Uma Ideia para Amarante - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
QUALIFICAR O ESPAÇO PÚBLICO DE UMA CIDADE NÃO SIGNIFICA DESTRUIR O SEU PATRIMÓNIO… a propósito da proposta de Eduardo Souto de Moura para Amarante.
Minha cara amiga e colega Anabela Magalhães,
O projecto de Eduardo Souto Moura para o centro da cidade de Amarante coloca-nos algumas dúvidas e levanta muitas contradições. A primeira dúvida relaciona-se com a natureza e a função deste tipo de projectos. Esta proposta insere-se na figura de modelo de reabilitação de zonas degradadas e sem infra-estruturação pública. Zonas que se encontram degradadas arquitectonicamente e desvalorizadas social e economicamente. O sitio da intervenção de Eduardo Souto Moura não obedece a essa classificação, nem se encontra desinfraestruturado. Aliás, é um dos lugares da cidade com mais consolidação urbana e arquitectónica. Uma das zonas mais consolidadas e com mais estabilidade histórica e morfológica.
Deste modo qualquer reciclagem urbana nunca pode fazer deste belo e monumental sitio da cidade uma tábua rasa, como se o arquitecto fosse uma espécie de mão de deus a intervir num sitio aex novo. Estamos num dos locais mais espectaculares da cidade de Amarante, porque aqui se conjugam a paisagem, o rio, a arquitectura, o tempo e a vontade dos amarantinos que durante séculos fabricaram um palimpsesto de grande complexidade paisagística.
Nesta proposta de intervenção o arquitecto Souto Moura não valoriza o sítio como património, nem dá sentido de monumento ao território da identidade e da diferença que aí foi construído durante tanto tempo. A intervenção vem simplificar, vem destruir património, vem limpar memórias, higienizar o espaço urbano para devolver ao mosteiro a sua dimensão de objecto-arquitectónico bem ao gosto dos antigos monumentos nacionais. O que não deixa de ser paradoxal e anacrónico.
Este projecto cria um novo espaço, uma nova identidade, uma nova morfologia. Consequentemente, com esta nova proposta, e não está em causa a qualidade do seu desenho, o arquitecto uniformiza, banaliza e torna o lugar num não-lugar. Um não-lugar arquitectónico, porque repete a imagem e a cenografia de outros novos lugares de matriz e concepção moderna tout court.
A destruição do lugar em benefício de outras cotas, de outros patamares, de outras ideologias de plano urbano, não contribuem para acrescentar mais-valias arquitectónicas à zona antiga de Amarante, a não ser a marca internacional de Souto Moura super star. Mas, o centro histórico de Amarante é muito mais que a simples marca de um arquitecto, por muito qualificado que ele o seja. Nesta proposta de Eduardo Souto Moura falta sentido de limite, falta sentido de escala e de proporção na medida que na sua proposta tudo de destrói e tudo se cria de novo.
Em suma, estamos perante uma proposta que destrói património, arrasa as marcas antropológicas e paisagísticas do lugar, desfigura a cenografia monumental da cidade baixa, introduz uma espécie de neurose contemporânea, que só conduz a uma prática política de perda, de simplificação e repetição de não-lugares. Portanto, construir novo não significa nem pode implicar a eliminação das cidades antigas. Se assim for, estaremos a construir cidades vazias, sem referencia e sem identidade.
Deste modo qualquer reciclagem urbana nunca pode fazer deste belo e monumental sitio da cidade uma tábua rasa, como se o arquitecto fosse uma espécie de mão de deus a intervir num sitio aex novo. Estamos num dos locais mais espectaculares da cidade de Amarante, porque aqui se conjugam a paisagem, o rio, a arquitectura, o tempo e a vontade dos amarantinos que durante séculos fabricaram um palimpsesto de grande complexidade paisagística.
Nesta proposta de intervenção o arquitecto Souto Moura não valoriza o sítio como património, nem dá sentido de monumento ao território da identidade e da diferença que aí foi construído durante tanto tempo. A intervenção vem simplificar, vem destruir património, vem limpar memórias, higienizar o espaço urbano para devolver ao mosteiro a sua dimensão de objecto-arquitectónico bem ao gosto dos antigos monumentos nacionais. O que não deixa de ser paradoxal e anacrónico.
