terça-feira, 25 de março de 2014

Emigração Assustadora

Imagem Poética para Contrabalançar o Pessimismo - França
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
 
Emigração Assustadora

Estou farta de ler notícias sobre a emigração, já transformada em sangria, de jovens que todos os dias deixam o país. Mas uma coisa é ler, outra coisa é falar com amigos, casais desta minha idade, perguntar-lhes pelos filhos e tomar consciência que a minha família é agora uma raridade nacional ao manter-se junta e unida, na terra de onde somos originários, que nos viu nascer a alguns, literalmente, ainda no tempo em que se nascia em casa, eu no agora quarto onde dorme o Sr. Mário, dono da Confeitaria Mário.
Não é raro o dia em que quatro gerações descem e sobem juntas as ruas de Amarante, desde o bisavô, meu pai, ao bisneto, meu neto, passando por mim e pela minha filha, todos amarantinos de gema, mesmo os que foram nascer fora fisicamente, emprestados por breves horas ao Porto e a Vila Real mas amarantinos de alma e coração.
Aviso desde já que pretendo levar o meu neto à florestal, em passeios prolongados para lhe mostrar os pavões, os passarinhos muitos e variados, os patos, as gazelas, as açudes e a penedia no rio, a Ilha dos Amores, as azenhas, as árvores e as flores, os peixinhos no rio... tal como fiz um dia com a mãe dele, tal como muitos anos antes fizeram os meus pais levando-me ao colo ou pela mão. Aviso desde já que pretendo acompanhar o seu crescimento.
Vai daí, por estes dias tenho andado a pensar como sou sortuda... a pensar que não há dinheiro que pague esta situação familiar, especialmente quando sei que muitos dos meus amigos/conhecidos e até alguns familiares bem próximos! têm agora os seus filhos, médicos, economistas, arquitectos, farmacêuticos, gestores... bem longe de Portugal, em lugares tão distantes como Espanha, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Brasil, México, Hong-Kong, Angola, Suíça... alguns não têm nem um filho próximo de si! começando a perspectivar uma velhice que poderá ser desamparada de afectos e de carinhos caso os seus rebentos não voltem e provavelmente muitos não voltarão, saídos à força, enxotados de um país que não os quer cá, mesmo se são gente bem preparada, licenciada, mestrada e doutorada, tanto dá!, façam-se à estrada que nós agora vamos incentivar outros a fixarem-se por cá, numa doideira de política que não tem explicação.
Pagaremos muito caro esta expulsão de gente. Cortaremos laços familiares e cortaremos laços com a Nação.
Mas, lembrei-me agora, por certo sou eu que estou/ando particularmente pessimista... afinal o país está agora muito melhor... não está?

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