sábado, 9 de dezembro de 2017

Hoje - Tâmega em Amarante, Hoje

Amarante e o Tâmega - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias e Magalhães

Hoje - Tâmega em Amarante

Há uma diferença enorme entre olhar e ver e alerto os meus alunos sobre a importância do ver logo na primeira aula de apresentação. O olhar é mais pobre e redutor do que o ver sendo que o ver implica interiorização e consciencialização enquanto o olhar não implica coisa alguma. De facto, eu posso olhar para um qualquer objecto ou pessoa de olhar muito para além de vazio e não verei nadica de nada... e todos nós já experimentamos este desconforto que se torna consciente a partir do momento em que do simples olhar passamos ao complexo ver. Depois ainda temos outra componente pois cada um de nós pode ver somente o que lhe apetece sem ver tudo quanto está diante dos seus olhos.
Hoje desci ao Tâmega, encantada com Ele. Adoro dias de neblina no rio que nos possibilitam a captação de uma paisagem excepcionalmente bela. O rio é de uma beleza quase indescritível e a cidade de Amarante, no seu centro histórico, debruçada sobre ele, também.
Mas não vi só este encantamento. Tenho 56 anos e uma vista treinada. Quero ver a minha cidade e o meu rio limpo e asseado todos os dias. Mesmo por debaixo do tapete para onde alguns parecem gostar de atirar o lixo. E não desisto de o exigir.

Escrevi eu em 29 de Dezembro de 2007:

A formação do nevoeiro é um fenómeno sem segredos para os amarantinos e que todos os amarantinos tratam por tu. Presumo que todos se adaptem mais cedo ou mais tarde a este fenómeno incontornável para uma terra com rio. Presumo que muitos até gostem. De facto os dias de nevoeiro são abundantes aqui, e o nevoeiro, não raras vezes, junta-se a uma humidade e a um frio que penetram até às profundezas da nossa alma, aquietando-se por lá, confortavelmente instalados, eles, mas provocando em nós um arrepio e uma sensação de desconforto constante.
São pois muitos os dias de nevoeiro que cobrem o vale, acompanhando a linha sinuosa do Tâmega, e que eu, não raras vezes, observo encantada do meu refúgio da Barca inundado já de sol.
Os dias de nevoeiro são muito diferentes entre si. Há dias em que o nevoeiro é uma simples neblina espalhada uniformemente no ar que teima em permanecer durante todo o dia. Outros há em que o nevoeiro é denso denso e se abate sobre Amarante como uma cortina impedindo a visão a mais de uns poucos metros de distância. E há os dias a que eu chamo dias de nevoeiro farripado e em que o dito surge em farripas, aqui e ali entrecortadas por um céu limpo e azul, farripas que se vão dissipando, cedendo passagem a dias ensolarados e magníficos.
Todos são bonitos e todos têm o seu encanto porque alteram a nossa percepção do mundo, porque nos remetem para o não óbvio e o não evidente, porque nos remetem para o difuso e o fantasmagórico e nos deixam uma aura de mistério no ar.



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