Este projecto cria um novo espaço, uma nova identidade, uma nova morfologia. Consequentemente, com esta nova proposta, e não está em causa a qualidade do seu desenho, o arquitecto uniformiza, banaliza e torna o lugar num não-lugar. Um não-lugar arquitectónico, porque repete a imagem e a cenografia de outros novos lugares de matriz e concepção moderna tout court.
A destruição do lugar em benefício de outras cotas, de outros patamares, de outras ideologias de plano urbano, não contribuem para acrescentar mais-valias arquitectónicas à zona antiga de Amarante, a não ser a marca internacional de Souto Moura super star. Mas, o centro histórico de Amarante é muito mais que a simples marca de um arquitecto, por muito qualificado que ele o seja. Nesta proposta de Eduardo Souto Moura falta sentido de limite, falta sentido de escala e de proporção na medida que na sua proposta tudo de destrói e tudo se cria de novo.
Em suma, estamos perante uma proposta que destrói património, arrasa as marcas antropológicas e paisagísticas do lugar, desfigura a cenografia monumental da cidade baixa, introduz uma espécie de neurose contemporânea, que só conduz a uma prática política de perda, de simplificação e repetição de não-lugares. Portanto, construir novo não significa nem pode implicar a eliminação das cidades antigas. Se assim for, estaremos a construir cidades vazias, sem referencia e sem identidade.
Que peregrina ideia... E não existem outras prioridades?
ResponderEliminarIdeia peregrina assenta como uma luva a este pesadelo que nos foi apresentado como coisa de génio!
ResponderEliminar(Parte 1) Por um estudante de arquitectura:
ResponderEliminarDepois de ter visto a apresentação feita pelo Arq. Souto de Moura, tenho a dizer que não podia deixar de concordar com todas as intervenções arquitectónicas que o mesmo se propôs a executar para a zona do mercado.
No entanto, depois de ler este texto e outro no blogue escrito pela senhora, tive, entre outros pensamentos, um que na minha cabeça era para mim muito claro: não pude deixar de pensar que o Exmº Sr. Eduardo Souto de Moura é arquitecto, estudou arquitectura e é profissonalmente apto para estudar e intervir em qualquer tipo de espaço, e a senhora, segundo consigo apurar pela informação disponiniblizada no blogue, não é arquitecta, não têm essa formação, pelo que, senti uma enorme vontade de rebater alguns argumentos mal fundamentados e por si falaciosamente apresentados (e explicarei, ou procurarei explicar o porque de os assim considerar).
Ora, primeiramente e para deixar assente a questão abordada no parágrafo anterior, vou aqui tentar fazer uma analogia: quando se sente mal e precisa de tomar um medicamento específico (entenda-se: quando a cidade têm um problema e precisa de uma intervenção específica), a senhora certamente recorre a quem é apto e sabe a melhor forma de a ajudar, para lhe prescrever o medicamento que precisa ou que a ajudará a ficar melhor (entenda-se, a senhora vai recorrer a um arquitecto que sabe do seu ofício (e aqui toma-se este facto como garantido, não fosse, por coincidência, o arquitecto convocado um excelente profissional, só quem não percebe mesmo nada do assunto é que dirá o contrário)) e que procurará, atender aos problemas existentes e desenvolver um projecto que retome a ordem do espaço.
Ou seja, quem melhor que um excelente arquitecto para dar uma excelente solução aos problemas, pelo arqº Souto de Moura brilhantemente notados, na sua cuidada análisee e estudo do espaço em questão e à história do mesmo.
Elimine-se seguidamente a ideia a engraçada ideia de que um arquitecto não é um Deus que desenhou o espaço. É verdade, porque Deus (?) não enviou ninguém para lado algum, e como tal, nem o arquitecto foi enviado por alguém para desenhar o espaço, nem (retomando a analogia anterior) o médico que a vai curar foi também enviado por alguma suposta criatura divina. Assim, podemos concordar que são apenas ambos profissionais designados para cumprir cada qual a sua função. Como tal, o Arqº Eduardo Souto de Moura têm toda a legitimidade para intervir naquele local.
