sábado, 3 de outubro de 2009
Pequenas Coisas
Vénus de Vestonice (30 000-25 000 a. C.)
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Pequenas Coisas
Continuo empenhada em humanizar o mais possível a Sala de História da Escola EB 2/3 de Amarante.
Por um lado esta é a sala onde passo praticamente toda a semana em aulas, com excepção de um bloco de 90 minutos que lecciono à turma dos meus jardineiros e, por outro lado, esta é a Escola a que pertenço por inteiro, pois aqui efectivei no decurso deste último concurso, de tão má memória, em que efectivaram apenas um pouco mais de quatrocentos professores.
Continuo a afirmar o que já afirmei aqui variadíssimas vezes e que é a impressão profundamente negativa de entrar dentro de salas de aula, umas atrás das outras, sem que nada as distinga umas das outras, salas com chão, paredes, carteiras, cadeiras, um computador. Agora apetrechadas com projectores e quiçá quadros interactivos.
Continuo a afirmar que uma Escola deve organizar-se, se isso for fisicamente possível, em salas de aula atribuídas às várias disciplinas, tal como sempre aconteceu para os laboratórios de Química, por exemplo.
E continuo a afirmar que é uma tragédia a opção do ME em não efectivar o corpo docente de que realmente necessita, pois é fundamental para todos nós a criação de laços afectivos com o espaço onde nos movemos.
Laços que só podem ser criados por quem se sente pertença de um lugar, que também é um pouco seu, na medida em que, pela sua acção, o ajuda a construir a cada dia que passa.
Eu não sou um sujeito passivo, neste caso uma sujeita. Nunca fui, desde que me lembro. Gosto de actuar sobre as coisas, sobre o que me rodeia, procurando, simultâneamente, um equilíbrio nessa actuação que não abra fendas na paisagem que me envolve. É assim com os Meus Caminhos da Barca. É assim na Sala de História.
E eis que chego onde quero. Aos recursos que equiparão a Sala de História e a humanizarão mais e mais, a cada dia que passa, tornando a Sala um sítio prazenteiro onde os alunos amam estar, fundamental para uma aprendizagem harmoniosa.
Comprei a réplica da Vénus de Vestonice no Museu Nacional de Praga, onde o original se encontra exposto e onde me deliciei a fotografar peças que enriquecem agora as minhas apresentações em PowerPoint.
Sempre que viajo é minha preocupação trazer qualquer coisa que possa entusiasmar os meus alunos, que os possa deixar de olhos a brilhar dentro da sala de aulas e, por vezes, estas são até as minhas únicas compras e as minhas únicas "excentricidades" das viagens.
Pois a réplica da Vénus de Vestonice vinha dentro de um saquito plástico, sem interesse absolutamente nenhum e, vai daí, resolvi dar-lhe um alojamento condigno para poder figurar na Sala de História de forma não envergonhada.
Foi fácil. Para quem guarda tudo, e é recicladora como eu sou, foi até de caras.
Digitalizei a Vénus, imprimi-a numa folha A4 e cortei-a cuidadosamente adequando-a ao tubo dum frasco de champô antigo que eu tinha guardado a pensar "Um dia vais-me ser útil!".
Cortei uma película de folha transparente e auto-colante, um pouquinho maior na largura para que possa colar e fixar à superfície da lata, e colei as duas partes muito certinhas para não ganharem bolhas de ar.
E pronto, foi só colar tudo à lata de champô Babé que, finalmente, teve o merecido destino. Na Terça-Feira lá irá para o seu derradeiro poiso, na Sala de História da Escola E B 2/3 de Amarante.
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31 comentários:
Receita:
uma boa dose de amor pelo que se faz
um copo cheio de consciência cívica,
duas colheres de perfeccionismo,
uma pitada de criatividade
et voilá le miracle: uma sala aula humanizada.
Sempre achei que o percurso escolar dos alunos devia espelhar-se nas paredes das salas, da escola. E ainda não consegui vencer uma batalha antiga: um dicionário de Português em cada sala de aula.
E a tal questão da importância da opinião contrária, como dizes ali mais abaixo. Às vezes só mesmo da opinião diferente.:)
E que importante é um dicionário numa sala de aula! Penso que foi o primeiro livro que integrou esta sala, em tempos que já lá vão!
Com o tempo sofisticou-se... kakakakaka... e não ficará por aqui!
Mas para isto "apareça" feito, é imprescindível termos pessoas inteligentes à frente das escolas, que não matem as ideias a torto e a direito antes mesmo de elas verem a luz do dia. Ora como nós sabemos, Bugs, a mediocridade existe no meio de nós, e, quantas vezes!, assumiu lugares de chefia.
"Balha-nos deus balha!"
Engraçado Bugs, ando a pedir todos os anos, um dicionário de Português em todas as salas de aula... ainda não consegui, é que há prioridades! :(
Ora aqui estão várias coisas que nos aproximam...
Eu que também sou uma recolectora e que consequentemente reciclo tudo...lutei tempos infinitos por uma sala para os meus meninos e consegui! É pequenina mas original e muito boniiiiiiiiita.Ahhh e o dicionario de Portugês e 2 de Inglês também fazem parte do mobiliário. Levei um globo -iluminado- de casa, que era do meu filho e que nos ajuda a todos a situarmo-nos no mundo e nas nossas origens.
Outra coisa, Anabela, eu também uso produtos Babé ehehehe (Já experimentaste o 'Jabón de aceite' ou 'óleo de banho')? Não quero eu outra coisa:)
Parabéns Anabela! Estás no caminho e na profissão certa. Também gostava muito de ter uma sala humanizada!
