Rua da Cadeia - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Lalinha, Lala, Maria Eulália Macedo
A meio da minha rua, numa casa enormesca que resistiu à destruição dos franceses em 1809, habitam duas meninas bastante idosas que, apesar de irmãs, são muito diferentes entre si.
Vejo-as desde miúda, ambas solteiras, de importante família local. Uma, de seu nome Lourdes, sempre com cara séria, quase zangada, a minha vida toda só lhe ouvi "Bom dia" ou quando muito "Boa tarde". Não a conheço a não ser de vista, muito embora a conheça desde sempre.
A outra menina, a Lalinha ou Lala para quem com ela priva, é um ser humano à parte. Culta, informada, jovial, criativa, pouco ortodoxa, espírito livre, recordo-a no Ciclo Preparatório, onde em boa hora foi minha professora de Religião e Moral. Parece que não cumpria o programa e como nós, ganapada feminina, ainda a estudar no tempo da outra senhora, a adorávamos! Fazíamos marcas nos aros das portas registando o nosso crescimento que seguíamos atentamente. Principalmente o das mais pequeninas da turma - a Formiga e a Edite. E a Lalinha falava-nos sobre menstruação e outros assuntos do nosso interesse, preparando-nos para a adolescência que já se adivinhava, para as mudanças corporais que já todas sentíamos nos corpos, por vezes desengonçados, que nem sempre cresciam harmoniosamente. Ali não havia tabus. Estávamos entre mulheres e as conversas eram entre mulheres. A Lalinha e as suas aulas de Moral, muito arrojadas para a época, onde todas as alunas podiam colocar as questões que entendessem para debate, estimulavam-nos ao livre pensamento, à reflexão, à argumentação, ao diálogo, ao conhecimento. Ajudaram-me a crescer e recordo-as sempre com muita ternura. As aulas de Religião e Moral da Lalinha eram um oásis naqueles tempos finais de ditadura.
Ainda hoje converso amiúde com esta minha ex-professora e faço-o com enorme prazer, frequentadoras que somos do mesmo café. E ainda hoje aprecio o seu sentido crítico, a sua lucidez, a sua adaptabilidade aos dias que correm, o seu sentido de humor. Ainda hoje gargalho com a Lalinha. E releio-a relembrando textos publicados em livros que já não fazem parte dos escaparates das livrarias. E constato que a minha rua não seria a mesma sem ela, sem a sua silhueta poética e esguia, movimentando-se em passo certo e sincopado, todos os dias, pela mesma hora, a caminho do café.
Por tudo isto devo-lhe agradecimentos públicos. Aqui ficam.
E deixo uma transcrição tirada do seu livro "As Moradas Terrenas".
As constantes da História
"Invento as aulas. Entro na sala e dirijo-me aos olhos mais atentos. E deles parto para a aventura da viagem que pode ser longa ou curta, mas sempre com ilhas de mistério! Nunca sigo o programa prévio e oficial. Vou no rumo dos astros e do sonho."
o sonho é quando usamos o outro lado do cérebro?
ResponderEliminarÉ quando usas a metade do costume.
ResponderEliminarAnabela, fico feliz pela partilha do quanto uma professoa de moral contribuiu para o teu crescimento. E pelo que me relatas, um tanto arrojadas para a época. E a transcrição é interessante para mim, porque me revejo nela, eu e os meus colegas que dão Moral no Colégio. Nós remodelamos o programa oficial e adaptamos à nossa realidade. Para o ano vamos ter livros novos (ainda que não os adoptemos... queremos ainda manter-nos no nosso esquema e esperar pelo livro novo... que só está disponivel em finais de Setembro!?e vamos ver como está estruturado para ver se é interessante e apropiado) e sabes quanto tempo têm os livros que se usam em moral? Têm 20 anos!!! (pelo menos... que o que eu tenho e que de quando em vez ainda uso... é de 1987) Acreditas? O que nos vale é a autonomia que temos no Colégio para programarmos as aulas... mas o Secretariado já está a querer "meter" as "unhas".
ResponderEliminar.
Carpe diem. E diz à professora Eulália que tem por aqui um admirador.
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E Clap e Anabela, vocês fazem cada troca de galhardetes! Bem hajam!
É verdade, Raul. A Lalinha era uma revolucionária. Ainda é.
ResponderEliminarE como Amarante lhe é devedora! Eu também. Já estava na hora de aqui deixar duas palavras públicas sobre esta minha professora, que me marcou pela positiva.
Outras memórias se seguirão.
Eu e o Clap? Velhos conhecidos de outros carnavais! :D
Ah! E fico contente por teres gostado de ler o post de hoje. Quando o escrevi calculei que te fosse agradar.
Bj
AM?
ResponderEliminarJ que estamos em maré de correcções acha q será conveniente corrigir a SUA?
(SOU MEMO LIXADO..!!!!)
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Ps(salvo seja):releia pf o seu 1ºparagrafo.
Que 1º parágrafo? Cadê? Onde?
ResponderEliminarTodos nós podemos resistir á tentação das Francesinhas...
ResponderEliminarNeste momento e por ironia ou sobreposiçao, ando às voltas com o satélite do google, para encontrar o destino de ferias de uma casal amigo, que decidiu sair dia 11 para a Tunísia... "Port al kantaui"..acho q é assim q se escreve. Help?
ResponderEliminarFrancesinhas não há por aqui... mas lá que acabei por descobrir o gatão do meu post lá isso acabei! Confesso que só foi à segunda leitura.
ResponderEliminarChiuuuuuuu...
Gatãoo também é prós lados do Fridão?
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É assim Miga: no melhor pano cai a nódoa...
Não conheço. Conheço Tunes, Djerba, Tozeur, Matmata, o Chott-Djerid, Sousse, até o El Djem...
ResponderEliminarFico contente por achares que foi no melhor pano! Kakakakaka
ResponderEliminarGatão é do outro lado, Migo.
ResponderEliminarFica pertinho de Sousse. Obg
ResponderEliminarHá uma Annaba perto do El Kala National Park, na fronteira Argélia/Tunísia....
ResponderEliminarInvestiga a outra fronteira... e depois entra por ela dentro e vai para a Líbia. Procura Ghadamés e procura o Akakus.
ResponderEliminarE procura o Sahel. Em Sebha.
ResponderEliminarObg pelas dicas Miga mas o pc ta de todo hoje...O deserto aparece-me todo às escuras,e não consigo postar no blog...
ResponderEliminartalvez esteja na hora da naninha.. Amanha tb é dia!
bijus*