Praça Djemaa el Fna - Marrakech - Marrocos
quinta-feira, 31 de maio de 2007
Praça Djmaa el Fna
Praça Djemaa el Fna - Marrakech - Marrocos
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Almada Negreiros e o Manifesto da Exposição de Amadeo de Souza-Cardoso
Tive contacto com este manifesto de Almada Negreiros aquando da realização do 1º Curso Livre de História da Arte, realizado na Biblioteca Municipal de Amarante e bem orientado pelo Professor Doutor António Cardoso.
Só posso dizer que este manifesto é, certamente, um dos textos mais escorreitos e belos escrito em português. E premonitório. Ainda por cima, a propósito do meu ilustre conterrâneo Amadeo de Souza-Cardoso.
Mas as pessoas não sabem escutar com ouvidos de ouvir, não sabem ver com olhos de ver, estão sempre muito ocupadas com outros afazeres, distraídas na tralha que nos rodeia, e que não é o que realmente importa. Daí advém a frustração de um país inteiro que, arre, não aprende!
Ah, como eu gosto de gente que não se refugia nos enredos do português e que chama os bois pelos nomes!
Passo a citar:
"Em Portugal existe uma única opinião sobre Arte e abrange uma tão colossal maioria que receio que ela impere por esmagamento. Essa opinião é a do Ex.mo Sr. Dr. José de Figueiredo (gago do governo).
Não é porque este senhor tenha opinião nem que este senhor seja da igualha do resto de Portugal mas o resto de Portugal e este senhor em matéria de opinião são da mesma igualha. Um dia um senhor grisalho disse-me em meia hora os seus conhecimentos sobre Arte. Quando acabou a meia hora descobri que os conhecimentos do senhor grisalho sobre Arte eram os mesmos que o Ex.mo Sr. Dr. José de Figueiredo usava para me pedir um tostão (1). Pensa o leitor que faço a anedota? Antes fosse: mas a verdade é que estou muito triste com esta fúria de incompetência com que Portugal participa na Guerra Europeia. E que horror, caros compatriotas, deduzir experimentalmente que de todas as nossas Conquistas e Descobertas apenas tenha sobrevivido a Imbecilidade. E daqui a indiferença espartilhada da família portuguesa a convalescer à beira-mar.
Algumas das raras energias mal comportadas que ainda assomam à tona d`água pertencem alucinadamente a séculos que já não existem e quando Um Português, genialmente do século XX, desce da Europa, condoído da pátria entrevada, para lhe dar o Parto da sua Inteligência, a indiferença espartilhada da família portuguesa ainda não deslaça as mãos de cima da barriga. Pois, senhores, a Exposição de Amadeo de Souza-Cardoso na Liga Naval de Lisboa é o documento da Raça Portuguesa no século XX.
A Raça Portuguesa não precisa de reabilitar-se, como pretendem pensar os tradicionalistas desprevenidos; precisa é de nascer prò século em que vive a Terra. A Descoberta do Caminho prà Índia já não nos pertence porque não participamos deste feito fisicamente e mais do que a Portugal este feito pertence ao século XV.
Nós, os futuristas, não sabemos história só conhecemos da Vida que passa por Nós. Eles têm a Cultura. Nós temos a experiência - e não trocamos!
Mais do que isto ainda Amadeo de Souza-Cardoso pertence à Guarda Avançada na maior da lutas que é o Pensamento Universal.
Amadeo de Souza-Cardoso é a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX.
O limite da descoberta é infinito porque o sentido da Descoberta muda de substância e cresce em interesse - por isso que a Descoberta do Caminho Marítimo prà Índia é menos importante que a Exposição de Amadeo de Souza-Cardoso na Liga Naval de Lisboa.
Felizmente para ti, leitor, eu não sou crítico, razão porque te não chateio com elucidações da Arte de que estás tão longinquamente desprevenido; mas amanhã, quando souberes que o valor de Amadeo de Souza-Cardoso é o que te digo aqui, terás remorsos de o não teres sabido ontem. Portanto, começa já hoje, vai à Exposição na Liga Naval de Lisboa, tapa os ouvidos, deixa correr os olhos e diz lá que a Vida não é assim?