Desvirtue-se também a ideia de "arquitecto estrela" ou, "grande marca de arquitecto": qualquer excelente arquitecto que se preze recusa estes termos e sabe, e a população podia aprender com eles, que estes mesmos termos são cunhados pelos meios de comunicação, que por não saberem designar correctamente os senhores arquitectos por aquilo que eles são - bons profissionais - partem para designações absurdas, que tendem a criar uma atmosfera de luxo à volta de todo o trabalho por eles desenvolvido. Desenganem-se, pois! Estes humildes e bons arquitectos não exigem mais dinheiro por serem eles próprios do que um outro qualquer arquitecto mediano(Já por muitas vezes o arqª Eduardo Souto de Moura afirma praticar os mesmos preços que os seus colegas de profissão), cuja proposta teria uma maior probabilidade de ser mais onerosa para os orgãos financeiros responsáveis. Isto porque ser bom arquitecto tem que se lhe diga, não chega desenhar coisas lindas, é preciso também ter um sentido apurado de economia e gestão de fundos e materiais. A ideia é claramente expressa pelo arquitecto: Com o mínimo de intervenções possíveis para responder aos problemas da cidade, resolvem-se os problemas do espaço, em parte reutilizando materiais, e construindo novo e somente o necessário usando materiais baratos, como o mesmo afirma.
(Parte 2) Por um estudante de arquitectura:
ResponderEliminarPor isso, não entendo o seu desagrado perante o valor monetário da intervenção e a sua relação com o arquitecto escolhido para a executar. Ao invés, congratule-se, porque um outro qualquer arquitecto não tão bom profissional como o encarregado, apresentar-vos-ia uma fatura bem mais dispendiosa, se necessário. Provavelmente, não obteria uma intervenção mais barata e melhor resolvida.
Assim, não consigo compreender o desagrado da população quando se contrata um dos melhores profissionais da área para resolver os vossos evidentes e claros problemas, como se pode ver nas imagens apresentadas no início da apresentação feita pelo arquitecto. Parecem-me contraditórias e estranhas as reclamações feitas por causa da contratação de um óptimo profissional, (sob as fundamentações, incorrectas como já foi estabelecido no parágrafo anterior, de que por ser um arquitecto muito bem conhecido, irá ser uma obra mais cara, irá exigir mais dinheiro), ao mesmo tempo que mostram preocupações com as despesas da intervenção, querendo gastar o menos possível. Mas então vós quereis ou não resolver os vossos problemas? Ou gostaríeis que fossem feitos de graça? Porque não sugerem ao arquitecto que o faça por simpatia e bondade e que não apresente fatura? Estou certo que ele, com o maior trato e cuidado possível, vos mandaria dar uma volta e iria trabalhar naquilo que o pode sustentar.
No que diz respeito ao projecto em si, não pude deixar de reparar que a senhora se contradiz várias vezes na defesa dos seus pontos de vista e opiniões sobre o projecto. Gostaria também de clarificar algumas ideias que me parecem estar erradas por si apresentadas.
Como tal, vou começar por referir que concordo com a senhora quando diz que os tempos mudam e as necessidades também. Até aqui de acordo. Vamos agora estabelecer quais são as necessidades: elas são:
alargamento do espaço existente para albergar as feiras, reajustando as dimensões excessivamente grandes da alameda (plataforma superior), e excessivamente pequenas, na zona à cota mais baixa, da feira;
requalificar a zona ribeirinha, dando o espaço público aos peões, e retirando parte do tráfico automóvel da zona que se pretende para dar ao tal espaço público.
Estes problemas são brilhantemente abordados e resolvidos pela proposta do arquitecto, que reduz a dimensão da alameda, permitindo ainda assim usar aquele espaço como estacionamento, recuando o muro de suporte de terras que dá forma à alameda.
é falsa a ideia de que se vão derrubar árvores: elas irão ser mudadas de sítio, não irão ser mortas, irão ser recolocadas na própria alameda e na plataforma à cota mais baixa.
O facto de dizer que estes espaços vão ficar " a torrar ao sol" de verão denota que compreendeu mal o projecto, porque não é verdade, vão existir lá na mesma as árvores, e tal afirmação da sua parte denota que está a tomar como garantidas muitas suposições incorrectas da sua parte, partindo para defesa dos seus argumentos com base em ideias erradas de base, pelo que demonstra que grande parte das suas afirmações serão, à partida erradas.
