quinta-feira, 10 de abril de 2014

Onde Estavas no Ano Lectivo de 73/74?

Bilhete de Identidade do Aluno - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
 
Onde Estavas no Ano Lectivo de 73/74?

Eu sei bem onde estava e estava por aqui mesmo, em Amarante, na terra onde ainda hoje permaneço.
 Iniciei o ano lectivo de 74/75 com onze anos para logo de seguida fazer doze, idade que mantinha aquando do 25 de Abril de 1974. À época, em pleno Estado Novo já muito decadente, cumpria o 2º ano do Ciclo Preparatório, na maravilhosa Escola Preparatória de Teixeira de Pascoais, da qual só guardo excelentes recordações que podem ser revisitadas em post antigo datado de 12 de Agosto de 2009, publicado aqui, e que aproveito para transcrever na íntegra.
Facto curioso, passados tantos anos voltamos ao tempo dos directores...

Todas as Escolas Deviam Ser Assim

A Casa da Cultura e da Juventude de Amarante, aberta ao público não há muito tempo, funciona na minha antiga Escola onde frequentei e completei o antigo Ciclo Preparatório.
Hoje volto um pouco atrás e recordo a saída muito ansiada, no final da 4ª Classe, do Colégio de S. Gonçalo, do qual guardo péssimas recordações de um ensino ministrado por freiras ríspidas, frustradas, maldosas, violentas... que me fizeram querer sair dali e fugir a sete pés o mais depressa possível. Chegada a este ponto tenho de abrir duas excepções para as minhas amadas irmã Augusta e irmã Clara, pessoas bem formadas, equilibradas e doces que me leccionaram Trabalhos e Música, mas que não conseguiram salvar a honra daquele convento.
Mas adiante. O meu pai fez-me a vontade e deixou-me sair daquele espartilho ao qual jamais me adaptei. E foi assim que entrei no Ciclo Preparatório Teixeira de Pascoaes, no Ribeirinho, finalmente no Ensino Público.
Foi um tempo de mudança que correspondeu a escola nova em edifício muito velho, colegas novos, recreios novos, disciplinas novas, professores novos.
Hoje recordo os recreios, dois, um para as raparigas e outro para os rapazes, que o tempo era o da outra senhora e a outra senhora tinha destas coisas, e centro-me essencialmente no espaço romântico e poético do Recreio das Raparigas porque ontem percorri-o, e fotografei-o amorosa e demoradamente, integrado que está num espaço agora remodelado mas em que a traça do edifício antigo e original se manteve intocada.
Lá está o tanque, onde eu caí um dia em plena brincadeira que não teve consequências de maior a não ser uns valentes ralhetes em casa. Lá está o espaço onde tanto saltei à corda, onde tanto joguei à patela e ao elástico, em exercícios físicos permanentes que me mantinham as pernas altas e magras, exactamente como as da Olívia Palito. E, acima de tudo, lá está a magnólia frondosa que me deixava de nariz no ar aquando da floração cor-de-rosa, em pleno Inverno, anunciando já a esperada Primavera.
Foi um tempo de mudança de que recordo a sensação de crescimento acelerado, nós a sentirmo-nos umas Mulherzinhas, livro devorado a conselho da Maria Eulália, os primeiros olhares, apreciadores, para os rapazes, as primeiras paixonetas, quase colectivas, pelo M., pelo P. e pelo P., a Língua Portuguesa ensinada pela grande Maria Emília Barros, o Francês ensinado pela minha querida Francisca, por um livro de personagens ainda bem presentes na minha memória, Nicole, mr Robert e Patapouf, o cão francês que eu amava, o Desenho ensinado pela Zé Pinto, sempre em movimento constante, passeando o seu corpo esguio e os seus longos cabelos lisos pela sala de aula, a Moral ensinada pela já amplamente apresentada Maria Eulália Macedo, as Ciências e a Matemática ensinadas pela Isabel Sardoeira e as suas/nossas experiências com feijões, microscópios e afins, a História ensinada por um prof novo cá no burgo e que me chamava, sorrindo docemente, a "Menina do Sorriso".
Pois ontem foi tempo de percorrer estes espaços e lembrar a alegria de ter disciplinas tão diferentes, leccionadas por professores igualmente tão diferentes uns dos outros, que marcaram de forma indelével o meu crescimento e a minha formação, e de me sentir grata por me ter sido proporcionado este contacto com gente tão diversa e tão enriquecedora.
E foi tempo de espreitar a minha antiga sala de aula e vislumbrar um cartaz afixado na parede, escrito em letra colorida e juvenil, que dizia, apropriadamente, "Bem Vindos".
Assim me senti.

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