Não esperes, porém, que os quadros venham ter contigo, não! eles têm um prego atrás a prendê-los. Tu é que irás ter com eles. Isto leva 30 dias, dois meses, um ano mas, se tem prazo, vale a pena seres persistente porque depois saberás onde está a Felicidade.
Lisboa, 12 de Dezembro de 1916
Damien Rice - Cold Water
"Cold cold water surrounds me now
and all i've got is your hand
lord can you hear me now?
or am i lost?
no one's daughter allow me that
and I can't let go of your hand
lord, can you hear me now?
or am i lost?
don't you know i love you
and I always have
hallelujah
will you come with me?
cold cold water surrounds me now
and all i've got is your hand
lord.. can you hear me?
or am i lost?"
terça-feira, 29 de maio de 2007
Greve
In Jornal de Notícias de 28 de Maio de 2007
Greve
Parece que um dos ministros do actual governo manifestou o interesse em saber, antecipadamente, a identidade dos funcionários públicos que irão fazer greve amanhã. Cumprindo escrupulosamente o meu dever de funcionária pública, que até ver ainda sou, aproveito para informar que serei grevista, amanhã, dia 30 de Maio de 2007. E, situação caricata, como tenho uma turma dos Cursos de Educação e Formação, vou ter falta ao serviço, não vou ganhar o dia de trabalho, e ironia das ironias, vou ter que repor a aula mais tarde!
Parece que o mesmo ministro (e digo parece apenas porque praticamente não vejo televisão e consequentemente noticiários... é que andava a sentir-me enjoada e incomodada com a variedade e qualidade dos temas) quer igualmente saber o número de contribuinte dos funcionários públicos grevistas.
Ora isto é que não! Não vou dar o meu número de contribuinte!
Cada um que faça o seu trabalho!
Ah! E acima de tudo olha para o que eu faço e vê lá se não é coerente com o que eu digo!
Nota - Soube entretanto da ilegalidade das intenções do Sr. ministro.
Como este país está divertido!!!
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 26 de Agosto de 1789
26 de Agosto de 1789
Artigo11º - A livre comunicação de pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do Homem; todo o cidadão pode, pois, falar, escrever e imprimir livremente; salvo a responsabilidade do abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei.
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Andrew Bird
domingo, 27 de maio de 2007
Erg Poceirão
Acordares
Nevoeiro - Barca - Aboboreira - Amarante - Portugal
Fotografia de Artur Matias de Magalhães
"Acordares"
Adoro acordar na Barca, ou melhor, adoro ir acordando na Barca, o que é completamente diferente.
A luz vai entrando à medida que o sol nasce e vai-me fazendo acordar aos poucos, lentamente. Da cama, observo as árvores, a chuva que cai, o vento, o nevoeiro que corre montanha acima em farripas mais ou menos densas, viro-me para o outro lado, enrosco-me, estico-me, enrosco-me, volto a dormir, para dali a pouco voltar a observar as árvores, a chuva que continua a cair, o vento que sopra mais forte, o nevoeiro que tudo tapa. Viro-me para o outro lado e volto a enroscar-me e a esticar-me, e volto a dormir.
Acordar mesmo, só quando o cheiro do café acabado de fazer me entra pelas narinas dentro e chama por mim impelindo-me para a cozinha.
Adoro acordar na Barca, ou melhor, adoro ir acordando na Barca, o que é completamente diferente. Mesmo hoje quando acordei para uma manhã miserável de Inverno frio e chuvoso.
Aproveito e vingo-me do acordar do resto da semana, sempre a toque de caixa de um qualquer despertador!
sábado, 26 de maio de 2007
WC
WC - Akakus - Líbia
Fotografia de autor desconhecido
WC - Lago Salgado de Chott Gerid - Sahara - Tunísia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães
WC - Home - Barca - Aboboreira - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
WC
Aqui está, talvez, o maior sacrifício de todos os que temos de estar preparados para fazer quando entramos deserto adentro. O nosso dia-a-dia decorre cheio de mordomias, grandes e pequenas, importantes ou insignificantes, que damos por adquiridas e sobre as quais nem pensamos. Ora aqui está uma mordomia inventada pelo homem, que usamos várias vezes ao dia, e da qual, francamente, sentimos falta quando não temos possibilidade de a termos por perto.
Os WC no deserto são sempre improvisados e o da Tunísia, representado acima, foi mesmo o WC mais sofisticado que encontrei no grande Sahara.
