segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cursos de Educação e Formação - CEF

Cursos de Educação e Formação - CEF

Hoje volto aos meus CEF para esclarecer alguns pontos mal esclarecidos, ao que parece, sobre o que eu digo e o que eu escrevo sobre os meus alunos dos CEF.
A história conta-se em duas penadas.
Hora do lanche, sala de professores da EB 2/3 de Amarante. A minha Inês sobe as escadas e entrega-me uma cesta cheiinha de pão acabado de cozer com um aspecto de morrer e chorar por mais e um calor e cheirinho que foi subindo até às minhas narinas e me deixou com vontade de o abocanhar de imediato. Agradeci-lhe a gentileza e o cuidado, gentileza e cuidado previamente solicitados por mim a esta turma e respectivo professor de Padaria. Gosto destes mimos que nos aconchegam os dias e lembrei-me que seria agradável alargá-los aos meus colegas de lanche, um dia destes, de surpresa... e pronto, a surpresa surprendeu-nos hoje mesmo. Confesso que esta estratégia de aproximação é também uma forma consciente, da minha parte, de tentar quebrar alguns mitos urbanos associados a estes alunos.
Pousei o cesto no balcão e ofereci o pão aos presentes em nome dos meus alunos de Padaria/Pastelaria acompanhado de um sincero "Pena que o Ramiro Marques não esteja aqui para verificar, ao vivo, que os alunos de CEF não são todos uns cancros."
Confesso que esta expressão "cancro", utilizada pelo Ramiro há uns bons dois anos, em post sobre o assunto, me chocou pela generalização abusiva aos alunos dos CEF que, tal como todos os outros, são indivíduos merecedores do nosso respeito até prova em contrário. E o Ramiro sabe disto, deste meu desagrado. E sabe que eu sei que a sua experiência com alunos de CEF é igual a zero e que, para emitir a opinião que emitiu, teve de emprenhar pelos ouvidos.
Pelos ouvidos emprenhou também uma colega que estava na sala de professores, Olá A!, que me acusou, de imediato, de dourar a pílula acerca dos alunos dos CEF e dar deles uma imagem que está longe da realidade, o que eu contestei de imediato e à minha questão "Que experiência tens de alunos dos CEF?" a resposta foi zero de experiência, tal como eu esperava.
Há um mito urbano, muito difundido entre os professores que nunca leccionaram turmas de electricistas, carpinteiros, serralheiros, empregados de mesa, padeiros/pasteleiros, jardineiros e auxiliares de geriatria, como é o meu caso, de generalizarem tudo e meterem tudo no mesmo saco apoiando-se nuns "disseram-me" e nuns "ouvi dizer". Confesso que para mim isto vale o que vale e não vale muito porque se eu emprenhasse pelos ouvidos jamais teria visitado Marrocos já que, antes de o visitar pela primeira vez, no já muito longínquo ano de 1990, ouvi de viva voz por quem acabara quase de chegar que aquilo era muiiito perigoso e muiiiito porco e muiiito mal cheiroso e muiiito inseguro e patati e patatá.
Devo amar sítios muiiito perigosos, muiiito porcos, muiito mal cheirosos e muiito inseguros porque desde aí só falhei 1991 e 2010, com anos de 3 colheitas ao país assustador do Sul.
Posto isto vou fazer uns pontos da situação, clarificando o meu pensamento, construído sobre a minha própria experiência com alunos de CEF desde 2004, sem interrupção.
Ponto Um - As turmas dos CEF são, na generalidade, turmas bem mais complicadas e complexas do que as turmas ditas normais. Por vezes muitíssimo mais complicadas mesmo, e já me aconteceu trabalhar com uma que só não me levou a consultas de psiquiatria porque eu sou mentalmente muito resistente - faço referência a esta turma aqui, muito embora muito ao de leve.
Ponto dois - Por vezes, turmas complicadas e difíceis têm comportamentos exemplares, como este aqui, ou este aqui... e outras vezes não, como este aqui.
Ponto três - Também já me aconteceu ter uma turma de CEF que poderia ser uma vulgar turma de alunos de um 9º ano dito normal e da qual deixei rasto aqui.
Ponto quatro - Exijo-lhes trabalho, tal como a todos os meus outros alunos, que eu não gosto de discriminar ninguém, e desta exigência deixei testemunho aqui.
Ponto Cinco - Para aprofundarem o meu pensamento sobre os CEF, construído com base na minha experiência, podem clicar aqui.
Ponto seis - Cito-me a mim própria:
"Falo do que sei. Falo da minha realidade. Da minha realidade em salas com empregados de mesa, carpinteiros, electricistas, carpinteiros, jardineiros, padeiros e pasteleiros. Da minha realidade muito trabalhosa, para quem não queima o ano a passar-lhes filmes, da minha realidade sem manuais, com alunos, por vezes, muito difíceis, por vezes mesmo incrivelmente difíceis e outras vezes não.
A realidade dos outros não a vivenciei e por isso não a posso testemunhar.
Falo do que sei. E tenho dito."
Citação retirada daqui.
Ponto sete - É claro que podem sempre clicar na etiqueta "CEFs" e mergulhar em posts sobre esta realidade que já virou mito urbano em todas as salas de professores por onde eu passei desde 2004, sem excepção.

