Fazer a Mochila e Partir - EB 2/3 de Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
E Se Fosse Eu? Fazer a Mochila e Partir
Dou a palavra à Professora Rosa Maria Teixeira Pereira.
"Aceitei o
desafio, fiz a minha mochila. Por instantes coloquei-me na pele daqueles que têm
de partir sem a esperança de regressar. Imaginei essa partida na companhia da
minha filha e do meu marido, tentei ser o mais objetiva possível e levar
somente o peso que poderia carregar e de alguma forma os objetos que poderiam
ser úteis a todos.
Levo uma
manta leve e quente para à noite tapar a minha filha, um agasalho de malha
polar para as noites frias, dois impermeáveis um para mim e o outro de maior
dimensão em forma de poncho que dará para outra pessoa ou até para improvisar
uma pequena tenda. Alguma roupa interior, um chapéu, um lenço grande para tapar
o frio ou servir de toalha/lençol.
Uma pequena toalha, toalhitas e lenços de
papel para a higiene mais básica. Um estojo de primeiros socorros para o caso
de quedas e pequenos acidentes, uma bolsa com os medicamentos usados pela
família. Um creme de aloé vera para
picadas de insectos, queimaduras solares de frio. Uma garrafa de água, snacks e
bolachas energéticos e não perecíveis. Uma lata de leite condensado para
durante algum tempo ter a oportunidade de dar leite à minha filha (desde que
tenha água para o dissolver).
Ao pescoço
levo duas pequenas bolsas, uma com telemóvel e carregador na esperança de poder
manter o contacto com os que ficaram ou os que tomaram outro rumo. Na outra, que procurarei manter sempre junto
ao corpo para evitar perdas ou roubos, levo o meu CC, para a minha
identificação, a cópia do meu certificado de habilitações na esperança de alcançar
um país em paz onde possa exercer a minha profissão. Dinheiro, algum ouro que
poderei eventualmente utilizar como pagamento em situações de tensão, um terço,
as fotos dos que amo. Levo ainda um certificado do meu casamento católico e uma
foto do meu casamento e outra do baptismo da minha filha, para no futuro ela
ter pontos de referencia para continuar a história da nossa família ainda que
longe de casa e de todos, e o meu Livro Azul, o livro que me acompanha há muito
tempo e onde guardo os poemas e textos que marcaram a minha vida e onde
escrevo, como agora as minhas reflexões. Na alça da mochila prendi um anjo de
trapo que está sempre no quarto da minha filha, dentro do livro coloquei
algumas pétalas de rosas oferecidas pela minha afilhada, na tentativa de
perpetuar o meu lar e a minha família.
Não caberiam
seguramente nesta mochila os sonhos, esses foram ficando pelo caminho trucidados
por uma guerra desigual e injustificada (como todas as guerras) que me tirou de
forma brutal gratuita a minha vida.
Comigo caminhará apenas o instinto de sobrevivência."
Amei ouvir o Secretário de Estado e o Ministro na televisão a falar disto. A maneira como um falou da escola e outro falou aos alunos. Estamos numa fase boa. Nunca pensei orgulhar-me de quem nos governa.
ResponderEliminarAdorei ouvir o Secretário de Estado na televisão e o Ministro hoje a falar aos alunos sobre esta iniciativa. Nunca pensei orgulhar-me de quem nos governa. Muito bom.
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