E quem define as prioridades? Quem é? Pois é! Na ESA também não há dicionários nas salas de aula! :(
Mas havia computadores para os professores escreverem os sumários! A isto chamo eu começar a casa pelo telhado!
Ah! Na E.b.2/3 continuamos a escrever os sumários nos velhinhos livros de ponto. Mas temos salas de História, Salas de Geografia, Salas de Ciências... e todas muito bem apetrechadas e humanizadas.
E os nossos miúdos são, na generalidade, calmos e felizes que até dá gosto ver! A bota tem a ver com a perdigota? Mas é claro que tem!
Um dia destes dedico-lhes um post. :)
É uma questão de prioridades, não é, Dudú?
Kakakakaka... impossível conter as gargalhadas, Em@!
Jura?!
E agora gargalha tu, eheheh, eu também tenho globo na Sala de História, oferta do nosso Presidente à época, que os encontrou a bom preço e comprou para as salas de História e Geografia... exactamente para nos situarmos! Kakakakaka
É mesmo uma questão de prioridades...
E há prioridades que não fazem falta mesmo nenhuma!
Eu saltito de sala em sala, faz-se o possível para que uma turma tenha uma sala fixa. Palmilho degraus e mais degraus, sempre no 2º andar.
C'esta la vie...
Eu amo a minha profissão, Dudú! É uma das minhas alegrias diárias, ver as carinhas deles, entusismadas e sorridentes, dentro da sala de aula!
Vai daí só lhes posso tentar retribuir, como posso e sei, a felicidade diária que eles me dão.
Tenta aliciar a tua "presidenta" para um projecto destes...
É outra forma de organizar a coisa, mas, asseguro-te, muito vantajosa para ambas as partes - nós e eles!
Pelo que me é dado perceber parece que ela é uma pessoa capaz de se entusiasmar...
Essa é a organização da ESA, erradíssima, a meu ver! As salas são nuas e desumanizadas até dizer chega! Estão ali, mas também podiam estar acolá! Todos entram e saem sem verdadeiramente sentirem aqueles espaços como deles! Uma tristeza!
Sério!Mas este era meu. Ofereci-o a esta turma...
E na nossa 'feira intercultural' de há 2 anos, arranjámos dinheiro para um leitor de cd´s. Enerváva-me fazer todos os dias requisições para o mesmo e tinha comprado, a minhas expensas, um baratinho na Worten para deixar de me chatear...Um dia um aluno tropeçou no fio e escaqueirou o leitor :( Isto foi nas vésperas da feira. Decidiu-se em plenário de turma comprar um para substituir o outro,que depois ficará (assim como o globo e os livros que se forem comprando e fazendo) para os que vierem quando estes se forem embora.
Sabes que o Grupo de História da EB ainda tem dinheiro de uma célebre Feira Medieval que organizámos no Centro Histórico de Amarante? E isto depois de equipar as salas com todos os apetrechos tecnológicos à época?
Anabela,
Tempos de mudança...muita mudança, muito ps, percebes?
Também muito sress...
Se percebo, Dudú! Então eu não saí de um antro ps que espartilha o corpo docente até dizer chega?!
Por que pensas que mais de 50% do corpo docente saiu da ESA? :)
Lamento por ti! :(
stress... queria eu dizer!
Beijinho solidário Dudú!
Levanta a cabeça, enche o peito de ar, pinta um sorriso nos lábios (vermelho, de preferência) e enfenta-os!
Obrigada Em@!
Bjs
Ou enfrentaõs mesmo de cara lavada! :) E não te marafes, Milhé!
Olá, meninas.
Comi vírgulas e acentos no comentário lá de cima...
Corrijo: "faz," "É a tal..."
Pois, prioridades... e querer mostrar serviço... ou será mesmo querer mostrar quem manda?
A guerra voltou e, agora, não é com a MLR e seus muchachos.
Enquanto fui professora do 1º ciclo e da telescola, também comprava e levava as minhas coisas para a escola. Os orçamentos nem davam para o giz ou para o papel higiénico.
Quando passei à secundária deixei de levar coisas pois não tinha, nas salas, onde as deixar...
Tristeza!
Pois, Bugs! Que tristeza!
Na ESA também é assim em quase todas as salas, nuas, frias, impessoais.
Não é o caso da EB, com salas servidas por excelentes armários que vêm da construção original e ainda se aguentam de pé.
E aguentam-se muito bem!
Bugs:
Eu sei e compreendo bem essa desolação!Sabes como consegui um dos armários para a sala? Numa arrecadação. Foi recuperado en APInterdisciplinares e levado pelos alunos para a sala. Isto depois de andar a pedinchar vezes sem conta um...(nem se lembravam deste, partido e perdido.)
Estou a esticar-me no tempo!
Bôa nôte!
Fui...
É assim mesmo, Em@!
Água mole em pedra dura... kakakakaka
E bôa nôte, Dudú. Fica bem!
Que disparate escrevi!
Enfrenta-os!
Dudú:
Beijinho e 'amanda-te' a eles!
Excelente conselho, EM@!
Vou "amandar-me", mas sozinha, temo não resolver nada!
Tentar não custa, não é?
Dudú: Tenta 1º de mansinho, mas com alguma plateia. Servirás de exemplo e, depois, tenho a certeza de que haverá quem te siga...
Nós estaremos aqui para te servir de apoio no 'backstage'.
Beijinho.
Primeiro tenta aliciar uns quantos. Fazer ver as vantagens da coisa. E depois sugere. Pode ser que "cole". :)
Vai dando novas...
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