Ponto oito - Conclusões

- Há CEFs e CEFs, tal como eu sempre afirmei.
- A minha realidade é a minha realidade e a minha realidade pode não ser a do professor do lado, mesmo que com os mesmísssimos alunos. Muito menos poderá ser estendida e generalizada a todas as turmas de CEF que por este país abundam, como eu sempre afirmei.
- Por último... eles têm dias. Uns dias melhores, outros piores. Como eu sempre afirmei.

Mas a mim também me ocorre acontecer-me o mesmo...

20 comentários:

  1. Olá Amiga:

    Subscrevo na íntegra todas as considerações que teces sobre os CEF's.
    Sabes que também sei do que falo...
    Esta semana zanguei-me com os meus electricistas e disse-lhes: na vossa Freguesia conhecem algum electricista desempregado?
    - Resposta geral: "Não..."; "Nunca tínhamos pensado nisso..."
    Portugal tem falta de quadros médios, oriundos de cursos CEF's e Profissionais!
    São grupos difíceis pois criou-se o estereótipo geral de que todos os alunos problemáticas tem perfil CEF e claro, cria-se um caldo grupal complicado...
    O que falha quanto a mim, é todos os alunos médios bons terem que prosseguir estudos e todos os meus terem que ser CEF's...
    Mas sei que tu e eu e muitos colegas por esse País fora, dizemos muitas vezes: "Porra deu muito trabalho, fiquei mais careca, mas valeu a pena salvar um ser humano, criar um profissional, educar para o saber estar, combater o abandono com fórmulas de ensino alternativo...
    Os problemas dos alunos problemáticos, passe a redundância, não são intrínsecos aos alunos, mas fruto de problemas que a escola generalista tem que conviver... por isso, considero os rankings ridículos...
    Eu e tu estivemos na ESA onde se trabalha muito este tipo de ensino e há grandes resultados, salvam-se muitas vidas, da miséria humana!
    Mas há pessoas que ainda vêm a escola actual, como aquela em que fomos criados: só as elites podiam estudar...
    Da Escola Primária de Louredo (da minha turma), só eu e dois ou três prosseguiram estudos... nós não tinhamos que ser beneficiados, todos temos que ter uma oportunidade, seja quem for!
    Parabéns por desafiares os teus alunos a mostrarem o fruto do seu trabalho... tenho a certeza que tiveste mais do que um prazer na degustação desse pão, que não foi amassado por diabos, mas por gente!

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  2. Obrigada pelo teu testemunho, Helder, longo e precioso, de quem já sentiu na pele a dificuldade de leccionar estes cursos. Não só a dificuldade dentro da sala de aula, mas também a dificuldade sentida na sala de professores com bocas de incompreensão, às vezes só em olhares de lado como se nós fôssemos uma qualquer peste.
    Eu e tu somos gente, não somos? E a Teresa Mafalda e a Maria Almeida e a Susana Dias e a Cristina Afonso... e tantos tantos outros neste país que damos o litro para levar estes miúdos e miúdas a bom porto e que muitas vezes temos êxito... e outras vezes não.
    E eles também são gente, os nossos alunos de CEF. Orgulho-me de ser professora deles... muito embora não queira repetir o ano dos cinco... kakakakaka...
    Beijinhos, Helder, e agradeço-te do coração o teu testemunho.
    Ah! Consolei-me com o pão. Eu e mais uns quantos felizardos que o experimentaram...