A intervenção foi pensada para promover a ligação do mercado, um pouco abandonado espacialmente, com o resto da cidade, nomeadamente a igreja próxima, e a ponte que liga ao resto da cidade. Pergunto-me aqui onde é que se verifica a "monumentalização à estado novo" que se faz dos monumentos (desculpai-me a redundância), quando se promove e tenta reforçar, ao invés da hierarquização implícita ao gesto de monumentalizar,a humilde ligação entre o mercado e o edifício da igreja.
(Parte 3 e final) por um estudante de arquitectura.
ResponderEliminarO projecto apresentado não podia resolver de melhor forma os problemas existentes, não podendo de todo ser chamada de escalabrosa nem bruta, quando, nas maquetes e renders disponibilizados, a intervenção pode ser ser claramente entendida. (Assim como é visível a existência de árvores; óbvio que nem todo o espaço está preenchido com árvores, mas isso já corresponde à situação existente; além, disso, se estiver a "torrar ao sol", desloque-se para a sombra existente, que é mais que suficiente).
De notar também a intervenção feita pela senhora quando critica a "falta de sentido de limite, de escala e de proporção" da proposta do arqº Souto de Moura. Não pude deixar de rir perante tais afirmações, quando muito obviamente essas faltas de escala, de limite e de proporção são claramente o que se pode observar na situação existente. Mais uma vez questiono a validade deste tipo de afirmações quando são feitas por alguém sem formação na área. Pergunto-me se iria contradizer um médico quando lhe prescreve um medicamento que a ajuda a ficar melhor de saúde.
Penso ter rebatido todos os pontos que me causaram especial confusão nesta análise ao projecto.
Ponto um - Este texto não é meu. Se o reler, verá que é de um professor, no caso, de Antropologia do Espaço, e sim, exactamente de arquitectura.
ResponderEliminarPonto dois - Não sendo meu, quero desde já assegurar-lhe que o subscrevo por inteiro.
Ponto três - Era só o que mais faltava que eu não pudesse opinar sobre o espaço em que me movo só porque não sou arquitecta.
Ponto quatro - Este ante projecto nasce de um mau cliente, neste caso representado pelo presidente da câmara de Amarante que, querendo fechar a obra do arquitecto Januário Godinho, pediu isso mesmo ao arquitecto Souto Moura. Ai não posso fazer isso?! Ó diacho... então vamos aumentar o mercado!!! Que é, como se vê, tudo muito parecido, certo?
Ponto cinco - O senhor arquitecto Souto Moura é um excelentíssimo arquitecto que merecia, no caso Amarantino, um cliente à sua altura. Dizia-me o meu arquitecto, já falecido, com quem eu tinha longuíssimas conversas sobre arquitectura, e cito "Para haver boa arquitectura tem de haver um bom cliente e um bom arquitecto!" Não é o caso. Só temos um bom, excelente, aliás!, arquitecto que correspondeu a um pedido de uma pessoa em concreto e não de uma cidade. De facto, e para quem conhece a topografia do local, para onde ia ele aumentar o mercado se de um lado tem o rio, do outro tem uma ponte, do outro uma estrada... e por último, tem um muro de suporte a uma ampla praça, que, de resto, já o foi?!
Ponto seis - Um excelente arquitecto não será nunca uma vaca sagrada, sem qualquer desprimor, claro está! Toda a gente erra... até os excelentes arquitectos! Do meu ponto de vista Souto Moura erra ao aceitar esta incumbência mal amanhada ou amanhada em cima do joelho porque, lá está, a brincadeira é paga com dinheiros públicos.
Ponto sete - Acho deselegante, para além do mais, este desrespeito pela obra de um arquitecto, ainda para mais já falecido, mas que, se estivesse vivo, não iria certamente gostar que lhe mexessem na escala do edifício. Por este andar, um dia destes, e por absurda hipótese, veremos o presidente da câmara a pedir a um excelentíssimo pintor!!! para acrescentar de alto a baixo 20 cm à largura do quadro "A ascenção do quadrado verde e a mulher do violino" de Amadeo de Sousa-Cardoso!!!
