quarta-feira, 6 de março de 2019

Sobre as Lutas que São Minhas


Sobre as Lutas que São Minhas

Assumo as minhas lutas com unhas e dentes. Sejam elas locais, nacionais, pessoais... enfim, o que quer que sejam. Procuro, acima de tudo, que a minha conduta esteja de acordo com as palavras que vou proferindo, sejam elas orais ou estejam elas passadas a escrito... que para mim têm exactamente o mesmo valor. Tenho para mim que quem diz uma coisa e faz outra diferente, até oposta, é uma completa fraude... ou uma fraude completa e procuro seguir o lema de que a bota tem de condizer com a perdigota.
Assim, se eu defendo o ambiente e a não construção da barragem de Fridão é ver-me pela escola a apagar luzes a eito acessas talvez para as moscas, danada porque com a noção completa que quem paga aquela factura sou eu, és tu, somos nós e que essas facturas, completamente desperdiçadas, somadas, servem de desculpa a quem defende a sua construção. É um pequeníssimo gesto, eu sei, mas que está de acordo com o que penso e procuro praticar. O mesmo procuro fazer sempre que saio de casa apoiada nos meus dois pés e percorro esta cidade para cima e para baixo sem gastar um único cêntimo em gasóleo ou gasolina e é a mesma defesa do ambiente que me leva a cortar o mato na Aboboreira e a empilhá-lo em montinhos engraçados... aguardando pacientemente que eles se transformem em matéria que se integrará na terra fértil dos campos e a mesma preocupação está subjacente nas plantas que escolho para o meu jardim da serra, coitado, que aguenta temperaturas extremas de Inverno e de Verão, estoicamente, sem água... mesmo sem o atafulhar de casca de pinheiro. E é esta mesma preocupação ambiental que me faz guardar um papelito que seja de lixo num qualquer bolso para o colocar no primeiro contentor que me aparecer pela frente a ele reservado e me faz cortar os tubos e as embalagens diversas para aproveitar o conteúdo que ainda se acumula no seu interior, por vezes durante mais de uma semana e me faz separar religiosamente os lixos segundo as categorias estipuladas.
São pequeninos gestos, eu sei, mas feitos por quem tem a noção que os está a fazer bem e que está no bom caminho.

Se eu defendo o Centro Histórico de Amarante, centro onde nasci e onde sou moradora, foi ver-me a colaborar na sua recuperação, fazendo a minha parte e é ver-me amiúde a colaborar na sua conservação, frequentemente de vassoura na mão a fazer o que não é suposto eu ter de fazer e que é a limpeza da minha rua de fio a  pavio, frequentemente de ancinho na mão dando cabo das ervas daninhas e altas que se erguem por aqui, danada pelos impostos que pago para não usufruir de um espaço público imaculado como este deveria ser na minha cidade ideal. E é ver-me a colaborar de alma e coração na Festa Amarantina que, desde a primeira hora, tem como grande preocupação chamar a atenção para o abandono a que está sujeito ainda o casco mais velho da cidade e que é, simultânea e paradoxalmente, o que atrai os visitantes que se passeiam aqui pelo burgo... danada por ver os anos passar sem que o poder autárquico se debruce a sério sobre este património único e irrepetível... ou então... pensando bem, se calhar até será melhor deixar assim e esperar que, lentamente, os particulares lá vão acudindo, na medida das suas possibilidades, a este legado sem preço. E foi esta mesma linha de pensamento e de acção que  me fez andar a recolher assinaturas para arrumar com os monos albinos de uma igreja, a de S. Gonçalo... que também é minha porque é de nós todos!, mesmo se escutei várias vezes "Mas para que te metes nisto?!"... pois porque sim, porque só assim fico de bem com a minha consciência. Pelo menos nunca deixarei de tentar!

Igualmente se eu defendo a minha profissão e estou do lado dos que considero injustiçados, procuro não me ficar pelas palavras e actuar de acordo com o que penso. Assim, andei de petição na mão pelos amarelos lutadores que se opunham ao fim de EVT, mesmo se eu sou de História, fui à Assembleia da República lutar contra a indigna PACC, mesmo se não sou contratada... e fui expulsa das galerias do povo, medalha de lutadora que guardarei para sempre!, e, ultimamente, divulguei pela minha escola e neste blogue e fóruns de professores a petição lançada pela Plataforma dos Professores Lesados nos Descontos da SS, mesmo se não sou contratada, volto a frisar... mesmo se estou vinculada na escola que sempre quis para mim. Mas, o facto de estar vinculada não faz de mim desmiolada, alheada ou sequer esquecida. Eu vinculei quase aos 40 anos, até aí sem eira nem beira... para continuar quase até aos 50 sem eira em eira porque apenas com vínculo a um CAE. E tenho bem a noção, sem a sentir na pele, de como é difícil hoje ser professor contratado, explorado até ao tutano por um ministério que se diz da Educação.
Foi igualmente esta defesa dos professores injustiçados que me fez entrar numa aventura chamada ILC. Correspondi como consegui e pude ao desafio lançado pelo Professor Alexandre Henriques, muito impulsionado pelo Professor Luís Braga, muito bem acompanhados diga-se de passagem por todos os professores e professoras que mais ou menos colaboraram para fazer desta ILC uma realidade. Estou orgulhosa dela e da companhia. Voltava a meter pés ao caminho... independentemente do seu resultado final.

Tenho a noção que mesmo quem assim actua sujeita-se também às críticas, o mais das vezes apressadas, daquelas que se disparam muitas vezes mesmo sem se saber quem está do lado de lá. Ou de cá, no caso.
E foi o caso. Alguém se sentiu incomodado com o meu post "Os Sindicalistas Experientes Toureados" e mandou-me fazer melhor do que fizeram este tempo todo os sindicalistas da plataforma de sindicatos de professores. E eu, que não sou um sindicato de professores, respondi textualmente:

Já fiz melhor: participei na feitura de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos que não deixa nem um professor para trás, ajudei a recolher mais de 20 mil assinaturas, fui ao parlamento à Comissão de Educação e Ciência às minhas custas, aguentei o boicote da FENPROF e do PCP a esta iniciativa... para ver agora o MN a pedir a ajuda, patética, desta mesma Assembleia da República para fazer legislação que acabe com este imbróglio. Ridículo!

E agora acrescento... também nem era difícil fazer melhor... certo?

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