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  3. Olá Anabela,
    Li com muita atenção o teu post sobre os Teus "nossos" meninos do CEF.
    Concordo plenamente com o que dizes. Sabes tão bem oiu melhor do que eu, que muitas das vezes olha-se para estes meninos de uma forma diferente, quando eles são iguais em todos os aspectos a todos os outros que pelas nossas mãos passam.
    Mas o que mais entristesse, é que esses comentários, vem de pessoas que não lidam com eles de perto.
    Acredita que eu tenho orgulho em poder trabalhar de perto com dois dos teus meninos e podes acreditar também que eles fazem-me SER mais.
    Como já disse anteriormente, se há alunos que nos fazem repensar a vida, estes são alguns deles.
    De certeza absoluta, do nosso CEF, vão sair grandes homens e grandes mulheres e tu serás a principal responsável por essa grandeza.
    Continuação de um excelente trabalho.
    Um grande beijinho
    Serafim Files

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  4. Só quem lida com eles é que sabe quanto enriquecedor é isto mesmo. Ao mesmo tempo é um desafio do catano! E tu bem sabes o quanto eu amo os desafios, Files, as lutas que eles, frequentemente, me dão.
    Eu gosto deles. Tanto quanto gosto dos outros. E respeito-os. Por norma eles correspondem-me em tudo. Mesmo se lhes exijo trabalho... o que acontece na esmagadora maioria das minhas aulas. Claro que esta é a minha experiência e não pretende ser mais do que isso.
    Obrigada pelo teu , que é de alguém que conhece alguns deles bem de perto, muito embora não sendo deste conselho de turma.
    Ah! Pena não teres experimentado o pão deles... huuuum... que maravilha!
    Beijocas

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  5. Olá boa noite Anabela,sabes muito bem que quando o tema é CEF, cá estou eu!!!Pois bem, eu, como tu e muitos outros "corajosos", "líricos" como nos chamam, temos muuuuiiiitttaaaa experiência com estes alunos, que nos desafiam diariamente e nos dão alegrias também diariamente!São seres humanos com problemas, com vidas complicadas, mas com um carácter e um sentido de justiça inigualáveis!Sim, têm dias que nos transtornam, fazem desesperar, mas esses são superados com um "desculpe, stora", com uma conquista numa sala de aula e, principalmente num emprego!
    Nunca estes alunos nos deixaram ficar mal nas empresas, nunca eles nos desrespeitaram quando os advertimos mais energicamente e lhes provamos que não têm razão!!Sei do que falo!!!Lido com eles há cinco anos e ainda não me arrependi!!Detesto que as pessoas falem deles como bichos raros, sobretudo aqueles que NUNCA com eles privaram!!É vergonhoso!!Diariamente os pais deles me dizem que lamentam não os terem colocado mais cedo nesses cursos, que eles andam animados, que os seus filhos afinal até têm valor, que não são tão fracos como sempre lhes disseram!!Pois é disto que nós vivemos, destas alegrias!!Quanto ao resto...esquece...dos fracos e derrotistas não reza a história!!
    Ora a nossa, agora tua, Inês, que nós sabemos bem o quanto mudou para melhor desde que integrou o curso de pastelaria e tantos outros meninos que estão nos CEF!!É desses que reza a história!!Parabéns e continuação de bom trabalho com eles!!
    Que inveja do pão quentinho!!Os meus são Carpinteiros, Electricistas e Serralheiros, mas fazem trabalhos muito bons nestas áreas!!
    Beijinhos.

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  6. Miga Ana bel uska,
    tal como o Hélder subscrevo na integra todos os pontos que formulaste no que diz respeito às turmas de CEF's. Há turmas e turmas, assim como há marinheiros e marinheiros,
    Nós que estamos habituados a trabalhar com alunos pouco normalizados , damos bastante do nosso cabedal ,mas ganhamos também muito em termos de afectividade e de orgulho, não é? orgulho do bom.
    ainda hoje, um ex-aluno CEF me veio montar umas estantes para cd's que ficaram um mimo. ninguém dava nada pelo Fernando...e nem imaginas como eu fique, inchada de orgulho, quando ele no fim do trabalho me chamou (ainda por professora) para ver se o trabalho dele me agradava. e quando eu o elogiei, sabes que resposta ele me deu? fiz para si como faço para mim...não era assim que a professora dizia? eu não queria uma estante mal amanhada lá em casa, portanto , muito menos para si.ganhei o dia Miga.fiquei tão mas tão orgulhosa do meu Fernando, que volta e meia lá vou dar uma mirada nas estantes.
    cancros??? nãaaaaaaaaaaaa - até me arrepia ouvir este termo!
    beijo, Miga e continuemos a lutar pelos nossos CEF'S , pelos verdadeiros Currículos Alternativos e o resto são verbos de encher.
    gosto-te bué! já te tinha dito, não tinha?
    beijo-te, com carinho, no coração ...de escorpião eheheh

