segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Tinariwen - Iswegh Attay


At Home - Grande Sahara - Mauritânia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Tinariwen - Iswegh Attay

Saudades deste Sul...
Saudades desta simplicidade complexa, destes gestos elegantes e carregados de significado, destes sons puros e doces, destes cheiros impregnados de deserto escaldante, destes ritmos tão diversos dos meus, desta areia quente/gelada que eu já pisei com os meus pés descalços, das gargalhadas soltadas sem barreiras, das paisagens surreais, do som/canto das dunas gigantes da Líbia durante a descida do topo do mundo, do silêncio espampanante do deserto. Escrevi mais ou menos isto, faz muito tempo, neste blogue:

Sou viajante mesmo... mesmo quando não saio daqui e viajo com a mente para sítios recônditos, duros, problemáticos, daqueles que me põem à prova e põem à prova a minha capacidade de resistência e adaptação a povos, costumes, hábitos, condições de habitabilidade radicalmente diferentes e falta de mordomias sem fim...
Retiro a energia e alimento-me dela, sugando-a até ao tutano, ao subir uma duna completamente só antes do nascer do sol, ao passar uma noite ao relento deitada sobre a areia fina e aconchegante do deserto inesgotável, ao adormecer olhando o céu incrivelmente estrelado escutando risos genuínos dançados à volta de uma solitária fogueira no Grande Sahara, ao percorrer uma pista dura, duríssima, Alto Atlas acima, seis horas para cumprir 30 quilómetros estonteantes, ao percorrer o leito inacreditavelmente pedregoso de um oued saindo dele pior que o chapéu de um pobre, ao entrar no Paiva e rema, rema Anabela Maria, rema que vais a entrar num rápido para depois teres a recompensa de uma piscina...
Dito por outras palavras e para quem ainda não percebeu, alimento-me das/nas dificuldades, das/nas contrariedades e dos/nos desafios. E sei que no final chegarei a bom porto. 
E que o bom porto até poderá ser o Ponto de Não Retorno, na Líbia. Em voo livre sobre o abismo.

Que assim seja. Hoje está um magnífico dia de sol, não está?






Nota - Garanto que sou eu na fotografia. No sítio onde o deserto morre no mar, em Nouakchott, na Mauritânia. Onde os barcos/pescadores são guerreiros intrépidos a abandonar a areia da praia/do doce Deserto e a embrenhar-se no selvagem Oceano Atlântico.

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