A falta do WC dá muitas vezes azo a situações caricatas como a daquele grupo de mulheres pitosgas, sem óculos e sem lentes de contacto, perigosas no deserto por causa das areias, na noite escura do deserto, que se afastou do acampamento, e que vislumbrando uma pedra esparramada na areia se preparava para fazer chichi... na cara de um dos nossos motoristas!!! Esta cena deu lugar a gargalhadas e mais gargalhadas no acampamento... voltamos a ser crianças, a rir como as crianças! Não me esquecerei daquele som genuíno, cristalino, a ecoar pelos rochedos fantasmagóricos do Akakus!
Ou daquela outra cena em que um de nós, acometido duma vontade súbita de satisfação de uma necessidade fisiológica a meio da noite, se afastou do acampamento e andou perdido, perdido, e ali tão perto, e foi alvo da chacota dos outros porque, curiosamente, era o único posssuidor e utilizador de GPS.
Ou daquela outra cena em que as mulheres do grupo improvisaram um Wc parecido com o da primeira fotografia e o WC se revelou... completamente transparente!!!
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Franz Ferdinand
Franz Ferdinand foi-me apresentado pela minha filha Joana... "Deves gostar deste som" disse-me. De facto os meus escorpiões conhecem-me bem.
Adorei, Joana! Ouvi-o e fui imediatamente transportada para finais da década de 70, inícios da década de 80, para um tempo em que me pavoneava nas discotecas cá do burgo, dançando, dançando até de madrugada, debaixo de um som irreverente e violento, do som punk, o som que marcou o fim da minha adolescência e a minha entrada na vida adulta, aos 20 anos, quando me casei.
Obrigada. Escolhi esta música para postar no meu blogue porque gosto especialmente do som e porque tem um nome de que gosto particularmente, muito apropriado à conjuntura actual. Fiquem com "This fire" descontrolado!
Bem me parecia que me cheirava a queimanço!!
Ops!... Irei trabalhar para a biblioteca?!
Yann Arthus-Bertrand
Em Agosto do ano passado tive oportunidade de ver, com os meus próprios olhos, uma das paisagens mais fascinantes de Marrocos , o lago Sebkhet Aridal, pertinho, pertinho do "nosso" Cabo Bojador. Só a conhecia deste livro de Yann Arthus-Bertrand e posso garantir que a visão deste lago salgado em regressão, que in loco também se tem de um ponto alto perto da estrada que bordeja o mar e o deserto, é simplesmente sublime e reduz-nos à nossa insignificância.
Aqui vos deixo a hiperligação para o site deste fotógrafo excepcional e maior da fotografia mundial. Vão ver as fotografias agrupadas por continentes. Vão a todo o lado... mas primeiro vão a África, ao interior da barriga da nossa mãe e vejam se não se sentem... at home...
quinta-feira, 24 de maio de 2007
Antony
Obrigada Mina por me dares a conhecer Antony, e esta música tão especial e comovente chamada Hope Theres Someone, do álbum em feliz hora chamado I`m a bird now.
Aproveitei para rever Boy George, gordo e anafado. Perdida a excepcional beleza restou o talento!
Aproveita para ouvires o teu som no meu blogue!
Beijinhos e gargalhadas. Sempre! lol
(Apesar dos olhos rasos de água)
Escandaleira
Face à última escandaleira nacional remeto para a leitura do meu "post", intitulado "Mensagem de Esperança", publicado no dia 23 de Março de 2007.
E quero acrescentar:
"O problema é que os que não fazem falta nenhuma ao sistema estão infiltrados no próprio sistema, ou melhor, eles são o próprio sistema!" Ops!... Irei trabalhar para a Biblioteca?
País que às vezes me deixa envergonhada, este!
E continuo à espera!
Parece que me cheira a "queimanço"... serão os meus cozinhados?! Ou será um cheirinho que me chega lá dos lados da DREN? Ops!...
Irei trabalhar para a Biblioteca?
Damien Rice
Continuo com Damien Rice. Quando gosto mesmo, sou excessiva, e eu adoro este Rice que me foi apresentado pelo Artur faz já bastante tempo. São mesmo músicas que eu não deveria cantarolar a caminho da Barca... tenho que aprender mais sobre a palavra contenção. Quando é que este tipo vem cá? E esta moça de voz surreal?
