mas, muitos talvez, muitos nãos, ao ponto de a minha semana anterior à manif se fazer de muitas angústias, decepções, de sofrimento interior até, de muito stresse... será que vamos ficar com uma camioneta nas mãos?
Confesso que me senti uma verdadeira Pica-Miolos e até postei sobre o assunto.
Mas a dita cuja lá se foi enchendo, de comunidade educativa e de gente conhecida e de conhecidos de conhecidos e ufa! ufa! lá se arranjaram 43 almas, mais umas quantas que lá foram ter pelos seus próprios meios e que, presumo, estão agora cheias de alegria até ao tutano, plenas de satisfação pela participação num feito colectivo, único nas nossas vidas, feito de extremo civismo e dignidade. Ontem fizemos história. Ontem estivemos lá. E vimos os rostos tristes, preocupados, cerrados, tantos idosos... tantos!, tantas famílias inteiras, dos mais novos aos mais velhos... e tantas famílias partidas...
Ontem o protesto fez-se, pelo que consigo ler da manifestação onde me embrenhei, contra toda a classe política, contra este sistema que nos desgoverna, seja à direita seja à esquerda, contra a corrupção, os corruptos e os corruptores, contra uma justiça que é pouco mais que um simulacro do que deveria ser, contra o fartar vilanagem, o roubo descarado do fruto do nosso trabalho suado, contra a repartição dos prejuízos de uma banca imoral e obscena...
Ontem descemos à rua. E voltaremos a descer todas as vezes que forem necessárias até nos escutarem. Até escutarem este povo que tem voz. Até escutarem este povo que não é composto de minhocas.
Ah! E se valeu a pena a angústia, a tristeza, o stresse, a decepção! A vida também é feita deles. Mas também é feita da imensa alegria da partilha... de olhares vidrados e sorrisos cúmplices e versos revolucionários cantados a uma só voz.
Na próxima, seremos mais, por certo... na próxima, levamos duas camionetas?
Também lá estive com a família.
ResponderEliminarParabéns aos colegas de Amarante. E sim, continuaremos a ir p´ra rua as vezes que forem necessárias.
Pena tenho que muitos colegas se ponham à margem, principalmente os mais novos.Na minha escola somo 11 docentes e só duas foram à manif.
Abraço
Tive o prazer de ver a Anabela Magalhães, embora de relance, com grande pena minha, que aquilo era um mar de gente no Porto. Da minha escola, uma secundária com cento e muitos professores, só estava eu e uma colega.
ResponderEliminarComoveu-me o discurso do colega João Paulo e toda a tarde vi pessoas a limpar as lágrimas, principalmente os mais velhos. O que fizeram ao nosso país...
Olá Maria! Não te vi! Apenas vi o França, agachado a fotografar quem passava, no caso nós... eheheeh... espero! Só tive tempo de lhe abanar o cartaz enquanto cantava o Zeca...
ResponderEliminarBeijo grande! Na próxima, por certo, voltaremos a estar juntas...
Olá Paula Silva! Aquilo era um mar de gente, sim, mas a Maré da Educação foi uma ondita! O panorama que descreve da sua secundária foi comum a muitas escolas deste país. Aqui à volta a participação foi desoladora. A minha escola foi excepção e mesmo assim... rsrsrssrsr...´
ResponderEliminarEsta constatação preocupa-me deveras... por nós termos a responsabilidade de sermos educadores, de darmos exemplos... que exemplos... rssrsrsrsr...
Obrigada por deixar aqui pegadinha! Na próxima, berre por mim... e apertamos os ossos... eheheh...