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  7. Olá,Anabela

    como é possível que a nossa amizade já só seja virtual?Email's para cá e para lá...e mais nada.!?!
    Nem ao menos uma smsezinha para eu ir a correr do Colégio até à tua escola para provar o pãozinho "acabado de cozer com um aspecto de morrer e chorar por mais"?Ou acharás tu que náááá!pãozinho com a Rosa Maria é só na Boulangerie de Paris? Pois terei muito gosto em provar o pãozinho.
    Alunos difíceis existem em todo o lado.Alunos difíceis mas que nos surpreendem sempre,mesmo quando menos esperamosEscusado será generalizar.Escusado será também dar assim tanta importância a opiniões baseadas num "disseram-me" ou num "ouvi dizer".Valem zero essas opiniões.
    Beijinho
    Rosa Maria

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  8. Falamos a mesmíssima linguagem, Teresa Mafalda, meu 112 em tantas e tantas situações difíceis que jamais esquecerei. O nosso trabalho vê-se, nesta simpatia de gesto de oferta de pão. É apenas um gesto simbólico... para ajudar a acabar com os mitos urbanos...
    Tanto trabalho durante todos estes anos... não foi/não é, Teresa Mafalda?
    Se valeu/vale a pena? Mas é claro que sim. Basta vê-los a atravessarem a rua, de sorriso rasgado, aos exs, agora já a trabalhar cá ou pelo estrangeiro, basta vê-los bem...
    Beijocas, Linda, com muitas saudadinhas tuas e dos nossos serões com magia... kakakakaka...

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  9. Orgulho do bom, dizes bem Em@! Nós professores destes cursos, com uma experiência de anos feita, que não os rejeitamos, pelo contrário, sabemos o quão saborosa é a palavra vitória. Porque os há assim e assado, porque os há fáceis e difíceis, porque eles não podem ser catalogados de "cancros" e afins. A esmagadora maioria deles não são casos perdidos e aguardam apenas que alguém lhes deite a mão.
    Também estive há pouco tempo com um meu electricista, que está a trabalhar no ramo... pareceu-me bem e feliz, sempre sorridente a conversar comigo... é sempre um prazer revê-los e ver que esta Escola também foi capaz de fazer alguma coisa por eles.
    Beijocas, Em@! E obrigada pelo teu depoimento!

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  10. Ah! Sabes que eu também te gosto bué!
    Quando nos voltaremos a encontrar?
    :)

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  11. Amizade virtual a nossa, Rosa Maria? Mas náaaaaaa... nem penses!
    E olha, tiveste falta no café e vais ter de apresentar atestado médico... kakakakaka...
    É certo que estas opiniões valem o que valem, mas também é certo que estão mais do que generalizadas... para o bem e para o mal.
    Vê o meu caso - Estou há dois anos na EB 2/3, com CEFs e o único problemazito disciplinar que tive dentro da sala de aula foi numa turma de 8º, dita normal...
    É por isso que eu não gosto de generalizações.... excepto quando me refiro aos políticos da treta.... apenas porque eles o são. A maioria, bem entendido... até aqui deverá haver excepções.... mas cadê?
    Beijocas, Linda!

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  12. Saltei os comentários e li o poste na diagonal, por isso cá voltarei com mais tempo.
    Por agora, fico-me por isto:
    Ele há CEFs e CEFs. Ele há dias e dias, que todos temos. E ele há professores e professores.

    Professora de Português, por agora sem experiência no assunto, e mãe de um aluno de CEF.
    jinhos

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  13. Aguardamos a tua contribuição para o debate, Elsa, que, por certo, será preciosa!
    É que tu tens outra perspectiva da coisa, deveras importante, por sinal!
    Beijocas

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  14. No comentário ao Files comi uma palavra inteira... bolas, faltou-me o "testemunho"!

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  15. Olá Elenáro! Muito obrigada por deixares aqui o teu testemunho.
    É certo que o mundo não se resume a preto e branco, a luz e sombra, não é assim? Felizmente está cheio de cambiantes coloridos...
    Beijinhos! A luta continua!