E... curiosidade... esta música chama-se "Volcano".
Dedico-a... não, não vou cometer outra transgressão no meu blogue... tenho que aprender mais sobre a palavra contenção!
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Queimanço
Bombeiros - Rio Tâmega - Amarante - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Queimanço
Estou farta de me rir a ler o artigo "Queimanço", da obra "A Causa das Coisas", de Miguel Esteves Cardoso, publicado pela Assírio & Alvim. Faço questão de partilhar este momento de humor com mais de vinte anos e que se mantém tão actual. Há gente que vive à frente do seu tempo!
Ah! E a fotografia que ilustra este post foi tirada num dia de Verão, num dia de calor de esborrachar... o queimanço era aqui perto!!! lol
Queimanço
"Portugal talvez seja o país da zona temperada onde as pessoas mais se queimam. Quando, por uma razão ou outra (geralmente a outra) os portugueses alcançam posições de poder, sejam eles e elas quais forem, desencadeia-se imediatamente um complexo processo de combustão interna que vai sendo progressivamente acompanhado por um vistoso espectáculo de combustão pública, semelhante a um auto-da-fé, e tão empolgante como o «Teatro do Fogo».
Antes de serem empossados, é já visível uma espécie brilhante de fosforescência, que eles e o povo que vão servir geralmente tomam como indício de santidade e sinal de predestinada salvação. Este começo de combustão, que erradamente se interpreta como uma «aura» sebástica, é agravado pelo facto dos novos governantes sentirem as costas muito quentes. Mal sonham porquê.
É que já começou o queimanço. Passarão de seguida, e fatalmente, pelas diversas fases que alegremente antecedem as cinzas finais. Primeiro, sucede uma inflamação menor:- alguém acusa-os de qualquer coisa e eles inflamam-se. Uma vez inflamados, já não podem voltar atrás - basta reparar na maneira como as bochechas dos governantes adquirem, após poucos meses de serviço, um rubor característico que nunca abranda e ao qual nem a mais pesada maquilhagem televisiva consegue resistir.
É evidente que muitos dos indivíduos que sobem ao poder - os menos dotados, digamos - são já altamente inflamáveis, como as colas UHU. E, como as colas UHU, são geralmente esses que mais se agarram aos assentos. O mais das vezes são lançados para a fogueira pelos superiores, segundo a lógica portuguesa do atar-e-pôr-ao-fumeiro que invariavelmente contempla a atribuição dos lugares mais «quentes» (Administração Interna, Comunicação Social, RTP, etc.).
O que é importante observar, porém, é que o processo do queimanço atinge todos, independentemente de contingências puramente espúrias como a qualidade deles. À parte alguns verdadeiros patriotas, que conscientemente marcham para a fogueira assobiando «A Portuguesa», os demais portugueses, sabendo da inexorabilidade do queimanço (os melhores) recusam-se, por isso mesmo a aceitar postos políticos. Quando se lhes pergunta «Quer vir dirigir a RTP?», respondem sempre, e muito a propósito, «Fogo!...».
Os que vão para o poder, portanto, são os que não sabem ou os que julgam, por tolice, ingenuidade ou arrogância, que conseguirão resistir às labaredas com o escudo invisível da sua frescura natural. E queimam-se, é claro.
Quando a fogagem lhes começa a chamuscar os pêlos dos calcanhares, reagem instintivamente e - pronto - começam a meter água. Quem brinca com o fogo, já devia saber, poupa sempre o custo do penico.
É verdade que alguns conseguem sair da experiência governativa sem serem reduzidos a ciscos. São os que são «falados» sem serem nomeados, os que são propostos sem serem aceites e os que são «indigitados» sem serem empossados. Estes saem do processo não queimados, mas simplesmente, bronzeados."
(...)
terça-feira, 22 de maio de 2007
O guardador de rebanhos (IX)
Home - Erg Chebbi - Sahara - Marrocos
Fotografia de Joana Matias de Magalhães
O guardador de rebanhos (IX)
Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Não basta abrir a janela
Janela - Matmata - Tunísia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães
Não basta abrir a janela
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
O meu olhar...
O meu olhar...