Ponto oito - Quem lhe disse que a cidade quer ou precisa desta obra?!
Ponto nove - Em Amarante torra-se de Verão. Para além de termos um problema com o radão libertado pelo granito, temos também intervenções em praças e ruas que atapetaram Amarante de granito, acrescentando ainda mais granito, aumentando a temperatura que por aqui se faz sentir. Apareça por cá. Venha com uma sertã e azeite e estrele um ovo, em plena praça de S. Pedro ou de S. Gonçalo, de forma muito saudável e sem gastar mais energia para além da solar
Ponto dez - O próprio arquitecto deixou outra sugestão "Ou façam como em Verona", disse ele, e assumam o mercado na alameda, na praça... e eu até acrescentaria, ou fazemos como fazem em Bruges, património mundial da humanidade que tem o seu mercado na mais antiga praça desta antiquíssima, e belíssima!, cidade belga. So what?! Ou como por essa Europa fora... tantos mercados de rua se fazem!!! sem complexos, sem vergonhas.
Ponto onze - Volto a repetir - o seu texto enferma de uma má compreensão do mesmo pois não é da minha autoria. Muito embora eu o subscreva.
Ponto doze - Ontem esqueci-me deste ponto - É evidente que se eu quiser um projecto de arquitectura procuro um arquitecto. O que é radicalmente diferente de eu não poder opinar sobre o espaço que me rodeia e sobre as hipotéticas intervenções mal ou bem amanhadas sobre uma cidade que também é minha enquanto por esta terra andar.
ResponderEliminarPonto treze - Sejamos claros - estou farta de radicalismos. Foi o próprio arquitecto Souto Moura que admitiu que um projecto dele foi travado, e bem, reconheceu o próprio!!!, pela força popular de... acho que foi mesmo de peixeiras, sem qualquer desprimor para esta tão importante profissão, que, na sua óptica, deveriam ter engolido, caladinhas, já que de arquitectura sabem zero!, o projecto de uma estrela ofuscante da arquitectura.
Ponto catorze - Tenha um excelente dia e desejo de abertura a outras perspectivas e a outros contributos, mesmo se vindos de fora da sua área de estudo, o que não foi, notoriamente, o caso. É claro que pode continuar com as opiniões que entender! Eu pessoalmente não aspiro ao seu silenciamento.
O que está em causa é a ideia da regeneração urbana tendo como principios de planeamento do espaço urbano a racionalidade moderna dos programas burocráticos e técnicos, que querem afirmar a cidade do plano contra a cidade percebida e a cidade vivida dos homens que habitam a Cidade de Amarante.
ResponderEliminarProjectos muito marcados pela mão de especialistas que a todo o custo nos querem impor uma codificação e uma conceptualização radical para sitios de grande complexidade espacial e social.
A afirmação de um novo objecto arquitectónico sem a devida participação e discussão por parte daqueles que vivem e usam o espaço de forma transversal e heterotopica.
Resumindo, estamos perante a afirmação política de um mandato que na subtil forma de regenerar a cidade faz uso de uma marca arquitectónica do star system internacional da arquitectura para negar a possibilidade de discussão e de participação. Desculpem lá, mas o projecto é do Souto de Moura. Quem se atreve a contestar tal divindade!
Pretender planear a cidade do casco antigo de Amarante a partir de um projecto que fragmenta espaços, que classifica espaços, que zonifica espaços, mas não é do que deixar o capitalismo da reabilitação a comandar as decisões sobre a vida na cidade.
Um projecto e um plano tecnocrático e burocrático que nega a realização da vida urbana como uma construção colectiva. Porque a cidade de Amarante é sem duvida o resultado de um conjunto de construções e de decisões colectivas e vividas que em nada se ligam a esta ideia de projecto e plano pensado de forma racional e redutora. Este tipo de intervenções arquitectónicas colocam um fim à concepção de cidade como construção social e cultural.
No fundo, o arquitecto Souto de Moura é tão instrumentalizado como o está a ser o povo de Amarante por este poder político que sendo provinciano é dotado de alguma esperteza saloia.