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  16. Pois aqui me tens apesar de atrasada! Sabes que partilhamos o mesmo olhar sobre estes alunos, a mesma atitude na forma como nos relacionamos diariamente com eles, que extravasa em muito a sala de aula. Subscrevo integralmente as tuas palavras até porque experienciamos situações similares no percurso que, desde 2004, trilhamos com este público alvo.
    Trabalho com Cef’s por opção pois, na qualidade de QA e na mesma escola há quinze anos, ser-me-ia muito fácil não os ter! Porque o faço? Porque não viro a cara às dificuldades e porque, embora não sendo católica, pauto a minha actuação por valores humanistas. Estes alunos são SERES HUMANOS para quem, na sua maioria, a vida lhes foi madrasta desde que a ela chegaram. Muitos lutam diariamente pela sobrevivência económica e social. Passam fome, maus tratos e abusos físicos e psicológicos. Sofrem de exclusão social e, mais grave, de exclusão escolar resultado do preconceito assente na figura da marginalidade que lhes é imediatamente associada por muitos dos nossos colegas.
    Não estou a dourar a pílula porque, na realidade, são turmas difíceis que nos provocam muito desgaste emocional se com eles nos envolvermos num trabalho sério e rigoroso. Não é fácil chegar-lhes no início dos cursos. É um desafio diário, com avanços e recuos. Mas quando percebem que se trabalha para eles e apenas se lhes exige o mesmo, compreendem que são respeitados e que nos preocupamos com o seu percurso pessoal e social. Não pode haver cedências nem condescendência mas uma actuação assertiva. A Equipa Formativa coesa, com critérios uniformes e objectivos comuns é de suma importância. Tenho o privilégio de trabalhar assim.
    A maior recompensa é vê-los crescer ao nível das competências sociais e das competências profissionais o que se traduz numa quase total inserção no mercado de trabalho nas respectivas áreas profissionais. Há até cursos em que a procura por parte das entidades empregadoras é superior à oferta!
    E eu, mera professoreca, sinto-me feliz por ter contribuído para isso :)
    Eu sei… era mais fácil passar-lhes filmes e chamar-lhes alarvidades. Mas isso fica para os professores excelentes que não os querem.

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  17. Maria Almeida, vens atrasada... mas vens certeira.
    Subscrevo todas as tuas palavras, bem o sabes. Falamos a mesma linguagem e sabemos bem do que falamos. Se eu pudesse também não me furtaria a esta responsabilidade, sem dúvida acrescida, acrescida para todos nós que com eles trabalhamos.
    Obrigada pelo teu testemunho.
    Beijinhos e votos de continuação excelente trabalho! Neste caso, com CEFs.

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  18. Olá Anabela.
    O 1º ano do resto das nossas vidas a trabalhar com alunos de CEF, já quase se perdeu no tempo mas, com certeza, nenhuma de nós o esquecerá! Foi com aquele grupo sui generis, de raparigas a transformarem-se em mulheres, que nos confrontamos com uma realidade educativa e social um pouco à margem numa escola que procurava conquistar, na altura, o estatuto de "escola inclusiva". Foi um grupo inesquecível por muitas razões que não interessam agora, aqui. Aprendi com aquelas alunas de Geriatria, a olhar para dentro daquelas vidas e a perceber a realidade frágil de muitas famílias. Muitas delas navegavam um pouco ao sabor da maré, a crescer sozinhas,perto do naufrágio. Creio que ganhei algumas amizades "para a vida", relações que guardo com carinho. Dos CEF´s saltei para os Profissionais e a vida continua a ser difícil e há dias melhores e dias piores. E, com o nosso apoio e cumplicidade no seu crescimento, eles irão encontrar o seu caminho.
    Mas outros não, outros ficarão pelo caminho. Mas, creio, que os seus professores terão a consciência tranquila por terem lutado por eles.Esses professores que estiveram lá, não aqueles que " ouviram dizer". Destes não reza a história.A história aqui tem que ser contada na 1ª pessoa.
    Bjokas. E até um destes dias no "nosso café"

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  19. Dizes bem, Susana, a história tem que ser contada na primeira pessoa porque vivenciada na primeira pessoa. Pois ainda me lembro delas... a cada passo... eu a entrar na sala de aula e elas viradas para mim, num coro "Oh professora, hoje não não vamos dar aula! Hoje vamos falar de sexo"... e eu "Vocês não estão boas, por certo..." E elas a voltarem à carga "Professora, é melhor falarmos de sexo ou ainda acabamos todas como a Tanicha", a Tanicha... a nossa adolescente mais do que grávida dentro da sala de aula...
    Só me restou sentar-me, respirar fundo "Ok! Vamos lá... o que é que vocês querem saber?" e a conversa lá correu, fluída...eu a tentar responder-lhes às dúvidas... tantas...
    Que experiência, Susana! Vivemos juntas esta experiência, tu com responsabilidades acrescidas como directora de turma.
    São turmas difíceis, de facto, mas de uma riqueza afectiva que não se compara a nenhuma outra experiência educativa. Acho que as dificuldades nos aproximam deles e eles aproximam-se de nós por esta via. É como diz a Maria Eulália "O remédio é amar..."
    Ah! Muito eu gostava de ter uma cópia do documento por elas escrito para nós, que foi lido alto e bom som no jantar, no final do ano...
    Beijinhos, Susana, e sim, temos de nos encontrar para um café!

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