quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Direcção de Turma - É Gozo


ESA - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Direcção de Turma - É Gozo

Devo dizer desde já que não era directora de turma há quatro anos e que daí para cá muita coisa mudou na vida de um/a DT. O trabalho que se exige a um DT hoje em dia não tem nada, mas mesmo nada a ver com aquilo que se exigia quando fui DT a última vez. Há muitos dias em que não usufruo sequer de intervalos, há muitos dias em que vou bem antes do horário de entrada para a escola e muitos dias em que saio bem depois do meu horário para tratar de problemas da minha direcção de turma, já passei horas no Sr. Manuel, coitado, a tentar entrar em contacto com este ou aquele encarregado de educação, nalguns casos com êxito, noutros nem tanto, já estreei o serviço de aviso por sms para aviso instantâneo do encarregado de educação do aluno/s prevaricadores, já passei horas e horas embrenhada em processos que relatam as vidas dos alunos, nalguns casos desde o nascimento, o Projecto Curricular de Turma segue em velocidade cruzeiro com estudos estatísticos e informações diversas para trás e para a frente, já me inteirei dos casos problemáticos em termos de assiduidade, em termos de comportamento, sou cliente assídua do Núcleo de Apoios Educativos, da psicóloga da escola, da secretaria, do SASE, da portaria e até já tive de ir para a cantina resolver problemas diversos.
Devo informar que o mais impressionante, para mim, nesta nova experiência, é a degradação das relações familiares, a falta de respeito de pais para filhos e de filhos para pais, a forma como uns falam com os outros, a grosseria ali à minha frente. A minha experiência anterior em nada se assemelhava com esta realidade e parece-me que a escola é hoje um local bem mais problemático do que aquilo que já foi.
E confesso, honestamente, que já corri mais atrás dos filhos que não são meus, neste mês de aulas, do que corri atrás da minha filha a minha vida toda.
E fico eu a pensar. O Ministério da Educação concede-me 45 minutos semanais para trabalho na direcção de turma?!
E fico eu a pensar. O Ministério da Educação concede-me 45 minutos semanais para atendimento aos pais?!
É gozo!

5 comentários:

  1. Se conseguíssemos, de facto, ser escrupulosamente cumpridores dos nossos horários. Mas não, levamos os problemas atrás de nós: para casa, para a cama,…
    Este destino implacável, por si só, já devia ser motivo de dignificação.
    Tens razão: tudo se pede à escola, mais especificamente aos professores… qualquer dia até que arbitre as relações familiares.

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  2. É gozo é!
    A semana passada, numa turma de 11º ano de um curso profissional, chamei a atenção de um aluno, que insistia na brincadeira. Olhou para mim alterado e disse:"Eu? É a sua palavra contra a minha!"
    Sabes o que respondi, já cansada? Pois respondi tal e qual assim:"Estou farta disto!" O dito aluno ficou a olhar para mim...

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  3. Oh sra. Árbitra, não é loucura, é orçamento e falta de valorização por uma classe que em Países civilizados é bem prestigiada!

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  4. O ambiente degrada-se a olhos vistos e nós a fazermos de confessores, pastores de almas, pais, mães, psicólogos, arbitros, polícias sinaleiros, sociólogos, amas secas, babás, cacás e o mais que agora não me lembro.
    Tou cansaaaaada.

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