sábado, 13 de outubro de 2018

O Escarro/Vómito na Igreja de S. Gonçalo

Igreja de S. Gonçalo - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

O Escarro/Vómito na Igreja de S. Gonçalo

Não sendo crente, sou, no entanto, uma acérrima defensora do respeito por um património local, nacional, mundial, que foi sendo acumulado ao longo dos milénios, dos séculos, dos anos e que nos foi legado por quem nos antecedeu nestes espaços que hoje são calcorreados por nós, mas que, não tarda nada, serão percorridos e apropriados por outros, nossos descendentes.
Neste meu gosto pelo património, de múltiplas tipologias, e não podia deixar de ser de outra forma, está incluído o património religioso que é mesmo dos primeiros que eu procuro nas minhas deambulações por terras estranhas à minha. E, dentro de um património religioso, confesso que amo sentar-me, em recolhimento quantas vezes extasiado, perante a beleza, a harmonia, o equilíbrio, a luz... independentemente do estilo do património edificado e decorado que está perante os meus olhos. Ora os edifícios/equipamentos são muito despojados, ora são um espavento de rebuscados e excessivos, ora a luz é ténue e filtrada, ora entra a rodos, em todos os casos aquecendo-me as entranhas, aquecendo-me o coração.
Volto a frisar, não sou crente... mas podia ser e se calhar sou mesmo mais crente do que muitos que mecanicamente respondem que o são. Não acredito em deus, qualquer que ele seja, nem, confesso, acreditava seu antagónico diabo... até que hoje entrei na "minha" igreja de S. Gonçalo e a vi profundamente profanada com uma pseudo "modernidade" que só pode ser obra dele, do chifrudo, do rabudo, do belzebu.
Que fique bem claro, adoro a modernidade das linhas simples, o despojamento em que a tralha nem existe, o branco luminoso e repousante... ao invés, o barroco nem sequer é a minha praia, não gosto da filosofia por detrás deste estilo, do esmagamento dos crentes pelo excesso, pelo luxo ostentatório, pelo rebuscado, mas tudo se quer contextualizado e a tralha de um branco imaculadamente gélido, que parece atirada ao acaso para o transepto da Igreja de S. Gonçalo,  não passa disso mesmo, de tralha foleira que perturba a visão de um interior globalmente barroco, que antes tinha equilíbrio, harmonia e onde se respirava uma paz acolhedora e doce. Hoje, o que fica é a aberração, a perturbação, o rompimento com o equilíbrio, a demência, a arrogância e o desrespeito por um edifício que está classificado e que é património nacional, ou seja, que é património de todos nós.
Não acreditava no diabo mas, confesso, esta intervenção, que eu só espero seja uma instalação de mau gosto muito efémera, só pode ser obra dele.
Saí. A Igreja de S. Gonçalo está, para mim, altamente perturbadora. Não crente, interrogo-me... os crentes conseguirão ali rezar?

5 comentários:

  1. De facto nao é aquilo que estamos a espera quando entramos nessa imponente igreja. Mas tendo a senhora estudos superiores, não seria imperioso da sua parte, antes de emitir um tamanho comentário maléfico, aferir junto de quem de direito o que se estaria a passar? Bastou-me estar 1 hora dentro da "minha" igreja para tudo o que está lá colocado me ser explicado ao detalhe. É provisório, tal como o material usado. Mas quem leu este post revolta-se, tal como eu que agora tenho a explicação para as fotos que produziu. Cumprimentos

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    1. Anabela, só te falta a vassoura. Maléfica já és...pena que tenhas os olhinhos abertos e boca para falar....

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  2. O ser provisório não altera em nada a falta de qualidade/dignidade do que lá está. E o que está lá, está mal. Porque agride, rompe, dilacera toda uma harmonia que se finou. Mesmo que provisoriamente... enquanto por lá estiver.

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  3. Eh eh eh... vassouras tenho aqui em casa várias e isto bem precisava de uma vassourada valente que atirasse os trambolhos ao rio.
    Quanto aos olhos, mantenho-os bem abertos, a boca também ainda abre e os neurónios ainda não estão completamente fatigados.
    Beijo enorme, Paula!

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  4. Olá Anabela! É o minimalismo misturado com o barroco. Ali não tem razão de ser. Pelos vistos é provisório. Infelizmente há tantas coisas provisorias. Estou-me a lembrar dos contentores no hospital S.Joao. A Anabela passe por lá para ver se os ditos cujos ainda lá estão.Um abraço. Maria Isabel Quental.

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