Fotografia de origem desconhecida
Fotografia de Eduardo Teixeira Pinto
Cortesia de Pedro Barros Pereira
Fotografias de autores desconhecidos na minha propriedade
No início da década de 30 viviam em Amarante três irmãos, nascidos aqui mesmo no burgo, chamados Ismael, Belchior e Rodrigo Pinto de Queiroz, que resolveram comprar um? bilhete de lotaria no quiosque do Sr. Francisco José Monteiro, situado em plena Praça de S. Gonçalo, oficialmente chamada Praça da República.
E, espanto!, não é que lhes saiu mesmo a lotaria? Quinze contos no total, diz o meu pai, eram três irmãos... deu a módica quantia de cinco contos para cada um.
O que fazer com o vil metal? Estourar? Derreter? Esbanjar? Não, decididamente seria para investir na compra de um carro Ford V8, de matrícula N-10355 e um ? de matrícula N-16477, os famosos calças arregaçadas de que já falei neste blogue e dos quais o meu pai se lembra muito bem. Assim nascia o negócio dos carros de praça, na Praça de S. Gonçalo, montado pelos três irmãos Pinto de Queiroz, o Ismael, o Belchior e o Rodrigo, para os nomear do mais velho para o mais novo.
Os calças arregaçadas viriam a ser substituídos mais tarde pelos Ford Prefect, de matrícula AE-11-18 e IL-10-76 e foram exactamente estes carros os tais que viriam a ser alterados no tempo da 2ª Guerra Mundial e que circularam movidos a gasogénio, alterações efectuadas nas Oficinas do Alberto Marinho que ainda existiam quando eu era miúda e ocupavam o espaço agora do Edifício Navarras, no Arquinho.
Para além deste negócio, os três irmãos alugaram uma loja em pleno largo, no edifício que posteriormente viria a albergar o Café-Bar. Este edifício tinha, e tem, sete enormes portas viradas para o Largo. À data, as duas primeiras portas a contar da direita para a esquerda eram pertença da D. Aninhas, que aí mantinha um negócio de fazendas e retrosaria e aí vivia com os seus quatro filhos, um deles o Arturinho de Mancelos que viria a continuar mais tarde o negócio da sua mãe. Na terceira porta, sempre a contar da direita para a esquerda, o meu avô e tios-avós viriam a abrir um negócio de pneus, óleos e baterias de apoio aos seus próprios automóveis e de apoio aos automóveis que por aqui já existiam no burgo, propriedade das famílias mais abastadas da região - Dr. António Lago Cerqueira, Visconde da Granja, Sr. Moura Basto, Dr. Mário Monterroso, Capitão Laboriz, Dr. Joaquim Teixeira de Vasconcelos, mais conhecido por Teixeira de Pascoaes... que mais tarde deixaria de conduzir.
Na quarta e quinta porta, sempre a contar da direita para a esquerda, funcionava, à época da abertura da loja dos pneus, uma agência de viagens... eheheh... parece impossível mas, a acreditar nas memórias do meu primo Luís Queiroz, essa é a mais pura das verdades. Nas duas últimas portas da esquerda funcionava a mercearia do sr. Cardoso que ocupava igualmente todas as portas do edifício na sua parte voltada para a rua 5 de Outubro.
O Café-Bar abriu portas por volta de 1935, na dependência do que antes era a agência de viagens e a loja dos óleos, pneus e baterias, que entretanto encerrou ficando a mercadoria em stock distribuída pelas casas dos três irmãos. Ocupava, originalmente, três portas.
Como era muito negócio junto, e isso requeria investimento de capital, que rareava à época, tal como hoje, o meu avô pediu emprestados vinte contos, ou vinte mil escudos para quem não está familiarizado com esta terminologia dos "contos", ao senhor Vitorino do Correio, feitor das terras propriedade da família Taveira de Carvalho, da Casa do Correio, localizada junto ao antigo Colégio de S. Gonçalo onde agora funciona, entre outras coisas, o Spark e, com esse dinheiro, os irmãos montaram o Café-Bar. Pelo início da década de 50 os sócios expandiram o negócio e o café passou a ocupar as duas últimas portas da esquerda, ficando com a configuração visivel na espantosa fotografia do Sr. Eduardo Teixeira Pinto.
E assim os negócios iam progredindo, também os dos carros de praça, na tranquilidade de uma vila provinciana até dizer chega, como era Amarante à época, estamos já no início da década de cinquenta em que os carros de praça da família seriam, a juntar aos dois Prefect pretos mais antigos, um Citroen "arrastadeira" de cor café com leite, matrícula II-10-96, comprado em segunda mão ao sr. Aníbal Melo e Castro e um Ford 100 cavalos, matrícula AH-11-69 de cor marron. Posteriormente compraram outro Ford 100 cavalos de cor azul claro de que não possuo qualquer registo fotográfico. Mais tarde, já nos finais dos anos 50, os sócios venderam o Ford azul claro dando-o em troca pelo Ford Vedette de cor verde escuro. Os últimos carros de praça adquiridos foram um Mercedes Benz -180, conhecido por "Matateu", e um Mercedes Benz 220, primeiros carros a que foram impostas as maravilhosas cores dos carros de praça da minha infância, que ainda hoje recordo com saudade, bicolores, pretos na parte de baixo com os tejadilhos a verde.
E pronto, aqui está o que consegui apurei por hoje. Se alguém quiser acrescentar alguma informação, agradeço desde já que ma envie para os comentários ou para o meu mail - anabelapmatias@gmail.com.
Nota - Estou deveras agradecida ao meu pai e ao meu primo Luis Queirós pelas memórias, frescas, sem as quais este post não seria feito e não veria a luz do dia.
Uma história de Amarante que amei ler.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, Amiga!
Eu sabia que ias gostar... eheheh...
ResponderEliminarAndo em escavações arqueológicas antes que estas informações se percam.
Beijocas, Comandante!
Ora viva sra. dra!
ResponderEliminarFoi com muito prazer que "entrei" por este modelo de post do Anabela.
Estamos perante uma historiadora que denota espírito minucioso e de rigor.
Palavras para quê?!...é um óptimo contributo para a história Amarantina.
Este modelo de post por vezes surge no Anabela Magalhães. Ultimamente ando saturada de política... vai daí... escavo... junto do meu pai e ele escava junto dos seus amigos.
ResponderEliminarAinda vou fazer do meu pai blogger... eheheh...
Obrigada, Hélio!
Olá Anabela, adorei os teus posts e quero dizer-te que também eu tenho origens em Amarante, mais precisamente em Mancelos, Santão. Sou da familia Campo Grande e também ando em "escavações arqueologicas"... tudo para que estas histórias não se percam!!!
ResponderEliminarObrigada, Ana Campo Grande
Gosto muito!! :)
ResponderEliminarGuarda-a. É também a história do teu bisavô.
ResponderEliminarBeijocas e obrigada por passares por aqui, sobrinha minha!
Obrigada, Ana Campo Grande! Continuemos a registar as memórias...
ResponderEliminarbeijinhos