terça-feira, 15 de abril de 2008
Outono - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Maracujá
O Maracujá tem texto novo. Lindo. Profundo. Complexo.
Aqui o transcrevo relembrando que é meu aluno de 9º ano.
Os meus alunos continuam a ser o meu orgulho. E o que me segura na profissão.
Vida...
Vazio... Inexistência...
Numa explosão de luz, numa melodia de pensamento algo foi criado.
Era infímo mas vivia.
A sapiência daquele que viu o Vazio, que o acompanhou, era infinita.
O Tempo tudo via e recordava para quando o Vazio voltasse.
Aí falarão eternamente numa conversa melodiosa, a mais bela de todas.
Jamais alguém a ouvirá.
O seu eco prolongar-se-á até sucumbirem o Vazio e o Tempo...
Porém quando tudo era ainda uma manhã, uma flor ténue, verde e franzina nasceu a vida.
A Vida, ao contrário de tudo o resto, desabrochava rapidamente.
O Tempo, avô, olhava-a calmamente e sorria terno e acolhedor.
O brilho nos seus olhos cinzentos tudo encandeava e a Vida passava eras a olhá-los pois revia-se neles.
E viu-nos.
Éramos ainda réstia de pensamento.
Algo estranho, capaz de amar, pensar. Algo diferente...
Nascemos...
Fomos os primeiros que não foram alvo de extensa premeditação, assim estava traçado o nosso destino.
A Vida foi o nosso berço mas por pouco tempo.
Ansiávamos liberdade, correr pelas planícies verdejantes e calcar as folhas outonais caídas no chão, apenas uma lembrança da vitalidade de outrora.
Tornamo-nos justos, rectos e belos.
Porque efusivos nunca compreendemos a dádiva da morte.
Dela queríamos fugir, da presciência que se adquire às suas portas.
Talvez porque éramos demasiado velozes para sermos preenchidos pela sabedoria.
Os Reis sucediam-se até o sangue dos primogénitos estar diluído pelo tempo e pelos traidores.
Quando tudo estava disperso e sem sentido a vida acabou.
A derradeira morte tinha acontecido.
O Vazio regressou e as palavras começaram a correr para nunca mais parar...
Linda fotografia.
ResponderEliminarJá vi de manhã o texto do Maracujá no blog dele.Lindo texto. Muito filosófico. Uma surpresa. Ainda não o comentei. Há muita coisa no texto... a vida e a morte; o tempo e o vazio; a beleza e a sabedoria... é preciso entranhar o texto...
Mais tarde.
E há-de continuar a ser o seu orgulho... o nosso... da humanidade.
Os textos do Maracujá são sempre profundos e filosóficos, a exigirem repetidas e atentas leituras. Sem dúvida. Concordo, Raul.
ResponderEliminarAh, obrigada pelo "linda fotografia". De algum modo achei-a adequada.