quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A Educação, do Século XXI, em Retrocesso


A Educação, do Século XXI, em Retrocesso

Estou convicta que uma das principais razões da melhoria contínua dos resultados dos alunos portugueses se deve à formação adequada e específica, e a cada ano melhorada, dos professores que lhes leccionam as diferentes disciplinas.
Recordo tempos de escola, enquanto aluna, logo após o 25 de Abril, com disciplinas entregues, parecia, ao primeiro cão ou gato que passava às portas de uma escola... por exemplo Matemática, frequentemente entregue a engenheiros que não queriam saber das aprendizagens dos seus alunos para nada, e para quem o ensino era um biscate já que exerciam outras profissões liberais na praça, por exemplo professores de Inglês com habilitação suficiente que, na primeira aula, nos pediam desculpas porque costumavam ficar a leccionar Francês, que lá iam dominando... mas, enfim!, o ministério tinha-lhes trocado as voltas, professores que se encontravam a frequentar a licenciatura em História e que nos davam Geografia ou ainda Ginástica, professores que nos davam aulas e que pouco mais velhos eram do que nós e que começaram a leccionar apenas com o antigo 7.º ano do liceu, actual 11.º ano... tal era o desespero e a falta de professores pelo menos licenciados nas respectivas áreas de leccionação.
Muito caminho percorremos desde então e este percurso amalucado e permitido pelo ME foi-se afinando e nos anos 90 do século passado já era raro contactarmos, sei lá, por exemplo com um professor de História e leccionar Geografia.
Hoje, quase a entrar na segunda década do século XXI, com um ministério da educação que se comporta como um trambolho, que parece talhado para nos roubar, vilipendiar, afligir, angustiar, trapacear, complicar, negligenciar, maltratar e eu sei lá mais o quê, e enquanto enche a boca com a Escola do Século XXI, os Professores do século XXI e mais não sei o quê, tudo muito fofinho e giro, hoje, este mesmo ministério vem-me dizer que eu, Professora de História desde sempre, só porque fiz um dia uma formação em TIC posso leccionar esta disciplina.
Sabeis o que vos digo? Ora porra!
E tudo isto porque esta gente que nos tutela é de uma incompetência à prova de bala e não soube/quis acautelar o que estava mais do que previsto e que é a falta de professores.
Para isto eu só encontro uma palavra - RETROCESSO!
E deixo, pela milésima vez neste blogue, um aviso à tutela - Não acautelem coisa alguma, sim?
Nos próximos dez anos não se reformarão mais de 50% dos professores deste país nem nada!

Nota 1 - No reino da Educação vale tudo desde o tempo daquela ministra que eu não nomeio neste blogue. Imaginem isto na Saúde - Um dermatologista fez formação de 25 horas em cardiologia. Isso faz dele um cardiologista?
Nota 2 - Muitas vezes pergunto-me o que é que eu ando a fazer aqui se nem o ME se dá ao respeito...

2 comentários:

  1. Copiei este meu comentário que escrevi noutro local. Não quero de modo nenhum menosprezar o que escreveu, mas esta decisão do ME nada tem a ver com as décadas de 80 e 90. Está muita coisa mal,mas acho exageradas algumas reações que leio por aí.
    Desculpe se lhe tomei demasiado espaço. :)
    Um feliz 2020.


    O meu comentário:

    Os cursos de línguas e literaturas modernas assentam em duas línguas:
    Português-Inglês
    Português-Alemão
    Português-Espanhol
    Português-Francês
    /.../
    Inglês-Alemão
    Inglês-Francês
    Inglês-Espanhol
    Inglês-Português

    Ou seja, qualquer professor, neste caso e julgo que será o que está na base da decisão do ME, está apto a lecionar Português ou Inglês, consoante o "seu par" de línguas e respetivas literaturas.
    A exigência será ter um estágio pedagógico. Lógico.
    Os professores têm todos a mesma formação científica. Pessoalmente, no final na década de 80, optei por fazer estágio pedagógico para lecionar Português, grupo mais carenciado, e algumas colegas de curso optaram pelo inglês. Elas estudaram os conteúdos de Português, tal como eu estudei os de Inglês. Exemplifico com cursos das Universidades, porque desconheço sobre os das Escolas Superiores.

    Sendo assim, e não querendo fazer de advogada do diabo, considero manifestamente exagerada a reação das pessoas.
    Claro que a ignorância dos jornalistas é notória que, ao invés de informar, optam por induzir as pessoas em erro.
    O resultado aí está.

    Célia Abreu

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  2. Célia Abreu, nada do que escreve belisca o que escrevi. São casos diferentes. O que eu temo é que a porta se tenha escancarado. Hoje com TIC, amanhã com? Então pelo facto de eu ter feito uma formação ao longo da minha vida profissional no âmbito das TIC faz de mim uma professora habilitada para leccionar essa disciplina?!
    Um feliz 2020... apesar deste amalucado ME!

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