terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Responsabilidade Amarantina

Responsabilidade Amarantina - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Responsabilidade Amarantina

Esta é a responsabilidade que nos deve unir a todos, amarantinos, independentemente da simpatia por credos, partidos políticos, cores faciais ou emotivas, independentemente de filiações clubísticas... independentemente de seja o que for que nos possa distinguir uns dos outros, defendo que cabe a cada amarantino, que possa e queira ter voz, que possa e queira ter influência, que habite o burgo ou que esteja fora dele, que por aqui tenha nascido ou que tenha nascido muito longe deste fundo vale mas que aqui esteja agora radicado, a responsabilidade de exercer a sua influência positiva sobre as vivências de uma colectividade que é constituída pelo somatório de cada um de nós a todos os outros.
E abro aqui um parêntesis para afirmar que é evidente que não estou a falar de gente morta em vida, de gente paralisada pelo medo do passo dado em frente, de gente desistente, de gente derrotada ainda antes da partida e que nem mesmo chega a partir e a descobrir os encantos de uma caminhada que se pratica, quantas vezes! na corda bamba, isoladamente, mas com muitos assistentes à espera da queda espalhafatosa e fatal. Esse é o tipo de gente que não me interessa de todo, que na minha vida privada arrumo em três tempos para canto e que, na minha vida profissional, mato mentalmente numa estratégia de sobrevivência que se tem revelado muito certeira e eficaz porque sim, assim sou capaz de trabalhar até com gente morta.
Posto isto, eis que chego ao meu umbigo, ao meu umbigo amarantino, o Largo de S. Gonçalo e chego às artérias e veias que daí irradiam e chegam mesmo aos capilares, que são, para mim, as quelhas, as tão por mim amadas quelhas e eis que chego à responsabilidade que cada amarantino deve sentir perante o legado que lhe foi servido de bandeja, quer seja em património construído, quer seja em património material, quer seja em património imaterial e que todos nós devemos respeitar. O Mosteiro de S. Gonçalo, com os seus claustros e igreja anexa, é único e irrepetível, assim como é irrepetível a Igreja de Nosso Senhor dos Aflitos, vulgarmente conhecida por Igreja de S. Domingos, assim como é irrepetível a Ponte Velha que une as duas margens do burgo, o Museu Amadeo de Souza-Cardoso, o Museu de Arte Sacra, a Igreja de S. Pedro, a Quelha das Garridas, o Solar dos Magalhães, a casa dos Macedo...  como são irrepetíveis um Amadeo, um Teixeira de Pascoaes, uma Agustina, um Lago Cerqueira, um Acácio Lino, um Eduardo Teixeira Pinto...
Ora então qual é a nossa responsabilidade enquanto amarantinos?
Muito simples, ao mesmo tempo complicado: respeito pelo legado, valorização desse legado, mas também inovação, arrojo, criação de novas dinâmicas construtivas, de novos projectos que se consigam sustentar. E para isso Amarante precisa de todos os que consigam contribuir positivamente para a valorização de um património que é de todos os amarantinos em primeiríssimo lugar, mas também de todos os portugueses e, em última instância, de todos os terráqueos racionais que por este planeta circulam. Património esse que vai para além do que já existe, evidentemente, porque também só assim saberemos honrar o legado, excepcional, que recebemos dos nosso antepassados e do qual usufruímos todos os dias.

O Largo de S. Gonçalo, e toda a sua envolvente, é o meu umbigo. E é também o meu Norte.

Hoje foi dia de recarregar baterias. Por vezes recarrego-as assim. Apenas pelo preço de um belíssimo café curto, tomado no meu umbigo, banhado e aquecido pelo sol. Até ao tutano.

Nota - Este meu discurso está presente neste blogue, de forma ora mais explícita ora mais implícita, desde que o abri, no já longínquo ano de 2007.

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