Biscoito da Teixeira - S. Gonçalo - Amarante - Portugal
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Gula
Hoje vou falar sobre um dos pecados capitais. Vou falar sobre a gula, o pecado capital, ou mesmo mortal, da minha preferência, e por causa do qual sou uma pecadora praticante.
A gula, assim como a ira, a cobiça, a inveja, o orgulho, a preguiça e a luxúria é um daqueles pecados que, uma vez cometidos, nos levam direitinhos ao inferno, àquela coisa muito quente, permanentemente em chamas, que consumirá e atormentará os pobres dos pecadores, para todo o sempre, após a sua morte. Uma chatice.
Devo esclarecer desde já que há alguns pecados mortais, entre os sete, que não aprecio de todo, e considero-os mesmo, mesmo muito, feios. É o caso da ira, da cobiça, da luxúria, da inveja. Mas já não é o caso dos restantes que cometidos e absorvidos em pequenas doses, aqui e ali, me dão um gozo desgraçado.
Sim, já sei. Perante a igreja católica sou uma mulher perdida. Mas assim continuo, assumidamente. Assim continuo, assumidamente, uma praticante devota do pecado da gula. Tenho mesmo de me confessar, sem penitência a seguir. Sou uma mulher gulosa. O que é que hei-de fazer? É que não resisto mesmo a uma doçaria e sou assim desde que me conheço.
É claro que com o tempo e a idade a avançar tive de tomar providências cautelares face à possibilidade de crescer para os lados e, vai daí, cortei o açucar em tudo o que são bebidas. Tomo café, chá, leite, refresco de limão tudo sem um grãozinho de açucar para depois poder comer uma boa fatia de pudim, um bolo de prata, um queque, um bolo de arroz, e até, pecado, pecado, pecado, para depois perder a cabeça com um mille feuille da Patisserie du Sud, de Ouarzazate, comido pela rua fora em atitude descomposta, lambendo os dedos, ai pecado!, comendo dois de seguida, ai pecado!, comendo e chorando por mais.
E vou confessar uma outra manifestação da minha gula que pratico desde miúda e em que sou especialista. Rapar as bacias onde se fez a massa dos bolos. A Joana, que felizmente para mim nunca gostou desta actividade divinal, aprendeu logo de pequenina a deixar-me as bacias generosamente cobertas com uma película de massa crúa em que eu me lambuzo com a ajuda de uma colher de pau, cometendo o pecado da gula, uma e outra vez, sem remorsos e sem penitências. E pensando melhor, com penitências. Está na hora de ir ao café tomar o dito, acompanhado por um queque acabadinho de sair do forno. E de comprar Biscoito da Teixeira, da dona Isaura, para ir triturando durante o fim-de-semana.
Hoje vou falar sobre um dos pecados capitais. Vou falar sobre a gula, o pecado capital, ou mesmo mortal, da minha preferência, e por causa do qual sou uma pecadora praticante.
A gula, assim como a ira, a cobiça, a inveja, o orgulho, a preguiça e a luxúria é um daqueles pecados que, uma vez cometidos, nos levam direitinhos ao inferno, àquela coisa muito quente, permanentemente em chamas, que consumirá e atormentará os pobres dos pecadores, para todo o sempre, após a sua morte. Uma chatice.
Devo esclarecer desde já que há alguns pecados mortais, entre os sete, que não aprecio de todo, e considero-os mesmo, mesmo muito, feios. É o caso da ira, da cobiça, da luxúria, da inveja. Mas já não é o caso dos restantes que cometidos e absorvidos em pequenas doses, aqui e ali, me dão um gozo desgraçado.
Sim, já sei. Perante a igreja católica sou uma mulher perdida. Mas assim continuo, assumidamente. Assim continuo, assumidamente, uma praticante devota do pecado da gula. Tenho mesmo de me confessar, sem penitência a seguir. Sou uma mulher gulosa. O que é que hei-de fazer? É que não resisto mesmo a uma doçaria e sou assim desde que me conheço.