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
segunda-feira, 21 de maio de 2007
"O sabor está na diferença"
"O SABOR ESTÁ NA DIFERENÇA"
Voltei a reler Miguel Esteves Cardoso, desta vez a obra intitulada "Último Volume", da Assírio & Alvim.
Já aqui falei sobre a importância do ser diferente, do não ser formatado pelos outros, do mantermos a nossa especificidade, do não nos dobrarmos perante aquilo que os outros esperam de nós... enfim, de sermos simplesmente aquilo que somos. E isto aplica-se a cada um de nós, enquanto seres únicos e irrepetíveis, às diferentes culturas, aos diferentes países. Para quem é atento e observador, é preocupante a velocidade a que se perdem especificidades, neste mundo cada vez mais global e massificador! Eu adoro a diferença... não que a cultive per si, mas porque me sinto diferente dos demais... e este sentimento sempre me acompanhou desde que me lembro. Em criança era uma maria rapaz e as meninas não se comportavam assim! E eu queria lá saber! No colégio queriam obrigar-me a escrever como as pessoas "normais"....nunca conseguiram! Acentuou-se durante a adolescência...fazia a minha roupa porque não tinha o que queria à venda. Dava dores de cabeça imensas à minha mãe, que a cada dia reentrava em casa, depois de um dia de trabalho, e encontrava o meu quarto feito num oito, virado do avesso, segundo as suas palavras, a cada dia diferente! A minha mãe dizia amiúde "Não sei a quem esta rapariga sai!" Tanto desobedeci ao meu pai, que tinha a mania que era ditador, e achava que eu me contentava com a justificação "As meninas não saem à noite. O teu irmão? O teu irmão pode sair porque é rapaz!" que saí sempre que me apeteceu e aos dezoito anos tinha chave de casa e entrava e saía quando me apetecia. Sempre fui uma lutadora e Amarante nos anos setenta tinha muito pouco a ver comigo. Acentuou-se quando me casei e desenhei, desenhei mobiliário, porque nada do que havia à venda me interessava, nada tinha a ver comigo! Detesto camas, detesto mesinhas de cabeceira, detesto guarda vestidos, detesto aquela coisa formatada da mobília completa, detesto cortinas, detesto portas dentro das casas...aliás, pelas casas em que passei, alugadas, está bom de ver, uma das minhas primeiras actuações era tirar umas quantas portas. Isso e pintar o interior todo de branco! E pintava eu as paredes, de trincha em punho, todos os anos, por causa do aquecimento que se fazia a lenha e borrava tudo com uma camada negra de pó.
E lembrei-me de tudo isto por causa do artigo que li, de um autor que tem um sentido de humor que eu amo, e que se chama Miguel Esteves Cardoso. Transcrevo os três primeiros parágrafos.
" A coisa mais bonita do mundo, mais bonita do que a beleza, é a diferença.
Suponhamos que o leopardo é o animal mais bonito da terra. Mais bonito do que ver cem leopardos juntos é ver um leopardo rodeado de outros animais, feios ou bonitos. Bonito, bonito é um leopardo ao pé de um ornitorrinco, um ornitorrinco ao pé de um flamingo, um flamingo ao pé de um crocodilo. É por isso que a ideia da Arca de Noé é tão comovente. Noé não escolheu os animais mais bonitos, nem os mais úteis, nem os mais fortes. Escolheu dois de cada espécie, não porque tivessem alguma qualidade particular, mas por serem diferentes das demais.
Ser diferente é uma qualidade só por si. Só por ser diferente tem de ser defendido. Acontece, porém, que vivemos num tempo igualitário, unificador e racionalista em que as diferenças que ainda existem tendem a ser abolidas. Nota-se em tudo. Uniformiza-se, massifica-se, burocratiza-se como nunca antes. É muito benéfico, económico e democrático; traz muitas vantagens às populações e é também uma grandíssima chatice."
Pois é Miguel Esteves Cardoso, como eu te compreendo. E obrigada... sinto-me mais compreendida!
Ainda a Marie Madeleine
A pedido de várias famílias aqui fica o link para o blogue da Marie Madeleine.
http://mariemadeleine-madalena.blogspot.com/
O que eu já me ri com a postagem sobre o Jet Set! lol
E hoje abri-o e lá está ele todo azul e branco!!!
domingo, 20 de maio de 2007
Nocturno
Marie Madeleine
A Marie Madeleine entrou tardiamente na família Justino Alves, mas em boa hora entrou porque a família Justino Alves estaria hoje infinitamente mais pobre sem ela.
