quarta-feira, 4 de maio de 2016

Amarante - Terra de Belzebús (Porque Aqui Há Lugar para Deus e para o Diabo)

Casal de Diabos - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Amarante - Terra de Belzebús (Porque Aqui  Há Lugar para Deus e para o Diabo)

Aqui fica um apanhado da história possível do casal amarantino de mafarricos já anteriormente publicada neste blogue. Sem censuras. Porque não gosto delas. E para aproveitar esta onda "religiosa" que contagiou este blogue. E para provar aos meus leitores, muitos chegados das estranjas, que em Amarante há lugar para albergar todas as diferenças, todas as sensibilidades. Sem discriminações. Espero...

Sim, sim, por aqui passam-se coisas estranhas e amiúde até mais do que estranhas e lá diz a sabedoria popular que mais vale estar de bem com deus e com o diabo e que mais vale prevenir do que remediar.
(...)
A história deste par conta-se em duas penadas.
Não se sabe ao certo como aqui veio parar o casal de belzebus. Talvez durante a expansão portuguesa, talvez tenham vindo da Índia onde estariam ligados a algum culto de fertilidade, talvez de África, que eles têm feições africanas, certo certo é que as suas origens estão envoltas em mistério e lenda tal como convém a figuras tão peculiares e são alvo de veneração e culto por parte das gentes de Amarante e dos arredores. Hoje discreto. Discreto o culto... discreta a veneração...
Queimados os originais, depois de vestidos de frades, pelos franceses, durante as Invasões Francesas, invasões que tantos estragos provocaram na nossa urbe, alguns ainda hoje visíveis, foram refeitos algures no século XIX para grande conforto da população local e colocados na sacristia da Igreja de S. Gonçalo, ai este S. Gonçalo, sempre ele e as tropelias, sempre ele e as brejeirices, sempre ele e as diabruras!
Pela segunda metade do século XIX os diabos foram expulsos do espaço sagrado, a mando do arcebispo de Braga que mandou capar as obscenidades do macho, por certo farto da brincadeira e dos cultos a tão peculiar casal e foi-lhes dada ordem de marcha para um espaço profano, uma qualquer arrecadação da câmara municipal por onde permaneceram os ditos até acabarem vendidos a um inglês radicado no Porto, um tal de Sandeman, que os levou para Londres e daí para a Exposição Internacional de Paris, em 1889, que os mafarricos são gente instruída, aventureira, culta e viajada... não são uns mafarricos quaisquer!
Mas a população sentia saudades. Queria os mafarricos de volta. Tiveram até direito a pressão diplomática e tudo e eis que lá chegaram eles, num dia de 1910, de comboio, oferecidos à então vila, recebidos na maior das alegrias pelo povo, ele próprio mafarrico, com direito a procissão, os ditos montados num carro de bois, a banda de música e tudo, grandes festejos vila abaixo até... não até à sacristia, onde eles permaneciam impedidos de entrar, mas ao antigo espaço do convento, então ocupado por serviços variados, alguns dos quais camarários.
Desde 1947 que os diabos estão expostos no Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante.
Já lhes conheci vários poisos, todos dentro deste museu e não acredito que voltem a sair desta casa. São grandes. Assustavam-me quando era miúda, em visitas com o meu avô, ou com os meus pais.
Da última vez que os vi atentamente, exactamente quando captei esta fotografia do casal, durante uma visita de estudo com os meus alunos de 9º ano, realizada em 2008, estava eu ainda a leccionar na ESA, o macho capado, o diabo cornudo, o belzebu chifrudo tinha uma moeda discretamente poisada sobre a sua cabeça... porque devemos estar de bem com deus e com o diabo, não é assim?, diz o povo... e porque mais vale prevenir do que remediar...

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