quinta-feira, 11 de maio de 2017

Santo Sepulcro

Largo Hiper Mega Medonho - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Santo Sepulcro

Passado um ano sobre a obra horrenda e anticonstitucional, segundo a minha opinião, volto aqui, ao Largo Hiper Mega Medonho para relembrar que houve um tempo em que o poder político em Amarante não se vergou tão escandalosa e ostensivamente ao poder religioso. 
Relembro igualmente que um Estado laico é o melhor garante da liberdade religiosa consagrada como um dos direitos fundamentais do Homem e que todos os políticos que ocupam, momentaneamente, convém não esquecer!, funções nesse mesmo Estado devem ter presente este princípio consagrado na Constituição da República Portuguesa. Claro, os tempos que vivemos parecem saídos de outros tempos mais obscuros em que todas as promiscuidades entre igreja católica e Estado eram permitidas e bem-vindas porque a todos interessavam. 
Estamos já a viver uma promiscuidade crescente entre poder religioso e político ao nível do poder local e central? 
Nitidamente, sim. É só ler os sinais, descer esta minha rua, abrir um qualquer jornal, ver um qualquer noticiário. E isso é preocupante. Muito preocupante.
E vamos ao post, que tem precisamente um ano e que é da autoria de José Emanuel Queirós.
SANTO SEPULCRO
Vai a santa obra sepulcral em aproximação ao seu termo, deixando na estreiteza do largo o lastro de uma estética confessional empedernida, sem que deixem de assaltar as consciências cronistas e "escrivões" que dão a nota e o timbre ao pensamento oficial.
A partidocracia tem essa tendência mediocratizante de haver sempre quem levante as guardas e defenda as serventias, tangendo em grupo as ferradas manadas assistentes em que se estribam e legitimam hostilidades com as cabeças relutantes.
De pedras e acintos anda o mundo cheio de gente farta e compromissada, exultante das gangas e das lavagens plasmadas nos bujardados granitos do ataúde que recobre a eira em devotos formatos.
Dos anjos tocheiros do templo desaparecidos em passos silenciosos, ficam na memória os ornatos alados perdidos para a conveniência de escutados silêncios e omissões.
A moral exaltante do senso de quem o faz para quem o não tem ergue-se silenciosa no compasso defunto em que a cidade tropeça na placidez da sombra ascencionada a lugares de culto.
Mais equívoca e anacrónica não poderia ficar a renovação da praceta, nem São Pedro precisava dessa enormidade flaviense, nem o cingido lugar no casco da velha urbe carecia de tamanha carestia decorativa.

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