sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Casa Pinto - Um Exemplo Exemplar


De Costas para a Planície - Pátio da Casa Pinto - Monsaraz
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Casa Pinto - Um Exemplo Exemplar

Encontrei a casa por acaso. Não que Monsaraz seja enorme, bem pelo contrário, e é até altamente improvável ir a Monsaraz sem dar pela sua presença, apesar de muito discreta, alinhada no casario medieval da Bela Monsaraz.
Mas naquele fim de tarde de errância, eu mais o outro A, o A que me acompanha os dias há trinta e quatro anos, caminhávamos lentamente, vindos do castelo, debaixo de um sol inclemente que, apesar da hora tardia, brilhava ainda a bom brilhar sobre a plenitude da planície observada e o artificial lago do Alqueva, quando a vi.
O exterior da casa, alvíssima, como de resto o são todas as casas em Monsaraz, só se distingue pela placa discreta, em ferro forjado, que pende junto à porta - Casa Pinto - Turismo Rural.
Ora nem é cedo nem é tarde, pensei eu com os meus botões, está mais do que na hora de parar por hoje e esta Monsaraz é por certo o local ideal e vai daí toca de bater à porta para sondar da existência de um duplo.
Pois havia, disse-me o espanhol alto, elegante e bem parecido, que me flanqueou a entrada naquela casa arranjada com tanto esmero, bom gosto e dedicação. E logo que subi ao piso superior, e comecei a percorrer aqueles poucos quartos temáticos, que eles só são cinco ao todo e eu não os espreitei a todos por alguns estarem ocupados, fiquei rendida ao espaço charmoso e esmerado e, talvez para acabar de vez com as hesitações, que por acaso já não existiam que eu e elas não nos damos muito bem, o espanhol mostrou-me, rodeado pelas telhas dos telhados do coração do burgo velho, um pátio árabe, por certo árabe, com vistas a morrer na planície longínqua, onde o sol, por mais que teimasse em brilhar, não tardaria a morrer por mais uma breve noite. Absolutamente rendida, pois então, lá fiquei, não sozinha, pelo aconchego de um quarto agradabilíssimo, com janelas abertas sobre o empedrado de xisto da calçada e a igreja matriz. Um sossego. Uma delícia.

De manhã acordei com o alvoroço da passarada,... queres ver que estou num riad em plena medina de Fez? Não, afinal não, não estou... que o alvoroço por aqui é mais delicado, contido e miudinho, e faz mais o género de certas manhãs aqui mesmo em casa...que eu sei o que é habitar um centro histórico... ai maravilha acordar assim, sem horários e sem objectivos a cumprir, apenas aqueles que se vão ajustando ao caminho já percorrido e agora se fôssemos ver o cromeleque de Xerez, que é aqui tão pertinho.... e lá vamos nós...

O pequeno-almoço, tomado num pequenino pátio interior, sombreado e fresco, decorreu sem mácula - excelente pão, excelentes compotas, uma mista divinal com os cantinhos todos seladinhos ai, ai, ai, leite, café, ai o cheiro do café acabado de fazer logo pela manhã!, sumo de laranja de laranja mesmo, que nunca percebi a parvoeira de colocarem jarros com porcarias doces como o raio que as parta, de qualquer coisa que dizem ser sumo e é tudo menos isso, pelos hotéis de meia tigela que por aí andam a despachar turistada.
Pois conversei com aqueles dois hoteleiros amigos, de Barcelona, gente viajada e culta, que um dia chegou Monsaraz e apaixonou-se pela calmaria e pela alvura do sítio, que é, francamente, especial. Muito especial.
Meteram mãos ao trabalho e abriram a casa Pinto há apenas um mês, que eu vos recomendo entusiasmadamente. Dali podem até partir de barco à vela, pela albufeira do Alqueva adentro, que ela é já ali, e transformou Monsaraz numa terra ribeirinha.
E excelente estadia.

E este é mais um exemplo do que se pode fazer pelo interior. Neste caso feito por dois catalães simpatiquíssimos, a quem eu desejo toda a sorte que merecem e que espero rever num tempo muito próximo.
Até lá!
E termino, por hoje, partilhando com os meus leitores um excelente vídeo retirado do tubes, da Casa Pinto, pois então!
E ainda podem visitar aqui o seu sítio, usufruindo desta coisa maravilhosa que pode ser a Net.


2 comentários:

Passageira disse...

Maravilhoso. Portugal tem verdadeiros paraisos escondidos :)
Adorei a forma como descreveu tudo.

Anabela Magalhães disse...

É certo que Portugal tem pequenas jóias escondidas num país disfuncional.
Obrigada, Sara, e votos de excelente fim-de-semana!
Beijinhos

 
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