terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Parcerias
Auto-Retrato e Peça de Cerâmica - Museu Amadeo de Souza-Cardoso
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Parcerias
As instituições têm de abrir-se ao exterior, sejam elas Escolas, Museus, Bibliotecas, Centros de Saúde, Igrejas...
O tempo de cada um trabalhar para o seu canto, voltado para o seu umbigo, acabou, não voltará mais e evoluirá no sentido, inevitável, duma maior visibilidade do trabalho encetado, duma maior visibilidade do risco assumido que se corre quando se dá um passo em frente, mesmo se algures na trajectória podemos antever um possível passo atrás, ou mesmo para os lados, para depois retomarmos a caminhada, imparável para quem permanece vivo e assim se sente.
É o meu caso. Sinto-me viva e sei que sou viva. E conheço-me bem. E sei que não faz parte da minha natureza permanecer passiva perante o mundo que me rodeia, vendo-o passar, pasmada ou indiferente. Mantenho-me extremamente crítica e critico porque amo e porque me envolvo com paixão, por vezes assolapada. Mas também actuo sobre o que me rodeia, procurando alterar o que me parece menos bem, procurando melhorar o que me parece francamente mal. Detesto o marasmo, o deixa andar, o adiar para amanhã quando se pode fazer hoje.
Já aqui deixei expresso, por inúmeras vezes, o meu desconforto perante as salas despidas e desumanizadas por onde ao longo da minha vida passei. Salas pertença de ninguém e/mas de todos, que permaneciam imutáveis ano após ano, excepto na degradação de pinturas e vernizes.
Colocada um ano aqui, um ano ali, nunca tive hipótese de fazer diferente, excepto na Escola EB 2/3 de Amarante, com a criação da Sala de História do 3º Ciclo, de que fui grande impulsionadora num dado Verão em que chegada a Setembro ou Outubro, e já com as apresentações feitas aos "meus" alunos, fui parar à ESA e adeus trabalho iniciado. E ali permaneci, na ESA, durante quatro longos e conturbados anos.
Voltei no ano lectivo transacto a esta mesma Escola, finalmente com vínculo a este Agrupamento de Escolas de Amarante e encontrei a sala de História quase tal e qual como a tinha deixado. O projector de slides que eu doei à EB 2/3 estava no mesmíssimo sítio, o meu dossier com planificações de aulas e cópias de acetatos, carregado de pó, no mesmo sítio estava, o globo que o Magalhães comprara lá estava também.
Primeiro passo e urgente - limpeza geral e a fundo.
Segundo passo e urgente - humanização da sala e apetrechamento da mesma com um espólio que é meu e que aí restará em depósito pelo tempo em que eu permanecer nesta Escola, que por agora é casa minha.
E agora Anabela Maria? O que fazer a seguir para satisfazer uns dados alunos sócios do Clube de História, de espírito curioso que reagiram hiper-bem à criação de um Centro de Recursos desta mesma disciplina e que constantemente solicitam obras para lerem ou visionarem em casa?
Pois, é aqui que entram as parcerias. Os meus neurónios irrequietos pularam de excitação perante a ideia de solicitar doações de obras quer da Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, quer do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso e, se melhor pensei, melhor o fiz, enviando dois e-mails ao Presidente da Câmara, Dr. Armindo Abreu, que, gentilmente, respondeu de forma afirmativa aos meus pedidos e a quem agradeço a colaboração em meu nome pessoal, dos alunos e da Escola que represento. A primeira encomenda já está ao serviço dos alunos. A segunda, mais volumosa, vai a caminho e servirá de recheio precioso à Sala de História do 3º Ciclo da Escola EB 2/3 de Amarante pois hoje foi dia de aproveitar o sol radioso que por aqui se faz sentir e de reentrar no Museu para recolher a tão esperada encomenda de livros de arte sem fim. Pelo caminho agendei já uma palestra sobre a Vida e Obra de Amadeo, que ocorrerá nas instalações da EB 2/3, em data a combinar, mas que será sempre a uma sexta-feira, pelo último tempo da tarde. Aproveito para agradecer a todo o pessoal que faz parte do staff do Museu a disponibilidade, simpatia e bom acolhimento demonstrados em todas as ocasiões em que, com ou sem alunos, aí me desloquei.