A Marie Madeleine é uma lufada de ar fresco num dia quente de Verão e é um verdadeiro incêndio num dia gélido de Inverno. O sentido de humor da Marie Madeleine é qualquer coisa que ainda hoje, por vezes, me surpreende. Tenho aprendido muita coisa com ela... a não vergar, a manter o sentido de humor mesmo na adversidade, a manter o contacto com a natureza, tão importante para o nosso equilíbrio físico e emocional.
O Sahel, sim o Líbio, não demorou cinco minutos a tirar-lhe a pinta. E baptizou-a de "A Perigosa". Ainda hoje ele me pergunta "Como vai A Perigosa?". Ele, que também tem um sentido de humor extraordinário, e está sempre a rir às gargalhadas (e como eu gosto de escutar as suas gargalhadas vindas dos confins do deserto!), criou de imediato uma grande empatia com a Marie Madeleine. Os simpáticos entendem-se.
E agora pergunto eu Marie Madeleine... o que é que a menina teve a ver com este quadro? Com o Quadro+Azul? Sim, porque esta inspiração do João não foi um acaso... foi?
sábado, 19 de maio de 2007
Leve, Leve
Luz e Sombra - Barca - Amarante - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Leve, Leve
Adoro esta expressão que os são-tomenses utilizam para responder à pergunta "Como vai a vida?"
Hoje recordei-a durante as minhas leituras de sábado de manhã. E pensei que uma vida mais espartana, mais de pés no chão, andando até sobre pedras, com cuidado para não cair, pode ser mais leve, leve...
E leve, leve estava ontem a minha aveia mergulhada numa luz suave de fim-de-tarde.
Pintura
Quadro+Azul - Pintura de Justino Alves
Pintura
Adoro pintura. Por coincidência, fui ao blogue da Marie Madeleine, por acaso tia do Artur, e encontrei lá postada esta magnífica pintura do Justino Alves, por acaso tio do Artur. E não resisti a postá-la no meu blogue porque é uma pintura com a qual me identifiquei de imediato.
Para começar tem as minhas cores - branco, azul, preto.
O branco e o azul misturam-se decorrentes de espatulados magníficos. Os espatulados são apropriados para fazer estas transições, estas misturas de cor, do mar que nos rodeia, do céu que nos cobre, e para nos transmitir esta auréola de luz, da luz que nos ilumina. Os espatulados dão-nos cambiantes de cor infinitos e eu gosto da ideia de infinito... Quantos azuis estão presentes neste quadro? A vida não é só feita de preto e branco... para além destas cores há sempre uma infinidade de azuis! Depois temos o preto, duro, forte, plenamente assumido, sem subterfúgios, a cor de fundo do meu blogue, das minhas apresentações de PowerPoint... e do meu lado negro, que também o tenho.
E passemos às formas. Justino Alves é, pelo menos para mim, o pintor por excelência das relações humanas. Mais ou menos explícitas. Gosto particularmente deste Quadro+Azul em que as formas estão reduzidas à sua essência. E como eu gosto da essência das coisas, despojadas de sobreposições, de redundâncias!... E depois as formas são simultaneamente doces, feitas de curvas suaves... e agrestes, feitas de arestas vivas, que as pessoas também são feitas delas.
É, este quadro tem a minha cara. É, este quadro podia ser meu!
sexta-feira, 18 de maio de 2007
Xô Carrapatos
Jardim - Home
quinta-feira, 17 de maio de 2007
Animais da Barca
quarta-feira, 16 de maio de 2007
Ahlan wa sahlan Sahel
Sahel - Home - Amarante - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Ahlan wa sahlan Sahel
Kayf Halak?
Kirak el ayl?
Ana behke arabe shway.
J` ai fait des efforts pour écrire en arabe mais c`est très, très difficile pour moi. Mais je te dis en français: Tu sais que ma maison sera toujours ta maison.
Et j`aime t`écouter rire aux éclats et j`aime écouter ta voix qui sort de Sebha, qui sort du désert, du Sahara... mon désert!
Afwan ahlam.
