sábado, 31 de agosto de 2013

Oradour-sur-Glane - A Memória de Uma Infâmia


Oradour -sur-Glane - Limousin - França
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
  
Oradour-sur-Glane - A Memória de Uma Infâmia

A história de Oradour conta-se rapidamente se omitirmos as emoções e nos cinjirmos aos factos principais ocorridos naquele desgraçado e fatídico dia de 10 de Junho de 1944... o que não sei se será possível, aviso desde já...

Oradour era uma pacata vila francesa, daquelas que ainda hoje abundam França fora salpicando o campo tratado como um jardim entre cidades, entre florestas.
Oradour dista uns vinte km da cidade de Limoges e entrou na História, nesse malfadado dia, por uma sucessão de acontecimentos infames que qualquer pessoa, minimamente bem formada, gostaria que nunca tivessem ocorrido.

Por volta das 14 horas do dia 10 de Junho de 1944, exactamente quatro dias após o Dia D e o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, as tropas nazis entraram em Oradour sem que, inicialmente, provocassem o pânico entre os habitantes locais, naquele pacato dia Primaveril, um dia que parecia ser como tantos outros que o antecederam, como tantos outros que haveriam de vir.
As tropas alemãs das SS de Hitler cercaram a povoação e foram dando ordens de concentração de toda a população, sem excepções, na praça principal. E assim concentraram velhos, homens, mulheres, crianças. Já na praça, separaram homens para um lado, mulheres e crianças para outro. Este último grupo foi fechado na Igreja local. Seis jovens, mais do que azarados, cinco rapazes e uma rapariga, entraram entretanto na povoação num passeio de bicicleta de não escaparão, também eles, com vida.
Os homens foram sendo metralhados nas garagens e hangares existentes em Oradour, os corpos de mortos e de ainda vivos, porque "apenas" feridos, foram cobertos de palha e outros materiais de combustão rápida a que os soldados atearam o fogo que devorará mortos e vivos, numa cena dantesca difícil de imaginar.
As mulheres e as crianças foram assassinadas dentro da Igreja que lhes deveria conferir a protecção divina contra a barbárie daquelas tropas... enlouquecidas?! de cruéis nazis.
Primeiro foram lançadas granadas de gás, depois foi ateado fogo à igreja e ao seu conteúdo, mulheres e crianças tentando desesperadamente escapar do horror infligido arbitrariamente sobre uma população civil que não tinha nada a ver com exércitos e que prosseguia a sua vida dentro da normalidade possível num país ocupado pelo inimigo.

Tudo foi pilhado, a tudo foi pegado fogo, a todas as habitações, ao talho, à padaria, à farmácia, às escolas, às garagens, aos cadáveres na tentativa vã de apagar as provas da infâmia, felizmente tarefa não conseguida com êxito.
Em Oradour sur Glane foram assassinadas, naquele fatídico dia 10 de Junho de 1944, 642 pessoas, entre as quais 246 crianças. Da igreja só escapou uma mulher que conseguiu fugir com ferimentos depois de se atirar para o chão exterior, de uma altura de três metros, por um vitral partido. Do massacre perpetrado em Oradour só escapou uma criança do sexo masculino, um rapaz que desobedeceu às ordens da professora de encaminhamento para a praça de Oradour.
No pós-guerra, o governo de Charles de Gaulle decidiu-se pela preservação deste importante testemunho, desta infame memória do que a espécie humana, por vezes miserável, é capaz de levar a cabo.
Não, não esquecemos a ignomínia em Oradour-sur -Glane. E em Lidice, na Checoslováquia, exactamente dois anos antes. E também não esquecemos o resto.






2 comentários:

  1. Muito bom... Gostei muito

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  2. Ainda bem que gostaste, Diogo! Este episódio triste da nossa História será abordado este ano lectivo.
    Beijocas!

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