As instituições locais têm de dar as mãos e de se enlaçar potenciando formas de intervenção responsável na Comunidade, Comunidade da qual fazemos parte integrante. Assim faremos. As sementes estão agora lançadas.
De resto, o caminho faz-se caminhando. De preferência com um sorriso rasgado de orelha a orelha pela consciência tranquila do trabalho encetado que continuará e que, espero, dará os seus frutos.
Depois de ter lido o post intitulado Parcerias, apeteceu-me desabafar e dizer que é com muita pena minha que no meu percurso, enquanto estudante, não tive o pri
ResponderEliminarvilégio de ter uma professora chamada Anabela Magalhães e que me fizesse amar a disciplina de História. Do que eu me lembro das minhas aulas de História é a imagem de uma professora sentada na sua secretária , de perna alçada durante toda a aula, a debitar factos históricos, datas e afins sem revelar qualquer paixão e entrega...e nós, ouvíamos a sua história por uns segundos, enquanto que na nossa cabeça a história era outra... Ainda bem que existes, amas o que fazes e o dizes...Quanto a mim, ainda bem que na minha vida profissional triste e ressabiada me cruzei com uma colega de nome Anabela Magalhães. Obrigada!!!
Quando li o post Parcerias lembrei-me imediatamente da Formação Educação Sexual na qual se abordaram as várias dimensões do tema ( não confundir com posições)e na qual se estabeleceram as verdadeiras parcerias, aquelas também ficarão na história... as que são feitas de afecto. Refiro-me aos momentos de boa disposição ( rir é o melhor remédio), à partilha de experiências pessoais, aos comentários, à discussão de ideias sem preconceitos, aos chocolates ...Bom, foi puro sexo tântrico em grupo! Acabo citando um colega que estimo, o professor Gabriel, « Sara, estou a ser chato?».
Bem Hajam
Sara Magalhães Gomes
Olá Sara! Que gosto ter-te aqui e logo num post de Educação.
ResponderEliminarSei bem desse sentimento face à História. É até muito vulgar, no sétimo ano, quando os alunos se pronunciam por escrito sobre a disciplina escreverem "Eu detestava História". Mais grave ainda "Eu odiava História". Tenho n desses depoimentos guardados que me deixam absolutamente horrorizada pois a disciplina de História é nuclear para a formação de seres pensantes e críticos.
Tenho a certeza que esta adesão ou rejeição passa muito por nós. Pela forma como comunicamos com eles, pela forma como nos entusiasmamos perante as matérias, pela paixão que colocamos no nosso dia-a-dia profissional. Eu amo ser professora. Foi a profissão que escolhi para mim, conscientemente, apesar de não perpectivar esta ligação íntima que estabeleci com ela à medida que os anos foram passando por mim. Hoje sou muito mais apaixonada por ela do que quando comecei.
Já o escrevi muitas vezes neste blogue - detestaria ser lembrada, enquanto professora, como tu te lembras da tua professora de História, alguém que debita sem paixão e sem envolvimento. Tal não faz parte integrante de mim. Não o conseguiria.
Daí muitos dos meus ex-alunos virem ter comigo e dizerem que têm saudades das minhas aulas. Acho que o segredo é esse - paixão, amor e dedicação pela função que se desempenha.
De resto foi como frequentámos o sexo... kakakakaka... que seria dele sem a chama da paixão?
Beijinhos, Sara, agradeço-te o comentário generoso e digo-te que é igualmente um prazer e um orgulho ter-te como colega, na EB 2/3 de Amarante, ok Escorpião?