Hoje repesco duas notícias da autoria de Clara Viana, saídas ontem no Público e intituladas Sindicato quer que professores tenham redução de número de aulas a partir dos 40 anos e Mais de metade dos professores tem horário reduzido para esclarecer que o que parece óbvio da leitura destas duas parangonas não corresponde minimamente à verdade dos factos e torna-se, por isso, necessário desmontar a falácia que estes títulos pressupõem numa leitura mais apressada e feita na diagonal, que terá talvez sido feita por parte de uma opinião pública que não sabe o que está incluído num horário de um professor, e que é - os professores são essa gente preguiçosa que já trabalha pouco e quer ainda trabalhar menos! Pois se mais de metade dos professores tem horário reduzido, por que raio reivindicam eles redução de número de aulas a partir dos 40 anos?!
Convém esclarecer desde já que aula, ou actividade lectiva, pressupõe trabalho de pelo menos um professor, até podem ser mais, com alunos. Era exactamente este o entendimento quando eu comecei a trabalhar e do meu horário lectivo faziam parte integrante as horas que eu passava em apoios aos alunos que deles necessitavam. Entretanto a política ministerial mudou... e como é que vamos obrigar o professorado a trabalhar ainda mais com os seus alunos, a leccionar ainda mais aulas... como é, como é, como é? Muito simples! Vamos dividir os horários dos professores em três partes distintas: uma que entra na componente lectiva, outra na componente estabelecimento e uma outra reservada ao trabalho que os professores executam em casa. Vamos baralhar e dar de novo et voilá!, como num passe de magia, incluímos parte de um horário lectivo não na componente lectiva de um professor mas na componente estabelecimento e pronto! Temos o dito professor a leccionar, de facto!, mais aulas para além das 22 horas semanais de um horário completo a que esse professor estava obrigado
Dou um exemplo prático e bem concreto, retirado do meu horário, deste subterfúgio existente nos horários da maioria dos professores que é para perceberem como se driblam, na prática, horas lectivas - no meu horário semanal, em vigor para este ano lectivo, foram-me atribuídos 200 minutos de aulas de apoio a 12 alunos de duas turmas de 5º ano. Eu escrevi aulas, eu escrevi alunos. As aulas de apoio pressupõem trabalho de professores com alunos No entanto estas "aulas" não são "aulas" para o ministério da Educação que as conta como trabalho não lectivo e assim são contabilizadas nos horários dos professores. Assim sendo, eu, todas as semanas, passo 200 minutos semanais em actividades lectivas efectivas, em aulas efectivas, mas que não são consideradas actividades lectivas e que não são, portanto, consideradas aulas para o ME.
Ora, a isto eu chamo ser chico-esperto. E o ME, nas pessoas que vão ocupando os cargos na Tutela, devia-nos poupar a este triste exemplo, ainda por cima dentro de um ministério que se diz ser o da Educação.
E por hoje é tudo. E isto foi só para dar um simples e singelo exemplo das manobras acrobáticas praticadas pelo ministério da Educação sobre os horários dos professores... ou esta postagem correria o risco de ficar quilométrica.
Nota - Post originalmente realizado e publicado no ComRegras.
Boa tarde,
ResponderEliminaro tipo de apoio que entra na componente não letiva do professor, são apenas os "alunos com necessidades efetivas de apoio".
Tudo o outro tipo de apoio deve ser contabilizado como componente letiva do docente. Caso tenha assinado o seu horário como o descreveu... aceitou o que lhe foi imposto sem ver o decreto lei e convenhamos que assinou o que está errado.
Pois são. Estes nossos alunos são apenas os "alunos com necessidades efetivas de apoio".
ResponderEliminarE agora pergunto eu, não estou em atividades lectivas com eles?
Actividades, claro!
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