É claro que com o tempo e a idade a avançar tive de tomar providências cautelares face à possibilidade de crescer para os lados e, vai daí, cortei o açucar em tudo o que são bebidas. Tomo café, chá, leite, refresco de limão tudo sem um grãozinho de açucar para depois poder comer uma boa fatia de pudim, um bolo de prata, um queque, um bolo de arroz, e até, pecado, pecado, pecado, para depois perder a cabeça com um mille feuille da Patisserie du Sud, de Ouarzazate, comido pela rua fora em atitude descomposta, lambendo os dedos, ai pecado!, comendo dois de seguida, ai pecado!, comendo e chorando por mais.
E vou confessar uma outra manifestação da minha gula que pratico desde miúda e em que sou especialista. Rapar as bacias onde se fez a massa dos bolos. A Joana, que felizmente para mim nunca gostou desta actividade divinal, aprendeu logo de pequenina a deixar-me as bacias generosamente cobertas com uma película de massa crúa em que eu me lambuzo com a ajuda de uma colher de pau, cometendo o pecado da gula, uma e outra vez, sem remorsos e sem penitências. E pensando melhor, com penitências. Está na hora de ir ao café tomar o dito, acompanhado por um queque acabadinho de sair do forno. E de comprar Biscoito da Teixeira, da dona Isaura, para ir triturando durante o fim-de-semana.
Delícia. Delícia, o pecado da gula.
Eis um texto polémico,de um anarquista chamado Lysander Spooner, com o intuito de incitar à reflexão (crítica) sobre as suas (nossas) limitações ético-jurídicas:
ResponderEliminar"O facto de os vizinhos de um homem suspeitarem de que este se encontra a caminho da auto-destruição por causa dos seus vícios não significa que esse homem seja louco, non compos mentis, incapaz de um discernimento e de uma contenção razoáveis, nos limites do sentido legal de tais termos. Há homens e mulheres que podem entregar-se a vícios horríveis, e a grande número de entre eles - tais como a gula, a embriaguez, a prostituição, o jogo, o boxe, o tabaco de mascar, o fumo ou o rapé, a absorção de ópio, o uso de cintas, a ociosidade, a delapidação dos bens, a avareza, a hipocrisia, etc., etc. - permanecendo sãos de espírito, compos mentis, capazes de um discernimento e de uma contenção razoáveis, nos limites do que a lei a prevê. E enquanto se mantiverem sãos de espírito, devem continuar habilitados a dispor de si próprios e a dispor dos seus bens, e a serem os seus próprios juízes no que toca à determinação dos resultados dos seus vícios. Os observadores poderiam esperar, em cada caso individual, que a pessoa viciosa visse para que fim se dirige e fosse levada a arrepiar caminho. Mas se essa pessoa escolher continuar a dirigir-se para aquilo a que outros homens chamam a autodestruição, deve ser-lhe permitido fazê-lo."
In OS Vícios não são crime,1875
Olha minha cara amiga Anabela para ti, esse pecado da gula, na Terra, não tem qualquer importância porque não tens problemas com gorduras(pneusinhos) e celulites(casca de laranja). Continua a ser gulosa e feliz porque o açúcar contribui para isso.És uma sortuda. Depois quando voares para outros "espaços" logo verás.
ResponderEliminarConcordo, Elsa, "deve ser-lhe permitido fazê-lo".
ResponderEliminarE isto leva-me a um outro problema que tem a ver com o facto dos Estados estarem a controlar cada vez mais as nossas vidas, os nossos vícios, os nossos pequenos prazeres, os nossos rituais, tudo regulando, formatando-nos a todos por igual, coarctando as liberdades individuais. Preocupante.
Eu não vou voar para outros "espaços", Geninha. Vai daí tenho de resolver tudo por aqui mesmo, tendo o cuidado de não acumular frustrações.
ResponderEliminarE concordo contigo, o açucar faz mesmo falta à vida. O açucar e o sal. Mas ainda não chegou o momento de falar deste senhor.
Noutro dia será.