Ma`a salama
Je t`embrasse très fort
Anabela
Caricatura Oportuna
Coincidências
Depois daquela infelicidade/felicidade da minha não colocação, no início de Setembro, nos mini concursos, eis que chego da Turquia, e sou surpreendida por um telefonema da DREN. Queriam saber se eu aceitava um horário na Secundária do Marco de Canaveses. Marchei de imediato para o Porto para me inteirar dos pormenores da coisa. E a coisa que me saiu na rifa foi um horário misto, com turmas de 7º, 8º, 10º e 11º anos. O 11º era à noite e à quarta-feira tinha aulas de manhã, à tarde e à noite. O padre Vales, presidente do Conselho Directivo na época, pessoa que muito estimo e que está num cantinho do meu coração pela simpatia, carinho e correcção com que sempre me tratou, deu-me mesmo a assinar um termo de responsabilidade pela aceitação de um horário tão estapafúrdio. Que eu assinei de imediato, feliz por poder trabalhar! Acho que nesse ano não ganhei para a gasolina porque vinha sempre almoçar e jantar a casa, mesmo quando só tinha uma hora para o fazer. Uf, uma canseira, um stresse! Hoje já não seria capaz de tal proeza.
Nem de propósito, estava eu a ruminar desde ontem as lembranças de tempos felizes passados na Secundária do Marco e quem encontro no café? Um meu ex-aluno, dos tempos em que leccionei nessa escola, Pedro de seu nome, somente o melhor aluno de História de uma das minhas turmas de 8º ano! E que curiosamente era irmão de uma minha aluna da turma de 10º, e que curiosamente voltou a ser meu aluno no seu 10º ano, e que curiosamente é meu colega, pois licenciou-se em História. Aproveitei para relembrar tempos felizes, numa escola onde ainda hoje retorno com saudade!
E o Pedro, estou a vê-lo sentado na primeira fila, sempre atento e interessado e a amar História!
Desfiámos memórias de tempos passados, dei-lhe o meu e-mail e o endereço deste blogue. Vamos ver se a gente se mantém em contacto. O Pedro ainda não conseguiu colocação e eu só espero que a História não lhe seja madrasta.
terça-feira, 15 de maio de 2007
Mix
Uma Viagem Inesperada
Pela primeira vez, desde que era professora, não tinha sido colocada nos mini-concursos de Setembro, estava super chateada e preocupada, e o A agarrou em mim e levou-me para terras islâmicas. Fui "comemorar/esquecer" a minha não colocação!
segunda-feira, 14 de maio de 2007
À Espera
Álbuns de Fotografias
domingo, 13 de maio de 2007
Transgressão
O Fotógrafo Fotografado - Sahara - Líbia
Fotografia de Eugénio Queiroz
Transgressão
O A sempre adorou fazer fotografia. Não tínhamos máquina de lavar roupa, mas tínhamos esta máquina Canon, que o A comprou quando a J era ainda muito bebé. Acho que ele queria registar a beleza da J para a posteridade! E registou.
E foi com esta máquina que o A me fotografou a alma, segundo as suas palavras. Eu duvido, mas se ele acha...
E fotografou tudo o que eu lhe pedi... e eu sou a melga das fotografias... porque preciso para as apresentações em PowerPoint, porque vi um campo de flores roxas e amarelas, e um pastor, e um rebanho e me pareceu uma cena bíblica, porque vi umas salinas e as salinas são muito fotogénicas, e A, "põe a máquina nessa pedra e tira-nos uma fotografia"...e...e...
Esta máquina acompanhou-nos quase até aos dias de hoje, até que o A, relutante, a encostou, e comprou uma Canon digital. O Helder Colmonero, os manos P, Renato e Ricardo, e eu própria conseguimos convencer o tipo.
Agora podemos fazer fotografia à vontade, sem preocupações de rolos e de preço, e com a comodidade de as termos imediatamente disponíveis no computador. Facilitou-me a vida.
Por falar em fotografias, quero agradecer ao meu fotógrafo particular todas as fotografias que ele nos tirou ao longo dos anos, particularmente as fotografias que eu lhe pedi que tirasse porque me interessavam por isto ou aquilo. Que paciência!
E quero agradecer-lhe todas as fotografias que já postei no meu blogue e as que ainda postarei e que são da sua autoria. O meu blogue sem as suas fotografias estaria infinitamente mais pobre.